Penso que se podem estabelecer três diferentes e sucessivos estágios para a fé religiosa. O primeiro, mais primitivo e mais frequente, o infantil, caracteriza-se por uma atitude semelhante à da criança que aceita tudo o que lhe é dito sem discussão e sem dúvidas.
Para as pessoas que vivem a fé nesse estágio, as palavras do líder religioso são como as de um pai e as afirmações da religião são recebidas sem margem para qualquerapreciação. Sua atitude é de submissão sem hesitação. Em geral, são pessoas com pouca capacidade para pensar e para questionar. Muita gente passa a vida nesse estágio, sem evoluir.
Outros se movem para um estágio seguinte, a fé adolescente. É a fase de rebeldia e questionamento em que as crenças e afirmações religiosas se tornam alvo de umceticismo exacerbado. As pessoas nesse estágio – apesar de não se poder dizer que sejam religiosas – estão em um nível mais elevado de espiritualização em relação ao estágio anterior. Suas incertezas denotam preocupações éticas e morais, um esforço pela busca da verdade e a recusa em aceitar uma obediência cega. Essa nova maneira de ser abre espaço para o aparecimento de uma postura reflexiva, onde a capacidade para pensar passa a cumprir um papel importante na evolução espiritual. A passagem para esse estágio adolescente abre caminho para a conversão a um estágio adulto.
Chamo de estágio adulto da fé a um patamar que a pessoa atinge quando, depois de passar por um período de ceticismo, busca seu encontro com algo que nos transcende. Geralmente essa procura se processa lentamente, ao longo dos anos. Pessoas interessadas em seu próprio desenvolvimento espiritual aos poucos começam a questionar sua descrença e a ver o ateísmo como uma crença com sinal negativo.
Porém, ao sentir necessidade de evolução espiritual, percebem que o caminho passa por uma mudança de postura. Tais pessoas chegam a um melhor desenvolvimento de sua espiritualidade reaprendendo a se maravilhar com o fenômeno da natureza e com a beleza das coisas na terra. Entendem a transitoriedade da vida e aceitam saborear omilagre de simplesmente existir e de encontrar manifestações do sublime e da transcendência em si mesmas e no mundo ao redor.