por Roberto Goldkorn
Uma leitora me escreveu protestando contra o meu artigo anterior onde eu escrevi, que "a falta de dinheiro, a depressão, a situação política do país…não podem servir de pretexto para deixar a casa despencar…
A leitora disse que sofre de depressão desde a infância e que eu deveria saber que se trata de uma doença que acomete milhões de pessoas em todo o mundo. Ela termina dizendo que eu fui no mínimo descortez com os portadores da doença. Gostaria de aproveitar e dizer não só a leitora como a todos os depressivos, que não me referi à depressão (doença bioquímica do cérebro) e sim a depressão dos deprimidos, desanimados, desmotivados, condição temporária e não patológica.
Não fosse assim não a compararia com outras condições temporárias como a falta de dinheiro, a crise do Iraque, a situação do país e etc. Como a mesma palavra serve para designar as duas condições daí a confusão, mas esse ainda não é o ponto onde quero chegar. Ao longo desses muitos anos de estudo e prática percebi que as pessoas com distúrbios emocionais, dos mais leves aos mais graves, não só defendem a sua doença com argumentos muitas vezes até bem embasados, mas também criam ambientes onde esses distúrbios são alimentados.
Cada vez mais acredito que o Feng Shui que faço deveria se chamar de arquitetura psicológica. As pessoas com esses déficits emocionais escolhem ou remodelam as suas moradias para reforçar suas doenças. É comum, vermos homens ou mulheres que tenham disfunção do desejo (apatia sexual), dormirem em quartos onde as camas fiquem em frente a porta do banheiro ou tenham uma televisão no nível dos pés. Tanto uma como a outra situação leva a uma drenagem da energia sexual (além de poder causar problemas renais e outros).
Pessoas melancólicas, angustiadas, e mesmo com níveis moderados de depressão (doença) montam quartos com predominância da cor azul, mantêm quadros ou ilustrações onde figuras humanas aparecem olhando para baixo, com expressão de tristeza ou dor. Psicóticos em geral criam ambientes caóticos, bagunçados, onde é fácil para a sujeira, o mofo, a umidade, se esconderem e dali irradiar a sua energia venenosa. Claro que sempre há boas justificativas: falta de espaço, vida corrida, falta de dinheiro para consertar, comprar armários etc.
Pessoas normóticas (aquelas que são doentiamente reativas a qualquer tipo de mudança ou progresso), têm horror a cor, buscam manter o monocromatismo de suas casas, e têm muita dificuldade de se livrar do passado. É comum, vermos esses "colecionadores" guardando maçanetas de portas de 20 anos, jornais e revistas velhas e mofadas, tampinhas de refrigerante de um concurso de 30 anos, carrinho de feira quebrado e até garrafas vazias. Esse "arquivo morto" concentra uma energia de estagnação, que vai gerar doenças como arteriosclerose, aterosclerose, artrites, nefrite e outras.
Costumo ouvir boas desculpas como "quem guarda sempre tem!" A casa reflete em maior ou menor grau a doença dos seus habitantes, mas da mesma forma pode ser um veículo de cura dos mesmos, quando estes desejam verdadeiramente se curar. Já fui daqueles que forçavam a pobre senhora a atravessar a rua, só para fazer a minha boa ação do dia, hoje aprendi a lição. Quando percebo que está diante de mim, alguém que defende a sua doença com unhas e garras, puxo o meu carro. Se você tem consciência de que está doente, é quase certo que contaminou a sua casa com essa doença. Se conseguir ajuda para curar a sua casa estará dando um grande passo para também se curar.
Mas não basta arrumar a casa e deitar na cama, é preciso cuidar para que a doença humana sempre dinâmica não volte a infectar a casa. Orai sim ,mas vigiai também.
Quando recebo uma reclamação de que a vida social da pessoa está se fechando vou em busca de um sofá sem braço na sala, ou de um muro alto em volta da casa. Quando a reclamação é de que a vida social está invadindo a vida privada, que há muita fofoca, maledicência e inveja, vou buscar os porta retratos na sala, expondo ao "público" os momentos de felicidade daquela família. Quando a reclamação é dos relacionamentos que inexplicavelmente não dão certo, procuro por pistas de egocentrismo, egoísmo, territorialismo, e possessividade (tapete só de um lado da cama, criado mudo maior do lado da cama onde a pessoa dorme, ausência de mesa de refeições, hall estreito e mal iluminado etc).
Pessoas espaçosas, que invadem a vida do outro, são exageradas, como elefantes em lojas de cristais, costumam fazer da sua casa (e do quarto) um museu, há tantas peças e trecos que fica difícil a locomoção. Quando pedimos que faça uma "dieta" de coisas, elas reagem : "mas são as minhas coisas!". A lista parece infindável, mas a nossa capacidade de nos mostrar na arquitetura e decoração da nossa casa também é.
Conheço gente que gasta fortunas em médicos e remédios anos a fio sem resultados reais. Se mudassem de casa, ou mudassem a casa, ganhariam uma outra vida de presente. Mas como prevê sabiamente a homeopatia há pacientes incuráveis, não porque a sua doença ainda não tenha cura, mas porque não querem ser curados, e isso no Feng Shui Real fica muito claro ao se observar o ambiente "doente".
Voltando ao início, a depressão (dos depressivos) é uma doença bioquímica, com excelentes resultados a partir da conjunção de tratamento medicamentoso e terapia, mas uma casa "curada", solar, arrumada, organizada, alegre, aconchegante, onde cada cômodo é tratado de forma própria, pode contribuir para esse sucesso. Para a minha leitora eu repito uma pergunta sábia: "o que você quer, ter razão ou ser feliz?"