por Regina Wielenska
Recentemente na internet mostraram uma estrela de Hollywood (cujo nome prefiro omitir) se esbaldando ao sol, na companhia do namorado. Aparentava boa forma física e um cabelo desgrenhado, sem qualquer brilho ou maciez.
Outra seleção de imagens mostrava fotos, do tipo antes e depois, dos dentes de alguns rostos conhecidos do show business. Inevitável reconhecer que o dinheiro compra sorrisos brancos e alinhados, tirando de cenas malformações, manchas e dentes tortos ou quebrados.
Mas fotos assim são quase exceções entre o material circulando em revistas, internet e filmes. De fato, são relativamente raras as oportunidades de percebemos que celebridades também são naturalmente imperfeitas em seus atributos físicos.
Na verdade, imperfeições seriam a regra e, seja no mundo dos anônimos ou normais, não deveriam, tornar-se motivo para crítica, assédio moral ou rejeição.
Acontece que predominantemente entramos em contato pela mídia apenas com imagens exuberantes e retocadas digitalmente, representações de imaculada perfeição estética. Homens de sessenta anos alinhados, com frondosas cabeleiras apenas ligeiramente brancas. Modelos sem um pingo de celulite ostentando peitos redondos, firmes e imperturbáveis. No mundo real é assim? Ninguém tem rugas, manchas, peito um tanto caído ou precisa de óculos?
Há crianças ou adolescentes obsessivamente encanados com sua aparência; para esse grupo, o que importa é lapidar a própria aparência, consumir itens de grife, almejar a perfeição, se destacar entre seus pares, fazer sucesso nas redes sociais. Estudo, amizade, bondade, amor despreendido, vida em família,"pra que tanta bobagem?", pensam alguns jovens.
Pais e educadores penam para competir com o poder hipnotizante dos recursos de comunicação voltados aos jovens
Acho que os pais, escolas e outras instâncias passam apuros pra competirem com o poder hipnotizante dos recursos de comunicação voltados aos jovens. Talvez pelo afeto possam ganhar a parada, os adultos precisariam se despir de discursos moralizantes e abrir os sentidos (e também o coração) pra uma eventual, inicialmente truncada, mas verdadeira, troca de ideias. Passam um apuro pais e educadores, mas eles nunca deveriam desistir de ajudar os mais jovens a calibrarem sua percepção de mundo. Haja diálogo, humor e amor pra combater uma crise de valores, tão carregada de distorções.