por Patricia Gebrim
O calor está ficando mais intenso, os dias mais azuis, o ano vai se arrastando em direção a mais um término. É nessa época que todos começam a enlouquecer, afinal, depois de tanto trabalho, sentem-se mais do que merecedores das tão desejadas férias de fim de ano!
Começa a correria para logo reservar um hotel, ou ao menos uma pousada, em uma praia bacana. E o estresse vai aumentando quando vamos nos dando conta de que já estamos atrasados, quando não conseguimos reservar vôos ou encontrar lugar no tão desejado hotel. O que era para ser um momento paradisíaco de descanso e tranquilidade, uma forma de nos compensarmos por um ano de trabalho e tanto esforço, acaba tornando-se uma luta, antes mesmo de acontecer.
Fico pensando em como andamos perdidos em meio às exigências do mundo moderno.
O nosso dia a dia virou uma batalha sem fim, tão exaustiva que nos deixa enlouquecidos a ponto de “vender a alma” por um assento em um avião ou um quarto em um resort bacana qualquer. Isso sem falar na angústia que muitos sentem ao pensar nas tais festas de fim de ano. Para alguns o Natal e o Revéillon são momentos de alegria, mas para muitos de nós são momentos em que temos a obrigação de estar felizes, de nos divertirmos, de ficarmos bem a qualquer custo.
Se acabasse por aí, não seria tão mal, mas o fato é que depois de todo esse esforço, um dia nos vemos confortavelmente sentados em uma espreguiçadeira ao lado da mais maravilhosa piscina, com um drink exótico nas mãos, em frente a uma maravilhosa praia de areias brancas, e tudo o que conseguimos sentir é … tédio!
De tanto correr em nosso dia a dia , acabamos viciados nessa agitação, o que nos rouba a possibilidade de aproveitar o tão merecido descanso à beira-mar. Não conseguimos simplesmente relaxar e desfrutar. Precisamos “fazer”, “fazer”, “fazer”.
O que anda acontecendo conosco?
Se continuarmos nesse ritmo, um dia olharemos no espelho e veremos que antenas despontam por entre nossos cabelos.
– Estamos nos transformando em robôs!
Não posso deixar de pensar em como seria se nos recusássemos a agir como se fôssemos peças dessa engrenagem. Se mesmo agora, em meio a nossas atividades cotidianas, preservássemos alguns prazeres simples que nos definem como seres humanos. Se “sentíssemos” mais as coisas simples da vida, parando de agir como máquinas fazedoras de coisas.
Se nos permitíssemos uma pausa no trabalho para um telefonema a um amigo querido. Se criássemos singelas ilhas de humanidade nesse cotidiano robotizado na direção do qual todos temos sido empurrados. Se nos atrevêssemos a prejudicar um pouquinho a nossa produtividade em troca de um momento de humanidade (será que nossa produtividade seria mesmo prejudicada?).
Se ao voltar do trabalho, ao invés de nos conectarmos imediatamente àquela outra máquina, chamada televisão, acendêssemos velas douradas em nossa casa (com segurança, é claro… não estou propondo nenhum incêndio!), colocássemos uma música bonita para tocar, tomássemos um banho com cheirinho de flores, brincássemos com um animalzinho de estimação, conversássemos com nossos parceiros, fizéssemos um pouquinho de carinho em nossos filhos, fechássemos os olhos e mergulhássemos na calma que existe em algum lugar lá dentro de nós.
Quem sabe assim nos sentíssemos vivos outra vez e não precisássemos desesperadamente de férias para nos dar uma sensação de vida ao menos uma vez ao ano.
Quando eu vejo todo esse caos nos aeroportos, os congestionamentos nas estradas nos feriados, essa loucura toda que vai se intensificando nesta época do ano, tento perceber qual pode ser o aprendizado escondido por trás desse panorama.
Eu sempre gosto de buscar o que pode estar por trás dos fatos… Por que isso está acontecendo? O que temos que aprender com isso?
Eu não estou negando que existam problemas reais que necessitam de soluções reais! Ok, é claro que muito precisa ser feito para que a crise aérea e do turismo possa ser minimizada.
No entanto, repito… por que estamos tendo que passar por isso?
Estamos enlouquecendo na mesma proporção em que os vôos atrasam, em que as estradas ficam apinhadas de carros?
Como podemos lidar com isso de forma diferente?
O que estamos buscando com tanta intensidade?
Repito. Penso que estamos em busca de “vida”. Precisamos desesperadamente nos sentir vivos, sentir que não somos máquinas fazedoras de dinheiro. E é como se só existisse vida fora de nossas rotinas, em momentos de férias ou de lazer. Sorte das agências de viagens, modernos "bancos de sangue"!
Esse, a meu ver é o engano a que todos estamos sendo levados a crer. Que trabalhamos para pagar por um pouquinho de sangue em nossas veias, por duas semaninhas de férias no final do ano, por três dias quando é feriado. Passamos meses mortos, agindo como robôs, para comprarmos momentinhos de vida em meio ao mar do Caribe, em alguma praia no Nordeste ou algo assim…
Quer saber? Estamos enganando a nós mesmos!
Enquanto não conseguirmos nos sentir vivos todos os dias, aqui e agora, não serão as férias que trarão o sangue de volta a nossas veias!
Experimente. Desligue a televisão, diminua o seu ritmo, abra espaço para mais trocas humanas. Perceba que a nossa vida já é uma maravilhosa viagem. Desfrute-a. Aqui. Agora.
Consideraçãoes finais:
Precisamos de pausas no dia a dia, sair da rotina, desfrutar de simples deleites, como ouvir boa música, brincar com o bichinho de estimação, papear com aquele velho amigo… Ao humanizar nosso cotidiano com uma vida de mais qualidade, não depositamos todas nossas esperanças de paz e descanso nas férias que duram apenas semanas.