Gilberto Coutinho especial para o Vya Estelar
Na primeira parte desta entrevista exclusiva ao Vya Estelar, – clique aqui – o terapeuta naturopata Gilberto Coutinho, falou de suas experiências e impressões sobre a medicina ayurveda e o yoga praticados na Índia.
Na segunda parte desta entrevista, Gilberto nos conta onde esteve e as suas impressões sobre a cultura daquele país – clique aqui. E nesta terceira e última parte ele narra suas experiências mais curiosas naquele país.
Vya Estelar – Em seu roteiro de viagem, você incluiu a cidade de Rameswaram. Lá realiza-se um ritual em que um jovem rapaz entra para a comunidade brâmane. Como foi isso?
Gilberto Coutinho – Entre os meus planos de viagem, após o término dos cursos em Kannur, estava o de conhecer outras localidades, como a cidade de Rameswaram, no Estado de Tamilnadu, ao Sul da Índia, cerca de 40 km de Sri Lanka – país da Ásia meridional. Foram necessárias várias horas de conversa, quase sempre exaustivas, com o agente de viagem, o Sr. Praveen que, pacientemente e desejoso de que tudo transcorresse bem, ajudava na elaboração de um interessante roteiro.
Naquela cidade, recomendou a hospedagem numa pousada administrada por brâmanes, o que aguçou a minha curiosidade. Após alguns vôos e viagens de trem, eis que chegamos a essa pequena cidade litorânea, com lojinhas de suvenires e artesanatos, onde se localiza o belo, importante e famoso templo Ramanathaswami, dedicado a Shiva e ao sábio príncipe Rama, com um grande corredor de pilares esculpidos em granito preto. Ainda na lembrança, a vívida e grande emoção da chegada. Um educado senhor brâmane, vestido de roupa tradicional e tecido branco de algodão, usada pelos homens, recepcionou de modo gentil, conduzindo até os aposentos; durante toda a estada na cidade, gentilmente, ofereceu-se como guia.
Cerimônia Upanayana
O grande prédio de dois andares, próximo do templo de Ramanathaswami, simples, como era de se esperar, limpo, com uma energia muito boa, possui corredores, quartos, escadas, salões e janelas. O mesmo senhor brâmane convidou para uma cerimônia de consagração, chamada “Upanayana” (Brahmopadesham, “guardião do conhecimento”), que aconteceria na manhã seguinte, importante para a cultura indiana. Celebrada por um experiente e sábio sacerdote, a cerimônia inclui orações e repetições de mantras sagrados, leituras de trechos de textos védicos, ritual do fogo, oferendas de flores, alimentos, incensos e toques de sinos.
Acompanhado dos pais e familiares, um jovem rapaz, na pré-adolescência, é introduzido na comunidade de brâmanes e recebe o cordão sagrado (símbolo de sua casta), usado transversalmente sobre o peito. Ocorre-me à lembrança o fato de que, desde a minha iniciação ao estudo e à prática do yoga, ano de 1987, passei a nutrir interesse pelos grandes yogues do passado e também pelos brâmanes e suas tradições védicas.
Tive a grande oportunidade de hospedar-me, por alguns dias, numa comunidade de brâmanes e de participar de alguns de seus rituais sagrados, o que significou a realização de um grande e velho sonho. Maravilhado e feliz diante daquela bela cerimônia, ela parecia-me familiar; a sensação era a de que eu a já a conhecia e estava apenas revivendo-a. Impressionou-me a felicidade e a satisfação dos pais e familiares com tudo o que acontecia.
Brâmanes
Vya Estelar – O que são brâmanes?
Gilberto Coutinho – Brâmanes (do sânscrito “Brâhmana”) são membros da casta sacerdotal da sociedade hindu, considerada a mais alta das quatro principais castas.
Historicamente, gozam de uma posição social privilegiada – independente de sua riqueza – e beneficiam-se de inúmeras prerrogativas. Compõem-se, sobretudo, de intelectuais, filósofos e escritores. É dever dos brâmanes, entre outras coisas, estudar e ensinar os Vedas (escrituras sagradas da Índia); meditar diariamente; preservar e realizar os ritos, as tradições e as cerimônias religiosas e sagradas; e auxiliar as pessoas no alcance do crescimento espiritual.
