por Arlete Gavranic
A mulher experimentou muitas mudanças desde a década de 1960. O desenvolvimento da pílula anticoncepcional a liberou para viver sua sexualidade sem correr o risco de uma gestação. Isso abriu novos caminhos. Desde a década de 1970, elas preenchem cada vez mais cadeiras em universidades, ocupando lugares em todas as hierarquias no mundo profissional e político.
Essas questões, a pílula e todo o desenvolvimento de métodos contraceptivos, mais a possibilidade de estudar e trabalhar trouxeram muitos reflexos sociais.
As taxas de fecundidade diminuíram de * 6.21 filhos/mulher em 1960 para 1.85 filho/mulher em 2010.
Ou seja, a vida da mulher que antes se restringia a casar e ter filhos mudou. Hoje a maternidade permanece, porém, mais tardiamente na maioria das vezes, sendo muitas vezes, organizada com a vida universitária e profissional.
Um fato interessante a ser observado, as mulheres continuam buscando relações de afeto e de prazer, mas se até a década de 60 ou 70, a grande maioria das mulheres buscava relacionamentos para casar até 20, no máximo 25 anos. Hoje a maioria das jovens mulheres termina a universidade por volta dos 23 anos e a metade das formandas costuma buscar um curso de pós-graduação no primeiro ou segundo ano de formada e, na maioria dos casos, a busca pelo casamento vai acontecer por volta dos 25/27anos ou mais. E muitas vão se ocupar com a maternidade quando a preocupação do relógio biológico vier à tona por volta dos 30 e 35 anos.
Mas essa regra e geral?
Será que todas as mulheres ambicionam crescer na carreira?
Será que o tipo de relacionamento interfere?
Variáveis que interferem no desenvolvimento profissional da mulher
Minha experiência com mulheres, seja como psicoterapeuta, como professora universitária e de pós-graduação, com amigas, vizinhas e família mostram diferentes variáveis que interferem no desenvolvimento profissional e intelectual da mulher.
O primeiro deles é gostar da carreira escolhida, pois essa variável é importante para determinar o interesse em continuar a estudar, fazer especialização… Investir na busca de crescimento parece ser mais fácil quando se gosta do que se faz.
Uma segunda variável que vejo importantíssima é a autoconfiança dessa mulher em sentir-se capaz de trilhar um caminho de crescimento. Essa variável é também muito importante para determinar o interesse em continuar a trajetória profissional.
Mas esses aspectos vêm acompanhados da interferência de outras duas variáveis importantes relacionadas à aprendizagem dessa mulher frente à expectativa familiar e reconhecimento da necessidade dela como mulher em trabalhar para fazer conquistas pessoais, como comprar suas coisas pessoais, carro, apartamento, viagens…
Algumas famílias ainda têm dificuldade em aceitar o padrão que capacita a mulher na busca de sua autonomia econômica e, ainda com discurso machista, induzem ao pensamento das responsabilidades masculinas em um relacionamento.
Esse padrão de pensamento pode fazer com que essa mulher não se sinta tão estimulada a empenhar-se na busca de crescimento intelectual ou profissional.
É interessante perceber que algumas mulheres trazem fantasias machistas de que se ela trabalhar e fizer conquistas, isso poderá acomodar seu parceiro ou fazer com que ele não se sinta importante como "o homem da casa".
Fantasias machistas do imaginário feminino prejudicam desenvolvimento profissional
1ª) Cobrança familiar grande de exercer papel de mãe e esposa com receio de viver a culpa de filhos "carentes" ou " mal-educados";
2ª) Receio da reprovação do marido com medo de abandono, ciúme ou traição;
3ª) Ter um parceiro que tenha recursos financeiros para convencê-la a abandonar sua vida profissional;
4ª) Ter um parceiro que, por ciúme ou medo de sentir-se ameaçado, (a insegurança de muitos homens ainda é bastante grande em relação ao assédio que a mulher pode receber); e quanto menos seguro do amor ou de sua masculinidade esse homem se sentir, mais sedutor ou chantageador poderá se mostrar para conseguir convencê-la da "importância de viverem bem", sem a ameaça dessa mulher "fora de casa". Inclusive, pode ocorrer de a família ter que abrir mão de alguns confortos: passeios, viagens, carro novo etc.
Outra coisa que considero importante observar, é que para muitos casais, a questão de a mulher trabalhar fora está incorporada pela valiosa contribuição no orçamento doméstico. Aí iremos observar questões com um foco no desenvolvimento intelectual e profissional. Esse aspecto depende de dois fatores: primeiro, gostar de estudar e enxergar a possibilidade de fazer novos cursos como um desafio pessoal de autocrescimento. Segundo, não descarto que o parceiro que não goste de estudar e/ou não valorize essa busca, possa interferir negativamente nesse processo, por achar que isso a roubará (por muitas horas/dias/ meses/anos) da família.
Pense nisso antes de ceder a uma pressão para abandonar sua busca profissional e de estudo. Não use o desejo do outro como desculpa para abrir mão da sua oportunidade de escolher.
Pode dar um pouco mais de trabalho conciliar vida pessoal, profissional e familiar, mas seu crescimento vai correr na direção e velocidade que você escolher.
Buscamos relacionamentos afetivos e efetivos, mas alguns nem sempre serão para sempre, e o seu desenvolvimento será seu sempre!
Relações de amor deveriam estimular a sermos felizes e a crescer sempre e não deveriam boicotar o crescimento.
Para alguns homens, essa aprendizagem só acontece quando vivenciam o crescimento de sua parceira sem sentir a ameaça da perda. Por isso, antes de ceder ao pedido, ameaça e chantagem dele, pense em que sonhos e conquistas você sonhou… E lembre-se… o "nós" só pode existir bem se o "eu" estiver bem!