por Aurea Afonso Caetano
Não e tão fácil fazer as mudanças que sabemos importantes. Temos a tendência a acreditar que não são tão importantes assim e mais que teremos todo o tempo do mundo para colocá-las em prática. Além disso, somo vítimas de um olhar romântico, quase pueril, que nos diz que no momento certo, quando enfim tudo for devidamente compreendido, então as mudanças acontecerão quase sem esforço, como um mecanismo que é colocado em funcionamento quando se retiram suas “travas” ou imperfeições.
Pensamento mágico? Quase isso! Entrega a uma instância superior que guiará c e nos conduzirá da melhor forma passos possível ao verdadeiro caminho. Já falamos aqui sobre a noção do *”deo concedente” e podemos também pensar em sorte. Mas o que é isso?
“Deus ajuda quem cedo madruga” ou “Ajuda-te que Deus te ajudará”. Talvez a sorte possa estar aí, à espreita. De nada adianta ficar à espera de algo que facilitará a vida e o caminho, mas também de nada adianta a ideia de um caminho calculado de forma milimétrica. A vida talvez seja uma combinação dos dois movimentos: penso, discrimino, faço, caminho, mas também ao mesmo tempo intuo, entrego, espero e me abro ao desconhecido.
O trabalho dos antigos alquimistas era um misto desses dois movimentos. Enquanto pacientemente realizavam as operações químicas ou alquímicas, se entregavam ao processo e com isso transformavam-se junto com a matéria que estava sendo trabalhada. Trabalho de devoção e ao mesmo tempo elaboração; ir e vir, fazer e esperar; como no “Sermão da Montanha”- tempo de semear e tempo de colher. Tempo, tempo, tempo… “Tempo Rei” Não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido; transcorrendo, transformando. Tempo e espaço navegando; todos os sentidos…” (Gilberto Gil).
Então parte do trabalho da dupla terapeuta-paciente funciona como o trabalho do alquimista em seu laboratório. Há uma entrega à obra mas não há a certeza de onde esse caminho irá levar. Muitas vezes nos sentimos estagnados, como se nada acontecesse; algumas vezes estamos mesmo paralisados, outras vezes as transformações são tão delicadas e profundas que delas não temos percepção consciente. O que realmente importa é seguir caminhando, continuar trabalhando e acreditando.
As verdadeiras transformações acontecem a partir de muito trabalho e um tanto de entrega ao verdadeiro processo. Não há mágica e ao mesmo tempo tudo é mágica.
* Deus conceder; se Deus permitir, ou permitido por Deus. A ideia é que há um trabalho a ser feito, mas que Deus precisa permitir, conceder…