No passado, quando um rei era visitado por um brâmane, o soberano prostrava-se aos seus pés com reverência, por aceitar a superioridade de sua casta, a sua sabedoria e seus conhecimentos. Os brâmanes desempenham uma função muito nobre para a cultura indiana; não precisam se preocupar com o dinheiro e a aquisição de bens materiais, pois o Estado assegura-lhes a subsistência.
Vya Estelar – Como foi a sua visita ao extremo da ilha de Rameswaram, no estreito de Palk?
Gilberto Coutinho – Informaram-me a respeito de um belo lugar no extremo da ilha de Rameswaram, no estreito de Palk (que pertencente à Índia), entre a Índia e o Sri Lanka, onde o Oceano Índico se encontra com o Mar de Bengala. Acordei cedo, fui convidado para o desjejum, antes da realização da cerimônia de iniciação brâmane. No segundo andar, na sala de refeição, estávamos alguns brâmanes, o guia, uma amiga, eu e algumas mulheres que serviam o alimento. Sentamo-nos ao chão, numa roda, e um delicioso desjejum vegetariano (que mais parecia um almoço, com direito a saborear ótimos suco e doce indianos) foi servido numa folha verde e fresca de bananeira.
Por volta das dez horas da manhã, avisaram sobre o início da cerimônia. Então, os convidados seguiram para um grande salão todo decorado para a ocasião. Sentamo-nos ao chão, com as pernas cruzadas, como os indianos fazem, e esperamos ansiosos pelo início da consagração. Ao final da cerimônia, todos ali presentes estavam felizes pelo que tinham presenciado e por terem sido agraciados por aqueles momentos. É interessante saber que, para o menino e seus familiares, é uma dádiva o fato de que ele estudará os Vedas sob os cuidados auspiciosos dos sábios brâmanes até atingir a sua vida adulta, quando decidirá se deseja casar ou, então, tornar-se um sacerdote brâmane.
Estreito de Palk
Com o término da cerimônia, alugamos um jipe e partimos para conhecer o estreito de Palk. Viajamos vários quilômetros por uma estrada asfaltada, ladeada por belos pinheiros; depois, por um terreno arenoso e com sinuosidades; o jipe, às vezes, saltava ao passar veloz pelas dunas. Passamos por vilarejos, por nativos e por praias belíssimas até chegarmos ao extremo da ilha de Rameswaram. Ficávamos maravilhados com a beleza indescritível das paisagens e da natureza ao nosso redor. Atravessamos uma ruína, o que restou de uma cidade à beira-mar, totalmente destruída, em 1964, por um grande furacão.
Estava impressionado com o que via. Fui informado de que um trem, repleto de passageiros, foi arrancado dos trilhos e lançado ao mar, por ocasião daquela intempérie. Até que chegamos, extasiados por tanta beleza, ao extremo da ilha, no estreito de Palk, entre a Índia e o Sri Lanka, onde o Oceano Índico se encontra com o Mar de Bengala. Parecia estarmos em uma outra dimensão.
Estupefato, eu fotografava as paisagens: do lado direito, o belo Mar da Índia, azul, agitado, com ondas altas que se quebravam fortemente na areia; do lado esquerdo, o sereno Mar de Bengala, cujas águas mornas e salgadas mais pareciam o azul do céu. Quando me dei conta, a amiga e o guia brâmane já se encontravam banhando no calmo Mar de Bengala, parecendo deliciarem-se com a água. Retirei meu sherwani branco (camisa de manga longa de tecido de algodão que vai até abaixo do joelho; roupa geralmente usada pelos homens) e entrei no mar. Olhava para os dois mares, o horizonte e lembrava-me do Brasil, dos meus familiares e amigos.
Mar de Bengala
Não havia ondas no Mar de Bengala. Ora caminhávamos, adentrando o mar, ora boiávamos nas águas serenas e mornas, quando pedi ao senhor brâmane que recitasse alguns mantras e orações védicas. Ficamos ali por algumas horas, nadando, flutuando, ouvindo e recitando mantras e orações védicas. Parecia, realmente, uma outra dimensão, tudo muito emocionante…
O silêncio, o balé aéreo das gaivotas, o sol dourado e a natureza exuberante do Sul da Índia, tudo proporcionava um grande contentamento e paz. Então, o motorista avisou que era preciso retornar, pois, com o pôr-do-sol, as águas do mar invadiriam toda aquela região. Retornamos, deixando para trás todo aquele paraíso com o sol se pondo no horizonte. Algumas vezes, parávamos para apreciar o pôr-do-sol, o mar, os coqueiros, os pinheiros, os vilarejos e os nativos. São momentos inesquecíveis…
Vya Estelar – Como foi a visita ao “Museu Nacional de Mahatma Gandhi” em New Delhi?
