por Anette Lewin
"Trabalho em uma empresa onde foram contratados jovens aprendizes e um deles foi trabalhar comigo. Ficamos sós no setor e brincávamos muito. Só que de repente ele me chamou de mulher carente, não gostei e o repreendi. Só que após esse pequeno caso, ele me ignora e não entendo sua aversão à minha pessoa, é como se estivesse muito sentido, me trata bem, mas é como se fosse obrigado. Sinto que tem ciúmes das pessoas que chegam até a mim. Eu não suporto ver ninguém chateado comigo, isso me machuca muito por dentro. Escrevo essas palavras e já estou chorando, quero muito vencer isso. O que poderá ter ocorrido? Tenho 43 anos e ele 18 anos."
Resposta: Talvez você esteja confundindo seu papel profissional com sua vida pessoal. Talvez, a "mulher carente" que ele mencionou realmente exista dentro de você e sofre mais do que deveria sofrer com uma pequena rejeição.
Profissionalmente falando, cada um tem seu estilo. Você pode brincar com os aprendizes, mas para tudo existe um limite. Quando ele tentou invadir sua vida pessoal com uma observação jocosa, você não gostou e o repreendeu.
Pare para pensar em qual seria sua reação se ele a chamasse de "mulher poderosa", por exemplo.
Será que seu sentimento seria o mesmo?
Será que você o repreenderia?
Ou você se sentiria animada e ao invés de uma bronca ele ganharia um sorriso?
Ou um estímulo para continuar com as "brincadeiras"?
Pois é… parece que existia aí uma tentativa inconsciente de moldar em seu estagiário como "o admirador" que você gostaria de ter. E quando ele saiu do script e apontou um "defeito", você não gostou e mandou-o de volta para sua posição de aprendiz. Aí foi ele que não gostou, não é?
Essa situação é bastante frequente em ambientes corporativos onde existem hierarquias de funções. E serve de alerta para que se pense até onde existe de fato liberdade entre funcionários que mantêm entre si relações de poder. Os que mandam e os que obedecem devem ter consciência dessa hierarquia e tomar os devidos cuidados com a exposição de sentimentos pessoais. Sim, essa exposição pode prejudicar. Tanto o que comanda quanto o que é comandado. No seu caso, você usou seu poder para repreender o aprendiz, quando ele usou a intimidade que você, afinal, permitiu, e fez uma brincadeira da qual você não gostou. Ele então usou o pequeno poder dele e criou um clima pesado, confuso e que incomoda você.
Assim são os relacionamentos: bateu, levou…
Agora, existem alguns caminhos para você se sentir melhor. Pode deixar como está esperando que o tempo se encarregue de atenuar o clima criado. Afinal, vocês são colegas de trabalho e estão ali, antes de mais nada, para trabalhar. Ou pode ter uma conversa com ele, tomando muito cuidado para não se expor mais do que já se expôs.
De qualquer forma, se esse episódio continuar atormentando você por muito tempo, procure ajuda profissional para evitar que essa situação se repita. Novas pessoas entrarão na empresa e, se você gosta de se aproximar delas, brincar e criar laços de amizade, tem que saber fazer isso sem se expor a ponto de ter que usar o poder como freio e receber o ataque como resposta.
ATENÇÃO: As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psicologia e não se caracterizam como sendo um atendimento