por Lilian Graziano
Um estudo da Universidade de Radboud, na Holanda, publicado neste mês de abril, mostrou como as memórias se recombinam, quando um fato novo cria um insight em nosso cérebro.
Os cientistas dessa entidade utilizaram o game The Sims, que simula o dia a dia em uma cidade, com situações e problemas análogos aos da vida real, para avaliar como essa conexão era realizada no cérebro dos gamers.
Por meio de ressonância magnética, verificou-se que, à medida em que os fatos iam se encaixando nas vivências do jogo, uma nova memória única de toda a história se formava, e tal atividade cerebral era registrada nas áreas do hipocampo e do córtex pré-frontal medial, responsáveis pela memória autobiográfica.
É possível ligar o trabalho desses cientistas à eficácia da psicoterapia, que provoca no cliente reflexões acerca de seus problemas e o faz enxergar soluções e sentidos para eles, a partir de novas perspectivas. Assim, cria insights que podem ressignificar memórias, criando uma nova acerca de cada conjunto de fatos pertubadores registrados em nossa mente. O problema é que nem toda revelação a fechar um quebra-cabeças é positiva. Mesmo sendo sempre possível a ressignificação, já que, como mostra o estudo, esta constitui uma capacidade inata.
Seria necessário utilizar esse recurso como algo estratégico para transformações efetivas em direção ao bem-estar geral e à formação de uma sociedade mais feliz!
A meu ver, a nova pesquisa sinaliza a possibilidade e a importância de orientarmos o trabalho psicoterápico e nossos próprios pensamentos e comportamentos para a criação de insights positivos e a ressignificação positiva de acontecimentos da vida. Pois não há remédio capaz de fazê-lo e são dadas a nós, psicologicamente (e agora, comprovadas, biologicamente) a responsabilidade e a habilidade de converter vivências ruins em aprendizados significativos (e positivos).
Além de isso já acontecer na clínica psicológica há anos, no caminho da cura de patologias diversas, tal ação é o que pressupõe a Psicologia Positiva, no caminho do desenvolvimento humano e da felicidade.
Quem se lembra do filme Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças (2004), com Jim Carrey e Kate Winslet? Pois o “apagão” das experiências ruins não se mostrou eficaz para o casal interpretado por esses atores, na história de Charlie Kaufman. Sujeitar-se a um tipo de amnésia não conseguiu afastá-los e nem evitar que novos eventos ruins habitassem suas memórias.
Já que não é possível evitá-las, de forma milagrosa, nem na trama cinematográfica, resta o investimento constante em ressignificações positivas. Não é um caminho simples, mas é, no momento, o único possível. E agora sabemos que está na nossa biologia e não devemos impedir (mas podemos direcionar melhor a habilidade – essa sim, um “milagre” da natureza humana).