Gilberto Coutinho – Extremamente emocionante a oportunidade dessa visita. Desde garoto, a história de Gandhi me chamava a atenção; de alguma forma, eu o admirava e tinha a intuição de que, algum dia, eu conheceria mais a respeito de seus feitos e de sua vida. Adulto, passei a compreender melhor a sua luta e a sua nobre mensagem para a humanidade. Hoje, tenho uma enorme admiração e respeito pela sua grandeza. Compreendo ter sido ele um homem de fibra e de grandes valores, não apenas pela sabedoria de exímio pensador, mas também por ter sido um grande realizador, benfeitor e pacifista. Com suas atitudes, demonstrou amar a Índia, seu povo e a humanidade. É considerado o pai da nação indiana. Creio na sua mensagem da “não-violência” como um exemplo a ser seguido por todos.
Museu
A construção principal do museu é um belo prédio branco no estilo inglês, de dois andares, cercado por um amplo e belo jardim arborizado e florido, outras edificações menores, placas informativas e um corredor coberto com informações e fotos sobre a sua vida. Internamente, o museu é um primor, arquitetado com extremo bom gosto, combina arte (pinturas, grandes painéis, artesanatos, invenções artísticas e tecnológicas, uma estátua fiel, que parece real, de Gandhi lendo jornal, e outra de sua esposa; ambas em tamanho original; sentados com as pernas cruzadas, trajando roupas brancas de algodão), literatura, tecnologia (imagens e sons) e iluminação. Na primeira galeria, um desenho artístico, muito interessante, com imagens de Gandhi, é projetado num telão, enquanto se ouve um belo poema musicado, onde um verso diz: “Lá vai o cisne solitário…”. Assistindo ao filme e ouvindo atentamente a canção, emocionei-me e não pude conter as lágrimas que escorreram pelo meu rosto.
Quarto de Gandhiji
Visitei o quarto, em que Gandhiji passou seus últimos 144 dias antes de ser assassinado. Vi sua cama de madeira coberta por um tecido de algodão branco, o local onde ele costumava praticar yoga e meditação, seus óculos redondos, o seu tear, o seu cajado, seus sapatos de madeira, seu relógio de bolso e seus talheres. Depois, fiz o mesmo percurso (marcado no chão na forma de pegadas) que ele fez naquela sexta-feira do dia 30 de janeiro de 1948, até a grande área gramada, local de uma pequena sala de oração (em que ele costumava meditar e orar), onde, ansiosamente, centenas de pessoas o esperavam para um discurso e oração, quando ele foi, fatidicamente, assassinado, por volta das 17 horas e 17 minutos.
Vya Estelar – Qual é a relação da moeda indiana com religiosidade?
Gilberto Coutinho – A moeda indiana chama-se rupee (do sânscrito “rupyakam”, “moedas de prata”). Atualmente, um rupee equivale a cerca de 20 reais. Quando cheguei à Índia, ainda dentro do “Aeroporto Internacional de Mumbai”, precisei trocar alguns dólares pela moeda nacional indiana e me surpreendi e emocionei ao ver que todas as notas traziam a efígie de Mahatma Ghandhi.
Retornando ao Brasil, trouxe comigo algumas moedas indianas atuais e antigas de bronze, cobre, níquel e alumínio, com imagens do Rei Imperador George VI, da República da Índia, de Mahatma Gandhi, da flor de lótus (um dos símbolos nacionais da Índia); de Indira Gandhi; moedas de 1818 com imagens de Shiva & Shakti, e de um yogue com as pernas cruzadas na posição de meditação; e uma interessante moeda quadrada muito antiga com desenhos e caracteres que lembram a época das grandes e progressistas civilizações do Indo-Sarasvati (Mohenjo-daro e Harappa), dentre outros tipos.
Vya Estelar – Como foi a sensação de visitar o rio Ganges?
