Já é consenso que as crianças não devem ser expostas a mais do que duas horas por dia às mídias eletrônicas, e isso inclui não só a TV, mas também videogames, DVDs e o uso do celular e computador para atividades não escolares.
Sabe-se que as crianças que passam desse limite têm mais chance de apresentar comportamento violento, início precoce da vida sexual, transtornos alimentares, obesidade, assim como maior risco de consumir álcool e cigarro.
A literatura científica reconhece que o nível de exposição das crianças às mídias eletrônicas também está associado a problemas de atenção, como é o caso do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que pode levar a um maior risco de comportamento agressivo e prejuízo do desempenho escolar.
Essa associação já havia sido bem demonstrada no caso da TV e uma pesquisa recém-publicada pelo periódico oficial da Academia Americana de Pediatria – Pediatrics – demonstrou que o excesso do uso de videogame também pode contribuir para dificuldades de atenção entre as crianças.
Cerca de 1300 crianças americanas com idades entre seis e doze anos (média:9.6 anos) foram estudadas por um período de 13 meses. Tanto as crianças como seus pais eram interrrogados periodicamente quanto ao tempo que se dedicavam à TV e ao videogame. Os professores dessas crianças também eram interrogados quanto ao grau de dificuldade de atenção das crianças na sala de aula através de três perguntas:
1- A criança tem dificuldade de se manter concentrada na tarefa?;
2- A criança tem dificuldade em prestar atenção? ;
3- A criança atrapalha o trabalho das outras?.
Foi acompanhado também um grupo de 210 adolescentes e adultos jovens e estes eram interrogados quanto ao tempo de exposição à TV e ao videogame, além de suas queixas de atenção. Os resultados apontaram que altos níveis de exposição à TV assim como ao videogame aumenta a chance das crianças apresentarem problemas de atenção. Essa relação estava presente com a mesma magnitude tanto nas crianças quanto nos adolescentes e adultos jovens, e não houve diferença entre os sexos em ambos os grupos.
Uma das hipóteses para explicar esses resultados é o fato do conteúdo da TV e dos videogames serem tão excitantes que as crianças teriam mais dificuldade em se sentirem atraídas por outras atividades que não “excitam” tanto o cérebro, como os trabalhos de escola.
Outra forma de entender esse efeito da mídia é a rapidez de mudança no foco de atenção nos videogames e programas de TV, que pode fazer que com o tempo o cérebro se desacostume a situações que exijam atenção mais sustentada.
Teoricamente, existem boas razões para se acreditar que os games e programas de TV com conteúdos mais educativos e menos agitados e violentos devem provocar menos problemas de atenção.
*Fonte: Dr. Ricardo Teixeira é médico, doutor em neurologia.