Fatores que causam pedras nos rins

Cálculo ou litíase renal é uma desordem sistêmica, com causas multifatoriais, que pode anteceder ou estar associada com hipertensão, resistência insulínica, doença renal crônica e danos cardiovasculares. As pedras são formadas por cristais de minerais, que se aglutinam, geralmente dentro dos rins, e a crise é extremamente dolorosa. É um distúrbio urológico crescente, afetando 12% da população mundial, e o tipo mais comum é o cálculo de oxalato de cálcio (80%). A taxa de recorrência (formação de novos cálculos) é de 30 a 40%.

Influência do clima

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Uma prevalência de litíase renal é encontrada em áreas tropicais e montanhas – clima quente ou seco aumenta a perda de fluido, reduzindo o volume urinário. A chance de desidratação é maior se o consumo de água for insuficiente. Beber pouca água resulta em menos urina, que fica mais concentrada (escura) e com pH mais ácido, aumentando a possibilidade da formação de cristais de oxalato.

Alimentos ultraprocessados

Obesidade e consumo de alimentos ultraprocessados também contribuem para o problema. Mudanças na alimentação e estilo de vida ajudam na prevenção da cristalização de minerais, e de doenças no coração e rins. O paciente com litíase deve passar por avaliação para seguir uma dieta e tratamento de acordo com a composição do cálculo. Sempre é indicado o aumento na ingestão de líquidos para atingir uma produção diária de 2 litros de urina. As melhores opções são água, chá, suco de frutas ricas em ácido cítrico (laranja, limão) e água de coco. Refrigerantes não devem ser consumidos, pois são muito ácidos (pH entre 2 e 3) e favorecem a formação de pedras.

Como são formadas as pedras nos rins?

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O processo de formação de cálculos renais é complexo e ainda não completamente compreendido. Simplificando, as pedras começam como cristais diminutos dentro do rim, provenientes principalmente de minerais filtrados do sangue para a urina. Por condições metabólicas diversas, os cristais podem se unir criando um núcleo central, sobre o qual camadas de material vão sendo adicionadas. As pedras diferem no tamanho, na forma, e na composição química. A formação de cálculos depende das anomalias no conjunto de minerais na urina, e há quatro tipos principais: cálcio, estruvita, urato e cistina.

Pedras de cálcio

Pedras de cálcio são predominantes, compreendendo 80% de todos os cálculos urinários. Elas podem ser de oxalato de cálcio puro (50%), fosfato de cálcio (5%) ou uma mistura de ambos (45%). Muitos fatores contribuem para a formação de cálculos de cálcio, como doenças metabólicas e absortivas que causam excreção aumentada de cálcio, de ácido úrico e de oxalatos na urina, e deficiência urinária de magnésio e citrato. A recorrência de pedras de cálcio é maior do que dos outros tipos de cálculos renais.

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Outras pedras

Pedras de estruvita (feitas de fosfato triplo) ocorrem em 10 a 15% dos casos, e estão associadas com infecções crônicas do trato urinário, causadas principalmente por Proteus mirabilis. Pedras de ácido úrico ou urato representam 3 a 10% dos casos. Dietas ricas em purinas, com alto consumo de carne e peixe, ácido úrico alto e baixo volume urinário com pH ácido (pH < 5,5) contribuem para a formação destes cálculos. Pedras de cistina ocorrem em menos de 2% dos casos, devido a uma desordem genética no metabolismo deste aminoácido. Além disso, alguns medicamentos favorecem a formação de pedras, como antibióticos, topiramato e drogas retrovirais, perfazendo menos de 1% dos casos.

Tratamento medicamentoso

Estima-se que 13% dos homens e 7% das mulheres terão uma pedra renal, com probabilidade de recorrência de 50% em até cinco anos. O tratamento inicial inclui analgésicos e medicamentos que facilitam a expulsão dos cálculos. A maioria dos pacientes consegue passar a pedra espontaneamente em três dias, e cerca de 20% dos casos exigem intervenção urológica. O médico pode prescrever comprimidos de citrato de potássio para reduzir a acidose renal e a baixa de citratos na urina (hipocitratúria).



Beber pouca água deixa a urina concentrada e facilita o acúmulo de cristais que irão formar as pedras 

Pela alta taxa de recidiva é interessante fazer mudanças nos hábitos diários, como hidratação adequada. Água pura é a faxineira mestra quando se trata de manter os rins limpos. Quando se bebe pouca água a urina fica concentrada e ácida, o que facilita o acúmulo e a cristalização de minerais, que vão formar as pedras. Beber pelo menos dois litros de água diariamente ajuda a prevenir a formação de cálculos renais, e também facilita a eliminação de cristais e pequenas pedras já existentes.

Alcalinizando a urina

Frutas e legumes são fontes naturais de bicarbonato e de precursores de bicarbonato, como citrato, acetato e malato, todos com ação alcalinizante. A formação de cálculos renais é fortemente influenciada por um pH urinário ácido. O principal antagonista das pedras de oxalato de cálcio (80% dos casos) é o citrato, presente em alta concentração em frutas cítricas, como laranja e limão, na água de coco e em menor concentração em berries, como morango e cranberry.

Citratos naturais

Sucos cítricos são ótimas fontes de citrato, e ainda fornecem potássio e magnésio, reforçando a alcalinidade. O citrato ingerido é absorvido no intestino e uma boa parte é metabolizada em bicarbonato, proporcionando uma carga alcalina, que por sua vez aumenta o pH urinário e a presença de citrato na urina. Um estudo de curto prazo mostrou que bicarbonato de sódio representa uma alternativa eficaz para o tratamento de formadores de pedras de oxalato de cálcio.

Vinagre de maçã

Pesquisas prévias mostraram que o acetato, um derivado do ácido acético presente no vinagre, pode ajudar na redução de danos nos rins, atuando no processo de inflamação. Em um estudo recém- publicado os cientistas descobriram que o vinagre inibe a formação de pedras de oxalato de cálcio, regulando a excreção urinária de cálcio e citrato em seres humanos. Adicionar vinagre de maçã na água e em sucos alcaliniza a urina, reduzindo ou bloqueando a formação de cálculos renais. Deve-se notar que vinagre e limão têm ação corrosiva no esmalte dos dentes e devem ser tomados sempre diluídos.

Água de coco

A água de coco é reconhecida por suas qualidades medicinais, incluindo hidratação natural, fornecimento de eletrólitos (sais minerais alcalinizantes como magnésio e potássio) e efeito diurético. O consumo de água do coco inibe o depósito de cristais no tecido renal e diminui a quantidade de cristais na urina. Melão, uma fonte não cítrica de potássio, citrato e malato, produz aumento na excreção urinária de citrato equivalente à laranja. Abacaxi e pera também entram nesta lista. Remédio bom: frutas ajudam na prevenção de cálculos e são deliciosas!

Referências

*Advances in Urology 2018. Kidney Stone Disease: an update on current concepts.

*Research & Reports in Urology 2019. The relationship between kidney stones & dietary habits.

*Urologe 2019. Current concepts on the pathogenesis of urinary stones.

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*Emergency Medicine Clinics of North America 2019. Kidney & Ureteral Stones.

*Urolithiasis 2016. Can the manipulation of urinary pH by beverages assist with the prevention of stone recurrence?

*Urology 2013. The effect of sodium bicarbonate upon urinary citrate excretion in calcium stone formers.

*EBioMedicine 2019. Dietary vinegar prevents kidney stone recurrence via epigenetic regulations.

*Biomed Research Int. 2018. Coconut Water: An Unexpected Source of Urinary Citrate.