por Roberto Goldkorn
Algo que muito me fascinava quando comecei a me interessar pela magia, era o fato de os magos poderem ficar "invisíveis" ao seu bel-prazer. Quem me relatou isso o fez com tamanha convicção, que não sobrou espaço para as dúvidas do que restou de minha mente cética.
O tempo passou e não tive o privilégio de ser contemplado com alguma demonstração dessa capacidade mágica. Muito mais tarde aprendi que isso era sim possível, mas mediante a uma operação mais prosaica que fantástica.
Meu mestre pediu que eu me lembrasse de alguns colegas de escola com quem estudei por quatro anos ou mais. Claro que lembrei-me de vários. Mas não de todos. Aos poucos puxando bem pela memória recordei de um pequeno grupo que sentava às vezes nas extremidades da sala e, mesmo ao chegar ao final do ano, não sabia seus nomes, eram os "invisíveis".
Truque da invisibilidade: colocar-se em "modo de espera"
Pensando em como esses colegas se escondiam da visibilidade, compreendi o grande truque de invisibilidade dos magos: eles se colocavam em modo de espera igual nossos aparelhos eletrônicos atuais. Ou seja, operando com um mínimo de consumo de energia. Alguns faquires da Índia usam o mesmo processo, só que em base puramente fisiológica: baixam seu metabolismo o máximo possível, assim consumindo o mínimo de energia; de oxigênio e de outros nutrientes vitais como a água. Nesse estado podem ficar semanas sem beber nem comer ou às vezes enterrados sobe montanhas de terra e areia.
Os grandes Magos conseguem essa façanha que se torna mais grandiosa ainda devido ao seu brilho intenso, seu ego superestruturado conseguido à base de anos e anos de exercícios de fortalecimento de Vontade.
Para nós simples mortais a invisibilidade quando acontece e fruto de uma dissolução social. Ficamos invisíveis quando estamos no meio de muita gente, cada qual envolto em seu casulo preocupacional, suas defesas e abstrações. Pessoas extremamente tímidas costumam ficar invisíveis em contextos sociais, principalmente quando podem ser cotejadas com personagens de egos expostos, verborrágicos e teatrais.
Na sociedade atual, os invisíveis não são bem-vistos, desculpem o trocadilho, pelo menos até mostrarem algum supertalento muito útil e lucrativo. Nós introduzimos o "marketing pessoal" e os livros sobre como "crescer e aparecer" fazem sucesso por motivos óbvios.
A invisibilidade social pode ser inclusive geradora de doença e de um sentimento dolorido de inadequação. Algumas categorias profissionais entre elas a dos limpadores de ruas, reclamam que são invisíveis aos olhos do público que passa diante deles como se não existissem. Isso não é verdade; nas grandes cidades superpovoadas, passamos uns pelos outros sem nos notar como individualidades e nunca poderia ser diferente. Somos uma massa humana que passamos uns pelos outros como se fôssemos fantasmas.
Alguns poucos se incomodam com isso, e buscam formas de chamar atenção sobre sua pessoa de qualquer forma; seja pintando o cabelo de rosa e azul, seja usando roupas rasgadas ou escandalosas, mas em algumas cidades, como Londres e Nova Iorque, nem isso tem sucesso em chamar a atenção.
Mas a invisibilidade perdida tem seus encantos e utilidades. Quanto menos sou notado, solicitado e visado, mais espaço para crescimento interno consigo, o que posso ou não usar de forma útil. Quando não tenho de fazer malabarismos emocionais e pirotécnicos para ser visto e detectado no radar dos outros, menos energia gasto com essas manobras de resultado duvidoso e assim sobra "dinheiro emocional" para investir em áreas mais promissoras.
Uma conhecida contou-me certa vez que estava num ônibus lotado que foi assaltado, praticamente todos os passageiros foram roubados menos ela e mais dois. Eles ficaram "invisíveis" aos assaltantes, sem usar magia é verdade; apenas submergiram em seu mundo interior e deixaram pouca energia para consumo externo.
Reconheço que o conselho de ficar invisível para quem investiu muito em ter um ego faiscante é daqueles difíceis de engolir. No entanto, criar de vez em quando um manto de invisibilidade pode ser altamente lucrativo e trazer inúmeros benefícios para a nossa saúde mental e até física.
Alguns artistas muito famosos viajam a países exóticos apenas para curtir seus momentos de anonimato, ou seja, de invisibilidade. E todos nós, que estamos expostos a essa superexposição social deveríamos fazer isso de vez em quando.
Mas não é preciso gastar uma grana preta para viajar para o Butão (Ásia) ou para a Ossétia do Sul (país vizinho ao sul da Rússia). Podemos ir para algum lugar mais perto mesmo dentro de nós, levados no veículo do silêncio.
Uma coisa é se misturar à multidão em Nova Iorque ou na esquina da Ipiranga com Avenida São João, e experimentar a sensação de perder o rosto diluído na multidão, outra é buscar deliberadamente esses momentos de invisibilidade controlando o ritmo da respiração, fechando os olhos e encurtando o espaço sensorial para alguns milímetros além de nossa própria pele.
Isso não é propriamente um convite à meditação, pode ser feito no metrô lotado, na praia, naqueles minutos do cafezinho na empresa ou sentado no vaso sanitário.
Ficar invisível ajuda a recuperar rapidamente não só as energias sugadas pelos vampiros de nosso dia a dia, mas também a redirecionar o rumo interno quando por algum impacto externo ele se perdeu momentaneamente.
Ficar alguns instantes invisível não significa desligar-se do mundo ou alienar-se, você está no mundo, mas sem deixar-se arrastar por sua correnteza voraz.
Mas se ainda restam dúvidas…
Dicas para praticar a invisibilidade controlada:
1º) Controle a vontade de revelar algum segredo.
2º) Controle o desejo de fazer alguma crítica ou reclamação.
3º) Faça três respirações profundas ou de um suspiro.
4º) Olhe-se num espelhinho de mão por alguns minutos – com a expressão séria e vá fechando os olhos lentamente.
5º) Procure ouvir apenas o pulsar de seu coração e ruídos internos. Se quiser pode fazer um som gutural do tipo huuummmm.
6º) Imagine que está tão leve, que quase levita.
Pronto, você alcançou seu primeiro grau de invisibilidade. Quanto aos outros graus… estão no plano espiritual…