Ceres Alves de Araujo
As festas juninas chegaram. Nas grandes cidades, nos dias atuais, essa tradição se mantém principalmente nas escolas. Desde a pré-escola até o Fundamental 2, eventualmente também no Ensino médio, quermesses são preparadas, o cenário do arraial é planejado e executado, as músicas e as quadrilhas são ensaiadas.
Por tradição, as festas juninas começam no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio e se encerram no dia 29 de junho, dia de São Pedro. Já nos dias 23 e 24 é celebrado o dia de São João.
Esses três santos são lembrados no mês de junho, mas a origem das festas juninas é pagã. Antes da Idade Média, as celebrações anunciavam o solstício de verão no hemisfério norte e o solstício de inverno no hemisfério sul e homenageavam os deuses da natureza e da fertilidade. O solstício é o momento em que o sol durante seu movimento aparente na esfera celeste atinge a maior declinação em latitude medida a partir da linha do equador.
O solstício de inverno é um fenômeno astronômico que marca o início do inverno. Ocorre normalmente por volta de 21 de junho no hemisfério sul, sendo a noite mais longa do ano. A partir desse dia, o sol começa a se aproximar da Terra e a escuridão do inverno começa a ir embora. Na antiguidade se acendiam fogueiras nessa festividade e dançavam-se, ao redor delas, girando muitas vezes, como forma de atrair mudanças tanto internas como externas. Era o tempo de celebrar o espírito da terra, pedindo coragem para enfrentar os obstáculos e dificuldades que se atravessarão até a chegada da primavera. É o momento de cantar e dançar, celebrando a vida e a união. E também o momento de se acender a fogueira, como elemento mágico capaz de trazer o Sol de volta.
Posteriormente a Igreja acabou aderindo às festas juninas, atribuindo-lhes um caráter religioso. Em Portugal, em virtude da coincidência de datas, passou-se a comemorar a noite de São João, chamando-lhe de festa joanina. No Brasil, as festas juninas foram introduzidas pelos portugueses no período colonial e, desde então, a comemoração sofreu influências das culturas africanas e indígenas e, por isso, possui características peculiares em cada parte do Brasil. A princípio comemorava-se apenas a festa de São João, depois, como os dias de Santo Antônio e São Pedro aconteciam no mês, eles foram incorporados às festas chamadas então juninas.
As festas caipiras, como são também conhecidas, são mais típicas das regiões Nordeste e Centro-oeste do Brasil, mas com o tempo foram ganhando características também das outras regiões do País. Atualmente fazem parte do folclore brasileiro, com as fogueiras, bandeirinhas coloridas, barracas de comidas típicas e danças de quadrilha. A maioria das comidas típicas das festas juninas é feita de milho, pois junho é o mês da safra de milho em muitas regiões brasileiras. Aproveita-se também para agradecer aos santos pela colheita farta.
A fogueira é parte central do cenário das festas. Sua origem é pagã e simbolizava a proteção contra os maus espíritos. A tradição foi mantida e uma fogueira quadrada é dedicada a Santo Antônio, uma redonda a São João e uma triangular a São Pedro. A quadrilha é a dança típica e consiste em um baile de casais com roupas caipiras. O casamento caipira é uma homenagem a Santo Antônio, o santo casamenteiro.
Nos dias atuais, as crianças pouco sabem dessas origens e símbolos. São vestidas com roupas coloridas e remendadas, usam chapéus de palha e são pintadas. As meninas com sardinhas e batom e os meninos com bigodes e cavanhaques. A poucas crianças são explicados os sentido de tais roupas e das festas em geral, o que é uma pena. Assim, com alguma frequência elas se recusam a usar essas roupas e essas pinturas, preferindo vestir a roupa das princesas, da Mulher Maravilha, do Batman ou do Super-Homem… que para elas fazem sentido.
E elas têm razão. Por que usar um remendo colado sobre a roupa? Por que o chapéu de palha? São questões de crianças nascidas e criadas nas cidades nesse milênio e que não têm qualquer noção a respeito das origens dessas festas. Alguns dos pais e professores também não.
Cada país tem seus hábitos, costumes e tradições. É importante que eles sejam cultivados e ensinados às crianças. Mesmo em um mundo globalizado, o que caracteriza a cultura precisa ser valorizado. Nada é mais importante como marca de identidade de um povo do que a cultura em que esse mesmo povo se define. O folclore, os mitos, os símbolos, as crenças, tudo o que foi criado e conservado por gerações forma a nossa consciência e permite que nos reconheçamos pertencentes ao nosso país. Tradição e modernidade precisam caminhar juntos para se ter uma sociedade fortalecida.
Talvez, por se viver em uma época onde a pressão do tempo é grande, boa parte dos adultos desconsidera muitas tradições e não as passam às suas crianças, reforçando apenas os aspectos da modernidade.