por Paulo André Barbosa Panetta – psicólogo componente do NPPI
Férias escolares. Para a garotada, época de diversão. Tempo de passar longas tardes na praia, de brincar com o amigo-colega que também está de recesso escolar. De ficar à toa. De acordar e dormir tarde, sem apreensões com a hora de levantar e/ou deitar. Época de jogos, sejam na rua (esconde-esconde, pega-pega, ou qualquer outra brincadeira infantil que todos nós conhecemos muito bem), ou casa de algum amigo (onde as opções basicamente são resumidas a videogame ou computador e talvez, quem sabe, algum jogo de tabuleiro). Para a garotada é tempo de distração sem limites.
Férias escolares. Para os pais, época de preocupações extras com a garotada, seus filhos. É um período do ano em que todo adulto responsável por um infante, se pudesse, daria férias para si mesmo. Ao cansaço das atividades laborais cotidianas somam-se os aborrecimentos de cuidar dos filhos, que pesteiam a casa com bagunça e coisas fora do lugar. Brigas tornam-se rotineiras pelo simples fato que a rotina e o contato de ambos (pais e filhos) serem mais próximas nesta época de ano. Muitos não aguentam: mandam os filhos para lugares distantes e calmos, como sítio ou casa de algum parente que reside no interior. Já outros, menos afortunados, são obrigados à rendição às peraltices da garotada. Para esses, férias é sinônimo de inferno.
Nas férias é muito comum ouvir pais desafortunados reclamando da rotina dos filhos. Reclamam que os filhos acordam tarde e já bagunçam tudo. Reclamam que os filhos dormem tarde, fazendo sempre muito barulho. Reclamam dos amigos dos filhos, das brincadeiras pouco "educativas" e do tempo desnecessariamente alto gasto dentro ou fora de casa.
Para os pais, de um modo geral, julho é mês de controle redobrado com possíveis fatores que "desvirtuam" a vida de seus filhos. Um exemplo é as horas gastas em frente à T.V. E nos últimos tempos assistimos o desenvolvimento de mais um fator "desvirtuante" da garotada e preocupante para os pais: a Internet.
A preocupação dos pais com a Internet em relação aos seus filhos pode ser resumida, basicamente, a dois pontos.
(1) As horas em que a garotada gasta navegando pela net e (2) os sites acessados.
Ao primeiro ponto é comum pais responderem com limitações de tempo, argumentando que o filho poderá ficar viciado, se passar o dia inteiro só navegando e não querer saber de outra coisa. Porém, não é verdade que o tempo gasto na net seja, por si, causa de uso patológico. O vício em Internet é majoritariamente caracterizado pela mudança de comportamento do usuário: ele deixa de fazer atividades importantes para ficar navegando, ou então, apenas faz tais atividades para poder navegar. Com o decorrer do tempo, o mesmo substitui suas relações presenciais por relações virtuais.
Já o segundo ponto é preocupante devido ao conteúdo (pornográfico, por exemplo) dos sites acessados. Pais respondem bloqueando com senhas possíveis acessos dos filhos. Mas, assim como limitar o tempo dispensado na net é sempre contornável pela garotada, também as senhas são pouco eficazes. Não é difícil um garoto desbloqueá-la, ou fazer a navegação em algum outro lugar, como a casa de algum amigo. Aliás, neste aspecto, a casa do amigo tornar-se-á o lugar favorito de muitos filhos de pais excessivamente zelosos.
Dificilmente um garoto de até dez anos irá desenvolver uso patológico da Internet. Existem alguns casos, mas são uma minoria (apesar das pessoas nessa faixa de idade serem grandes usuárias). Isso porque outras atividades recreativas competem com o uso da Internet, tornando a frequência de acesso instável e pouco constante. A preocupação reside na falta de outro lazer, de outra atividade recreativa. Férias são, acima de tudo, época de lazer para a garotada. Embutir bloqueios também é inócuo. Sabemos que proibições servem apenas para serem quebradas e dificilmente são respeitadas. Quando quebrados, pais logo se apressam a construir um novo, que os filhos novamente descobrem e quebram, em uma espiral infinita que apenas azeda ainda mais as relações entre ambos.
Qual a saída, então, para esse aparente impasse? O que os pais poderiam fazer para reduzir as preocupações vindas da relação dos filhos com o computador? Primeiramente, eles poderiam investir em outras opções de lazer, como cinema, ou viagens e passeios. Opções de lazer que sejam, de preferência, fora de casa. Gastar mais tempo ao lado dos filhos também não é uma má idéia. Pais ausentes são, quase sempre, um dos ingredientes para filhos com comportamentos problemáticos. Inclusive para comportamentos relacionados com o computador. A Internet é um novo instrumento de comunicação entre o homem e o mundo. Guardadas as devidas proporções é, para os pais, análogo à T.V. quando eles ainda eram filhos. Muitos pais, ao se depararem com os filhos muito "ligados na Internet", apenas repetem as mesmas ações que sofreram de seus pais quando passavam horas assistindo programas na T.V. Mas, repetir tais ações não impede o uso inadequado, como não impediu na época. E, talvez até mesmo não seja correto, como também não era na época.