por Roberto Goldkorn
Ontem fui a um mercadinho e comprei umas mangas. Costumo comprar do tipo Haden, mas confesso que às vezes confundo. Afinal, existem tantas variedades… Mas a que estava ao lado era a de outra variedade, mas como não havia uma etiqueta com os nomes peguei mesmo no olhômetro.
Cheguei no caixa para pagar e a menina perguntou: qual é essa manga?
Respondi: Acho que é Haden.
Ela deu um sorriso de desdém e disse:
– Essa manga não existe.
Ainda argumentei:
– Não existe aqui neste mercado?
– Não – "retorquiu" ela impaciente com a minha ignorância: – Não existe, não existe.
Eu compro manga Haden há pelo menos vinte anos e de repente me vi diante de uma jovem que estava negando esses vinte anos, e me atirando num limbo ilusório, onde devo ter estado vagando nesse universo de mangas fantasmagóricas.
Ela se levantou do caixa e lá foi conferir a raça da manga. Era a Tommy, ela sorriu vitoriosa, quase exultante inflou o peito e deu um sorriso de superioridade, estava provada a sua tese de que mangas Hadens não existem!
Um médico cheio de diplomas discutindo comigo sobra "farsa" das vitaminas em especial da Vitamina C, afirmava categórico: "Não existe evidência científica de que a Vitamina C seja eficaz para fortalecer o sistema imunológico!"
Eu ainda tentei argumentar, mas ele por muito pouco não disse:
– Eu sou médico e você é o quê?
Mas deixou subentendido. No dia seguinte ganhei de presente um livro do Dr. Linus Pauling (ganhador de dois prêmios Nobel – de Química e da Paz) cujo título era Como Viver Mais e Melhor – O que os médicos não dizem sobre a sua saúde, onde ele listava pelo menos trinta pesquisas de ponta realizadas no mundo todo, mostrando resultados positivos na administração de megadoses de vitamina C.
O saber ou melhor o pseudossaber é em geral arrogante, porque é ignorante.
Muitas pessoas fazem uma confusão danada entre não conhecer e acreditar que o seu não conhecimento é conhecimento. Esse reducionismo acaba plasmando uma outra realidade: torta e bizarra. A ignorância assertiva é como uma doença ocular que estreita o ângulo de visão e reduz a realidade a uma pequena porção do que ela é ou pode ser.
Essa é uma das doenças que estão por aí gerando relações agressivas e frustrações, porque acabam produzindo mentiras que são vendidas como verdades. Não existe como sobrevivermos num campo onde a semeadura é feita com sementes falsas, enfraquecemos, reduzimos as nossas chances de sucesso como sociedade e como raça.
A saída seria a recuperação de ideais de humildade e de genuína curiosidade. Seria a mudança do paradigma do afirmar para o do perguntar, do dizer para o do ouvir, do contestar para o do adiar a contestação.
Precisávamos instituir a Lei da Contagem até 10, antes de sacarmos as nossas armas assertivas com a rapidez do bateu-levou.
Mas não somos formados de multidões de Dalai Lamas, portanto as probabilidades dessa mudança são mínimas.
A mudança, porém, pode ser individual, essa é possível, na verdade mais que possível, ela é preferível.
Um grande guru das comunicações pessoais disse que não é possível mudar a convicção de uma pessoa apenas contestando-a. Eu tive uma certa dificuldade de aceitar isso quando era mais jovem, porque acreditava na minha militância para melhorar o mundo. Mas o tempo me provou que ele estava certo, e tudo o que fiz no sentido contrário a essa "norma" só me trouxe dissabores, inimizades e perdas, inclusive profissionais.
Com o advento da internet, ficou mais fácil alimentar esses exércitos de garantidores de que manga Haden não existe. O conhecimento está ao alcance do toque, e a superficialidade casou-se com o imediatismo para gerar os absolutos e as "com-certezas".
O que se consegue é a criação de uma atmosfera de desconfiança e aqui não me refiro à atmosfera no sentido figurado, mas àquela que é sinônimo de "vibração" planetária. O ar e o "éter" ficam impregnados não só da nocividade das palavras vãs como alertava a sábia teosofista Annie Besant, mas também envenenado pela poluição da mentira, indetectável por quaisquer instrumentos físicos. O resultado pode ser visto olhando-se à nossa volta.
Precisamos resgatar as boas e velhas dúvidas, voltar a nos ouvir dizendo: "Eu não tenho certeza", ou o matador: "Eu não sei".
Tenho tentado usar outras ousadias, como por exemplo, diante da menina da manga Haden, apenas fiquei em silêncio (sem sorrir por favor) guardei as compras, e fui para casa tomar a minha vitamina C.