Gilberto Coutinho – Conhecê-lo, orar diante dele, banhar-me nele (apesar da água gelada) como fazem, tradicionalmente, os yogues e os hindus, foi gratificante, pois, há muito, eu esperava por isso. O rio Ganges (em sânscrito) ou Ganga (em Hindi), considerado sagrado na Índia, nasce em torrentes no Himalaia central (em sânscrito, significa “morada das neves’), a cerda de 4.200 metros de altitude, e penetra a região das cidades de Rishikesh (em sânscrito, significa “cabelos dos sábios”) e Haridwar, no Estado de Uttaranchal, Norte da Índia, próximo do Nepal e Tibet, atraindo peregrinos e yogues para a suas margens.
Ganges e poluição
Em geral, as pessoas têm a idéia de que o rio Ganges é muito poluído, mas não é assim por toda a sua extensão. Fui informado de que no Estado de Uttaranchal, o governo proíbe o funcionamento de qualquer indústria poluidora nas proximidades desse extenso rio, muitas vezes utilizado para a irrigação. Na cidade de Rishikesh, o rio Ganges desce sinuosamente entre um vale de montanhas arborizadas, cercado de templos, quase cristalino, gelado e numa tonalidade azulada. Cheguei em Rishikesh numa tarde. Tão logo deixei a bagagem no quarto do “Gayatri Resorts”, onde me hospedei, saí rapidamente, ansioso, descendo as ruelas e escadas, para conhecer o rio Ganges.
Ao entardecer, atravessei-o sobre uma alta, extensa e estreita ponte suspensa por longos cabos de aço. Durante a minha estada em Rishikesh, não me cansava de apreciá-lo, vendo-o descer lentamente pelo vasto vale, entre as montanhas, como também não me cansava de observar os inúmeros templos e as pessoas a suas margens.
Ritual: Sacerdote caminha no chão em brasas, num caminho de fogo e não se queima
Vya Estelar – Fale-nos sobre o seu encontro com o sacerdote que incorporou a “consciência divina” no ritual religioso Theyyam?
Com o término da primeira manifestação de incorporação (clique aqui), o sacerdote se recolheu a sua tenda de lona para se trocar e se recompor. Enquanto isso, um outro sacerdote se preparava para uma próxima incorporação. Nesse intervalo, o guia turístico me chamou para mostrar, nas proximidades, um grupo de sacerdotes artesãos, sentados ao chão, que confeccionavam enfeites e vestimentas. O primeiro sacerdote, já trajando apenas um dhoti branco de algodão (tecido longo amarrado sobre a cintura), com resquícios de maquiagem vermelha na face, já consciente e fora do transe, sai de sua tenda e olha para mim.
Então, eu uni as palmas das minhas mãos no centro do peito e o reverenciei, quando fui convidado por ele para uma conversa em sua tenda.
Conversa com o sacerdote
O guia de viagem serviu de intérprete. Retiramos os sapatos e entramos. Atendendo o convite do sacerdote, sentei-me junto a ele, próximo das roupas e dos instrumentos sagrados que ele utilizara durante a incorporação. Abraçou-me e falou-me em dialeto malayalam que podíamos tirar algumas fotos. Em seguida, quis ver as fotos e ficou admirado. Perguntei-lhe se o fogo não tinha queimado as suas pernas e seus pés. Imediatamente, flexionando uma perna de cada vez, mostrou-me as plantas de seus pés. Pude, então, constatar que não havia nenhuma bolha ou sinal de queimadura. Explicou-me que os sacerdotes, para realizarem a cerimônia de caminhar e pular entre as chamas do fogo, entoam mantras sagrados de proteção e, dessa forma, ficam protegidos contra as queimaduras.
Pareceu-me ser ele uma boa pessoa, sensível, sofrida e com aparência humilde; naquele momento, ostentava um certo olhar tristonho. Ao apresentar-me a sua mãe (que transparecia ser humilde), sorriu e percebi alegria em seu rosto. Mais uma vez, apresentei minhas reverências; despedimo-nos. Senti-me agraciado por essa surpreendente oportunidade. Ainda guardo lembranças vívidas de sua pessoa.
Vya Estelar – O que vem a ser a astrologia védica?
Gilberto Coutinho – Jyothisha (do sânscrito “jyotis”, “luz” ou “corpo celestial”) é a astrologia tradicional da Índia. Os antigos sábios do Oriente a consideram como uma das ciências mais complexas e completas. Apresenta similaridades com a astrologia ocidental, mas também, diferenças importantes e determinantes. Abrange algumas das crenças indianas como carma, reencarnação, também suas visões culturais sobre o mundo e o significado da existência humana.
