Por Ana Beatriz Silva
A síndrome do lazer pode ser definida pela presença de crises de ansiedade, angústia, dores de cabeça e/ou musculares, náuseas e fadiga em indivíduos que encontram-se fora de suas atividades. O problema afeta homens e mulheres que apresentam um comportamento compulsivo pelo trabalho e por isso mesmo manifesta-se nos finais de semana, feriados prolongados e principalmente em períodos destinados às férias. Estima-se que tal comportamento afeta até 5 % da população economicamente ativa.
Na realidade, a síndrome do lazer nada mais é do que a conseqüência adoecida de um comportamento socialmente aceito e estimulado que é leigamente chamado de ‘workaholic’ ou ‘viciado em trabalho’.
Como toda compulsão, a compulsão por trabalho é estabelecida através de uma combinação de diversos aspectos. Entre eles destacamos:
– Biológico: responde pelo tipo de personalidade do indivíduo
– Psicológico: responde pelo gatilho que irá acionar a repetição do comportamento
– Social/cultural: responde pela forma, conteúdo e intensidade que o comportamento compulsivo irá adquirir
O perfil do ‘workaholic’ e, conseqüentemente, do candidato à síndrome do lazer é bem estabelecido: trata-se de indivíduos perfeccionistas, controladores e inseguros que costumam trabalhar mais de 10 horas por dia e vivem sob stress constante.
O ‘workaholic’ ou viciado em trabalho tende a ter uma grande aceitação social, uma vez que este tipo de compulsão costuma ser associada a níveis de produtividade fora do comum. Esta associação, no entanto, não corresponde à realidade, pelo menos em sua plenitude. Afinal o ‘workaholic’ é tão obcecado em agir no trabalho que ele pode, na verdade, estender suas tarefas retardando suas conclusões e prejudicando com isso a sua produtividade final. Além disso, ele tende a atrofiar todos os demais setores de sua vida (pessoal, afetiva, social e familiar), o que costuma lhe render muita culpa e remorso.
O comportamento ‘workaholic’ tenderá com o passar do tempo a ser cada vez mais considerado um funcionamento patológico. Afinal, a automação industrial tem nos levado a uma sociedade onde os empregados são em sua maioria trabalhadores intelectuais, aos quais são solicitadas idéias e não ‘parafusos’. E a quantidade total de idéias produzidas não é diretamente proporcional à quantidade de horas de permanência no interior de uma empresa.
Quanto mais tempo se passa trancafiado numa empresa, menos estímulos criativos são captados por um empregado. Além disso, pessoas que costumam permanecer muito tempo em seus locais de trabalho tendem a ‘matar’ o tempo elaborando novos procedimentos para impor aos outros. E assim, com o tempo a empresa se reduz a um amontoado de regulamentos inúteis à sua eficiência, danosos à sua produtividade e letais à sua criatividade.
O trabalhador do futuro dividirá seu tempo livre, que tende a ser maior, em três partes:
– Cuidado com o corpo e a mente
– Cuidado com família e amigos
– Cuidado à sua coletividade
Fonte: Ana Beatriz Silva é psiquiatra