por Eliana Bussinger
Para a maioria dos países desenvolvidos, homens casados ganham mais do que os solteiros. É o chamado prêmio do casamento. Essa diferença em relação ao homem solteiro ou divorciado persiste, apesar de tantas mudanças relacionadas a gênero nas últimas décadas.
Duas razões foram observadas para isso, a primeira e também a mais provável, está associada ao clássico papel da divisão de trabalho dos gêneros. A outra razão, provavelmente estaria ligada a características relacionadas a comportamento: homens bem-sucedidos na construção da família, também usam essas características para serem bem-sucedidos no trabalho: equilíbrio, disciplina, calma.
Segundo o IBGE, quando a pessoa de referência no domicílio brasileiro é a mulher, o tipo mais comum de família é o sem cônjuge com filhos. Ou seja, quando a mulher é a principal provedora da família, ela geralmente está sem um homem ao seu lado.
Ao contrário, quando a pessoa de referência é o homem, o tipo mais comum de família é o casal com filhos, diz ainda o IBGE. O homem quando é o principal provedor, tem uma mulher em casa dando suporte nos afazeres domésticos ou criando os filhos. O tempo livre para estudar, para trabalhar, para se desenvolver, se qualificar para salários maiores é maior nesse tipo de relacionamento. A mulher, quando é a referência, por estar sozinha, na maioria das vezes, deixa seus filhos com alguém, geralmente pagando por essa assistência. Um ônus que imediatamente reflete em seu orçamento presente (e obviamente futuro).
Além disso, muito provavelmente, a mulher chega em casa após o trabalho e vai exercer suas outras jornadas: cuidar da casa, dos deveres das crianças, cozinhar para elas. O ônus dessa vez recaí sobre outro recurso: tempo. Que deixa de ser usado em cursos, aperfeiçoamento, lazer, descanso, relacionamentos.
Nos estudos realizados em vários países do mundo, a maternidade é que deveria estar associada às características financeiras da mulher (qualidade do trabalho, investimentos e renda) e não o casamento. Assim, é provável que o casamento seja bom para a construção de ativos, tangíveis e intangíveis (como o caso do conhecimento que é um diferencial competitivo no mercado de trabalho). Segundo a Fundação Perseu Abramo, o homem brasileiro gasta 6 horas da sua semana em trabalhos domésticos, enquanto que a mulher brasileira consome, em média, 40 horas em trabalhos domésticos.
Qual o papel do homem e o da mulher em relação às finanças do casal?
Classicamente, grandes compras e grandes conquistas ficam a cargo do homem. Despesas diárias, miúdas, do dia-a-dia, as chamadas "pocket money", ficam por conta da mulher. Por que isso está errado? Porque a mulher administra o dia seguinte e o homem o futuro. Ora, quem delega seu futuro a quem quer que seja, vai vivê-lo da forma que aquela pessoa queira, certo? Para o bem e para o mal. Se o homem permanecer na família, se não houver divórcio e se ele for um bom administrador, o futuro poderá ser ótimo. Mas e se isso não acontecer? Ao contrário então, o futuro será vivido sem conquistas, sem investimentos, sem aposentadoria e poderá se apresentar de uma maneira que ninguém gostará de viver.
Portanto, o certo é que o casal discuta sempre as questões que envolvam despesas e investimentos, ou seja, questões orçamentárias. Tanto a mulher quanto o homem precisam estar a par de tudo que envolva o dinheiro do casal. Idealmente, ao menos, para que surpresas desagradáveis sejam evitadas ou mitigadas. Além do que, acho que nem mesmo os homens estão querendo mais essa responsabilidade de sozinhos administrar o dinheiro de longo prazo da família. É preciso que todos da família, tendo idade suficiente, aprendam a lidar com finanças e participem das decisões de longo prazo da família.
Num casamento, as pessoas são sinceras no que se refere às finanças (receitas, despesa e investimentos)?
Por que muitos mentem sobre sua real condição financeira, até para seus próprios parceiros?
Bem, acho que as pessoas consideram pouco romântico discutir sobre dinheiro, ao menos no início dos relacionamentos. Quando problemas financeiros começam a aparecer, as pessoas tendem a achar que sozinhas podem resolver. Além disso, o dinheiro está sempre associado a brigas e desacordos entre os casais (e é a principal razão apontada por eles na quase totalidade dos divórcios).
Muitos casais acham formas de discutir sobre essas questões sem se estressarem. Mas para a maioria das pessoas esse assunto é realmente tabu. Além disso, ao longo dos anos, os casais vão se falando menos, por falta de tempo, talvez. Ou porque a complexidade da vida contemporânea exigiria muitas horas de confidências para que o casal soubesse tudo o que se passa com o outro.
Chegando os filhos as pequenas omissões vão surgindo e se tornando hábito: não conte para seu pai, não conte para sua mãe, etc. Mentiras sobre a nota da prova, a saída da filha fora de hora, o gasto excessivo com a roupa, investimentos feitos com excessivo arrojo que provocariam pânico em algumas esposas. Ou feitos com tamanho conservadorismo que alguns homens não aceitariam facilmente, porque conhecem melhor o mercado e estariam prontos a investir em outros instrumentos que eles considerariam mais rentáveis. Acredito que em muitos casos a mentira ou omissão surja da falta de tempo e da perda de intimidade e confiança. Em muitos outros casos já vi a omissão surgir do medo. O medo de perder o companheiro, o medo de confessar pequenos deslizes, ou de se mostrar vulnerável à propaganda ou à pressão de amigos. Enfim, o medo é um poderoso alavancador de mentiras e omissões.
Num casamento, quais são os principais erros cometidos pelo homem e pela mulher (e pelos dois) em relação às finanças?
O principal erro é a delegação da administração financeira para um dos membros da família. Delegação sem validação. Claro que alguém pode cuidar sozinho das finanças familiares, mas é preciso que todos os outros membros acompanhem e validem o que está sendo decidido. Outro erro é o homem não considerar que a coisa mais importante para a mulher, quando se trata de dinheiro, é a segurança. E a mulher, por seu lado, não compreender que para o homem o dinheiro está associado ao poder e controle. É preciso buscar um equilíbrio nisso.
Um terceiro aspecto que precisa ser considerado, é a forma como as pessoas são criadas em relação ao dinheiro. Quem você é e a forma como você lida com dinheiro, suas crenças e valores são incutidas (ou aprendidas) com a sua família original – seu pai e sua mãe. As pessoas trazem para os casamentos hábitos, crenças que podem ser muito diferentes daqueles com os quais nos unimos. Um pode ser perdulário, o outro muito econômico, por exemplo. Se não houver muita conversa, inevitavelmente conflitos surgirão ao longo dos anos.