Objetivos
Os antigos sábios, reis e terapeutas da Índia recorriam a essa ciência com o intuito de superar dificuldades e problemas, desenvolver força e espiritualidade, encontrar soluções, evitar e combater calamidades, doenças, etc. Na Índia, existe curso superior de Astrologia Védica, e um astrólogo recebe o título de doutor. Fui consultar o astrólogo védico S. Jayadevan em sua casa na cidade de Kannur e fiquei bem impressionado com a sua atuação e suas colocações. Ele parecia enxergar além do mapa astrológico.
Vya Estelar – Fale-nos sobre sua visita ao Taj Mahal
Gilberto Coutinho – Fiquei maravilhado e estupefato com tamanha beleza do Taj Mahal e do Agra Fort. Lembro-me, ao chegar à cidade de Agra, no Estado de Uttar Pradesh, do trânsito caótico, da poluição sonora e do ar e do quanto me encontrava ansioso para conhecê-lo. Ao atravessar o grande portal, avistei-o majestoso ao fundo, compondo a paisagem e a natureza locais, diante um vasto e belo jardim arborizado e florido e de uma comprida piscina azul, onde sua imagem se reflete. Meu coração acelerou de alegria e encantamento. Ao mesmo tempo, minha mente silenciava e se agitava, tamanha a euforia. Fotografei muito, na tentativa de perpetuar aquele momento. Saí de lá à noite, com o céu estrelado e a lua iluminando-o.
Taj Mahal
Taj Mahal é um mausoléu, um dos monumentos mais esplendorosos e conhecidos da Índia. É considerado pela UNESCO como “Patrimônio da Humanidade” e, recentemente, numa celebração em Lisboa, uma das “Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno”. Foi construído com o melhor mármore branco do mundo, entre 1630 e 1652, a mando do imperador Shah Jahan, em memória de sua esposa favorita Aryumand Banu Began, que morreu após dar à luz o seu 14º filho; contém inscrições retiradas do Corão, incrustadas com pedras semipreciosas.
Foram necessários cerca de 22 mil homens para a sua construção, vindos de várias regiões do Oriente. O imperador pretendia fazer para ele próprio uma réplica do Taj Mahal na outra margem do rio, em mármore preto, mas acabou deposto antes do início das obras por um de seus filhos, que considerou esse intento uma grande loucura.
Vya Estelar – Como foi sua primeira visita a um templo de Shiva em Kannur?
Gilberto Coutinho – Estava a apenas alguns dias na Índia, quando os professores convidaram os alunos que tivessem interesse para a participação em um curioso festival religioso, a realizar-se num templo dedicado a Shiva, nas proximidades da cidade de Kannur. Um furgão e outros carros nos levaram até ele, às margens de um rio. Já anoitecia, quando chegamos ao local. Nas proximidades do templo, havia uma grande aglomeração de pessoas locais e diversas pequenas lojas de suvenires.
Fotos proibidas
A tradição manda retirar os sapatos e lavar os pés no rio antes de entrar no templo. Assim o fizemos. O festival religioso já tinha começado. Havia muitos sacerdotes e fiéis dentro do templo; e, dentro desse grande templo, outro templo menor com um pequeno altar a sua frente, ao redor dos quais os sacerdotes e os fiéis se ajuntavam. Porque vi um dos meus professores indianos tirar fotos da cerimônia, fiz o mesmo. Após tirar a segunda foto, fui surpreendido com um forte grito de um sacerdote que dizia: “No, no… go out…”, ou seja, “Não, não…, saia…”.
Fiquei um pouco constrangido, pois não sabia da proibição de se fotografar no interior do templo. Desliguei a câmera digital e permaneci no local. O sacerdote se aproximou com cara de zangado e repetiu sobre a proibição, pedindo-me para sair. Expliquei-lhe que desconhecia a proibição e, enfaticamente, pronunciei, olhando em seus olhos: “Shiva também é meu mestre”. Após ter-lhe dito isso, ele foi embora. Uma interessante cerimônia representativa deu início ao redor do pequeno templo e foi finalizada pelo toque de vários tambores e cornetas. Foi uma bela e emocionante cerimônia.