Por Anette Lewin
Depoimento de uma leitora
“Minha esposa me mandou uma mensagem dizendo que estava pensando no futuro, se iriamos ficar juntas pra sempre! Minha mãe ficou viúva há 4 anos atrás e ficou muito dependente de mim. Hoje ela já está menos, mas minha companheira fica muito nervosa em às vezes ir na minha mãe… essas coisas! Quando comecei a me relacionar, eu já tinha tido essa perda na minha vida e minha mãe já era dependente! O que eu faço?”
Resposta: Disputa por atenção entre sogra e nora faz parte dos conflitos clássicos ligados ao casamento. Afinal, mulheres costumam querer atenção exclusiva de seus parceiros (as).
No seu caso, uma mulher que tem outra mulher por companheira, essa disputa envolve um trio feminino. Sua atenção está sendo disputada por quem a criou, sua mãe, e por quem a escolheu, sua companheira. Como você também é mulher, conhece bem as armas e os ardis femininos. Isso pode ajudá-la a resolver a questão tentando perceber, e, na medida do possível, suprir, as necessidades dessas duas mulheres que estão na disputa por você, sem abrir mão do seu conforto e de suas próprias necessidades.
É claro que você tem, teve e sempre terá argumentos para justificar a atenção que dá à sua mãe: ela sempre cuidou de você, perdeu o marido e está sozinha, enfim, por lógica cuidar de uma mãe nunca é errado.
Acontece que o ciúme não faz parte do campo lógico, mas sim do emocional. E quase sempre num casal, independentemente da orientação sexual dos envolvidos, existirão as figuras clássicas: a que será mais ciumenta, a que terá um relacionamento mais simbiótico com mãe ou pai ou a que colocará o parceiro(a) no também clássico “ ou ela ou eu”.
O conflito que você relata, portanto, é bastante comum e envolve uma parceira que a coloca frente a uma “ escolha de Sofia” (referência ao filme onde a prisioneira de um campo de concentração, mãe de uma menina e um menino tem que escolher qual dos dois irá morrer). Esse tipo de escolha é muito difícil, mas em casos como o seu, pode e deve ser evitado. Você não é obrigada a escolher entre duas pessoas que, afinal, desempenham papéis diferentes em sua vida. Apenas deve se posicionar de forma a ser respeitada por ambas.
Se sua esposa não gosta de sua mãe, ok, ela não é obrigada a gostar ou conviver com ela. Afinal, ela optou por se relacionar com você e sua família de origem não deve ser uma imposição. Mas você também não é obrigada a abandonar sua mãe porque se casou com ela.
Visite sua mãe sozinha, dê a ela o apoio que você julga necessário, mas tente fazer isso de uma forma discreta. Não faça de sua mãe tema de discussão entre vocês; quando estiver com sua companheira fale de assuntos que interessem a ambas. Certamente ela se sentirá mais confortável do que tendo de ouvir ou dividir com você as questões relativas à solidão ou as necessidades de sua mãe.
Avalie essa dependência
Por outro lado tente avaliar se essa dependência que sua mãe tem de você se encontra dentro de um limite razoável. Se você estimular sua mãe para que tente refazer sua vida, encontrar novas atividades, novas amigas e, quem sabe, até um novo amor, você estará resolvendo o seu problema e o dela. Por mais que sua mãe mereça todo o seu carinho e dedicação, é importante que ela preserve sua autonomia e se sinta dona de sua própria vida. Pelo menos enquanto tiver sua saúde física e mental preservadas.
Quanto à forma de sua companheira pressionar você, dizendo que “estava pensando no futuro e não sabe se ficarão juntas”, evite dar muita atenção a isso. Se toda vez que ela fizer esse tipo de pressão você correr para dar atenção a ela, claro que ela vai usar esse recurso para chamar sua atenção.
Se você acha que a relação tem que ser rediscutida faça isso num momento de neutralidade; chame a para conversar, explique seus pontos de vista, ouça os dela, e avalie se a relação ainda é viável.
Afinal, o futuro de uma relação não é decidido na teoria e sim no dia a dia. Se os momentos bons superarem os problemas ela dura; caso contrário ela acaba. Tanto sua parceira como você não sabem o que o futuro reserva. A relação dependerá do cuidado que ambas dedicarem ao relacionamento. E do respeito que cada uma terá pela parceira tanto nas decisões em conjunto quanto nas necessidades individuais. Afinal, casamento não é submissão. E necessidades individuais continuam a existir apesar do convívio. Respeitá-las é essencial.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.