Por Regina Wielesnka
Observei, com a discrição possível, duas famílias chegando para o jantar num restaurante casual de São Paulo. Uma delas era composta por um casal, sua filha de uns oito anos e o filho um pouco menor, talvez com seis. Suponho que a senhora que os acompanhava fosse avó das crianças. O outro casal, um pouco mais jovem que o anterior, tinha duas meninas, de uns quatro e seis anos. Nomearei a primeira família de A e a outra de B, para facilitar na hora de citar uma ou outra.
O que vi ocorrendo com os A? Pouco uso de celular, muita conversa e olho no olho entre adultos e crianças. A maiorzinha recebeu do garçom um jogo de identificação dos sete erros, empenhava-se em achar, mas lhe faltavam dois depois de bons minutos. Chegou a educadamente perguntar ao garçom se ele sabia as respostas. Não conseguiu ajuda, e o pai a incentivava na busca. As crianças examinaram o cardápio infantil, com porções menores, e o adulto. Não sei o que escolheram. O papo corria solto, tudo fluía com facilidade, a escolha dos pratos, a espera, os assuntos, o contato entre as pessoas. A maior inquiriu os pais sobre o destino da viagem no dia seguinte, descobri que iam para Marilia.
A família B foi outra história. A pequena, já ao entrar, passou na miniestante disponibilizada aos pequenos clientes e catou um livro, cuja capa expunha olhinhos móveis. Sacudiu o livro, virou ligeirinho suas páginas e pegou outro, e outro e outro… A maior começou a pintar com o giz de cera, material fornecido pela casa. O contato dos pais com as pequenas parecia competir com o manejo dos celulares, da parte de pai e mãe. Não diria serem negligentes ao extremo, mas a desconexão com as potencialidades não digitais do momento presente ficava evidente.
Um contraponto se estabeleceu aos meus olhos. Os A fizeram de refeição um espaço de trocas de olhares e expressões, informações, afetos. As três gerações integradas. Esperar pelos pratos foi algo fácil. O jogo dos sete erros era oportunidade para tentar vencer um desafio, sem atalhos desnecessários. Examinar os cardápios demonstrava a funcionalidade da leitura na vida cotidiana. Todos tinham voz, sem gritos, sem tédio.
A família B parecia uma orquestra desafinada, as crianças se ocuparam como deu. Quase me ofereci para ler para elas! Não havia contexto para tal, eu me sentara a alguma distância. Mas essa alternativa, a leitura, seria uma oferta coerente, visto o interesse da iletrada menina de quatro anos pelos livros de capas atraentes. Perdeu-se uma chance de ouro, e a maiorzinha certamente também aproveitaria a leitura. O casal quase não dialogou, a escolha da comida das pequenas não foi conversada com elas, a interação com os celulares era o mais evidente.
Minha observação durou poucos minutos, mas tive acesso a estilos familiares distintos, cujos resultados sobre a vida conjugal e as habilidades socioemocionais e cognitivas das crianças são razoavelmente previsíveis. Tomara que aquele dia, aparentemente ruim, não seja rotineiro para a família B.