Da Redação
Há quase cinco mil anos atrás, o homem relatou suas primeiras conclusões sobre o orgasmo. Como nesta época a ciência, como a conhecemos hoje, era pouco desenvolvida e o conhecimento provinha, em sua maioria, de experiências religiosas e espirituais, o orgasmo foi entendido como uma das formas de se chegar a Deus, a iluminação espiritual. Assim foram desenvolvidas técnicas que pudessem potencializar e prolongar o orgasmo, o que conhecemos hoje como "Sexo Tântrico."
Após tantos milênios, Freud chega à conclusão que o orgasmo é a descarga máxima de libido, levando o homem a um nível de tensão zero, uma sensação parecida com o que descreveu como sendo uma "sensação oceânica". Porém, os estudos nesta área provaram que não importa muito a quantidade de orgasmos que se tem em uma noite, mas sim a qualidade destes orgasmos. Poder pensar em sexualidade desprovida de uma obrigação.
Com a revolução feminista e conseqüente liberação da mulher, esta começou a reivindicar também o seu prazer sexual. Nada de errado com isso, afinal todos temos direito a encontrar nossos prazeres e o dever de ir de encontro a eles. Mas o homem entendeu esta postura como mais uma cobrança, mais uma obrigação em sua vida já tão perturbada pelos problemas da vida moderna. "Elas querem entrar no mercado de trabalho, tomar conta da casa, e agora exigem uma melhor performance na cama? Tô ferrado!" Quantas exigências, quantas tensões…
Como Freud mesmo comprovou, qual é a melhor forma de descarregar tantas tensões? O orgasmo. E lá vai o homem dobrar a sua atividade sexual do mês.
Se formos falar de tensões, as mulheres conseguem ainda superar os homens. "Tenho que ser uma boa mãe, ter um bom emprego, ser esposa, amante, amiga, bonita, magra…", pensando bem preciso ser uma super-mulher. Super em tudo. Quantas tensões, obrigações e conquistas. Preciso de um orgasmo. Um? Responde a amiga ligada nos programas mais fashions da televisão. "Você precisa é de múltiplos orgasmos!" E lá vai a mulher atrás de mais uma super conquista, o que gera mais tensão, mais necessidade de descarga, mais sexo, mais exigências, mais tensão, mais necessidade de descarga, mais sexo e assim por diante…
Neste círculo vicioso, os únicos a se darem bem são: a indústria do sexo e os canais de comunicação. Pois os homens e mulheres estão se cobrando cada vez mais, não conseguindo cumprir tantas exigências e tendo conseqüentemente cada vez menos prazer na vida.
Vale a pena refletir que o orgasmo pode também ser lido como prazer, relação amorosa, entendimento de casal, enfim, a chance dos seres humanos adquirirem a possibilidade de obter prazer junto do sentimento de liberdade.
As conquistas valeram a pena, sem dúvida as mulheres não pensam em regredir, precisamos apenas repensar a exaustão do dia-a-dia que não permite sobrar energia para uma boa relação de amor.
Fonte: Marisa Micheloti é psicóloga e educadora sexual