por Samanta Obadia
O desejo é um tema recorrente em nossa sociedade: nas novelas, nos jornais, nos consultórios psicanalíticos, nas artes e nos papos de bar. Freud explica! Afinal de contas, o que é um ser humano, senão um ser que deseja? Um animal pulsante que busca a satisfação de seus anseios e de suas carências. Um ser que fantasia, e como!
E se depender da mídia consumista, o estímulo aos desejos escalarão uma montanha infinita, no sentido ilusório da satisfação desmedida, a fim de atingir os seus objetivos, posto que, atualmente, o discurso social defende o hedonismo, o prazer em primeiro lugar, o aproveitar o momento, o ‘ficar’ com o outro sem compromisso, sem afetividade, sem escrúpulos.
Ouvindo e pensando a letra da música “Queda” de Celso Fonseca, percebi o quão tênue é a linha entre a moral e o desejo. E nesse lugar, habita a tão desejada fidelidade. Ideia paradoxal, visto que os desejos, dizem, depõem contra a fidelidade, pois caminham em direções opostas.
Realmente, os desejos egoístas buscam a satisfação do ego, e assim, levam à infidelidade, pois caminha na direção inversa aos valores de amizade, gentileza, amor, respeito e aos pactos estabelecidos nos encontros.
Os desejos em si não são ruins, perigo há no que faço com eles, e só a crença de que eles são mais fortes que eu, pode acarretar isso. Como bem fala a letra da música:
“Afinal nós não somos sacanas
Somos gente bacana
Somos seres do bem
Mas que eu queria eu queria
Só um pouquinho eu queria
Assim pra ver eu queria
Mas vamos deixar pra lá
Vamos deixar pra lá”
Os desejos existem e nos habitam, nos carregam e nos inebriam, mas nós damos rumos a eles, com responsabilidade e discernimento, ou não.
E a fidelidade deve caminhar na direção de si mesmo, porque quando traímos os sentimentos alheios, através de atos egoístas, perdemos a fidelidade aos nossos verdadeiros sentimentos, e se não conseguimos ser fiéis a nós mesmos, como poderemos manter pactos de aliança com o outro?
1. O hedonismo (do grego hedone que significa prazer) é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana.