por Ricardo Arida
O rendimento físico é grandemente diminuído com a hipertermia – elevação da temperatura do corpo. Os efeitos e recomendações necessárias para a prática do exercício físico no calor já são bem conhecidas e divulgadas. Ainda, os mecanismos de regulação da temperatura induzidos pelos vários órgãos do nosso corpo foram bastante estudados e esclarecidos. Porém, existem grandes evidências que a alta temperatura e desidratação no rendimento esportivo podem ser mediadas por efeitos no sistema nervoso central. Nesse sentido, é importante revermos como a atividade física provoca um aumento da produção de calor e depois entendermos essas ações no sistema nervoso central.
A fadiga e diminuição do rendimento físico nas atividades esportivas tanto recreativas como competitivas está relacionada a vários mecanismos conduzidos pelos sistemas do nosso organismo. A atividade física está associada com o aumento da produção de calor induzida pela contração muscular. Durante a contração muscular, uma parte da energia (70%) é dissipada em forma de calor e a outra parte (30%) é usada para a contração muscular. Isso significa que quanto mais intenso o exercício (maior a atividade muscular), maior a temperatura corporal atingida, e conseqüentemente o corpo tem de trabalhar mais para não elevar a temperatura corporal. O rendimento físico em provas de longa duração é grandemente reduzido pela hipertermia *.
Por que temperatura no cérebro aumenta?
Dando um enfoque ao aumento da temperatura no cérebro, isso pode ser parcialmente explicado pelo fato de que a hipertermia reduz a ativação dos neurônios motores durante a contração muscular **. A resposta termodinâmica cerebral durante o exercício nunca foi investigada diretamente e não está bem estabelecida a extensão do aumento da temperatura cerebral quando nos exercitamos no calor.
Em repouso a temperatura média cerebral permanece estável em torno de 37° C. A fadiga é um fenômeno complexo e a temperatura corporal durante a exaustão pode ser influenciada por vários fatores como o estado de treinamento, intensidade do exercício e motivação do indivíduo. Por exemplo, diferenças na motivação entre competidores esportivos associado à personalidade do atleta e estado do treinamento poderiam explicar porque indivíduos sedentários ou não treinados quando realizam atividade física durante condições de calor excessivo ficam exaustos com temperaturas variando entre 38 e 39 ° C ***, enquanto indivíduos treinados podem suportar temperaturas elevadas durantes atividades competitivas ****.
Normalmente, o cérebro pode antecipar as alterações da temperatura corporal e ajustar a intensidade do exercício de acordo com a necessidade. Essa é uma ação subconsciente e explica porque a diminuição do ritmo é quase automática no calor, mesmo antes de sinais de cansaço muscular aparecerem. Se um atleta tenta aumentar a intensidade do esforço além do que o cérebro deseja, o sistema nervoso central responderá com sensação brutal de exaustão.
Concluindo, o exercício realizado no calor afeta não somente os vários sistemas do nosso corpo como o sistema cardiovascular, músculoesquelético, etc., mas também o sistema nervoso central. A elevação da temperatura cerebral parece ser um fator importante que compromete a ativação motora. Baseado na discussão acima, parece lógico sugerir que a fadiga central é também um fator importantíssimo na redução do rendimento motor em condições de altas temperaturas.
Os mecanismos da fadiga central são complexos e podem ser abordados em tópicos futuros. Vale a pena ressaltar que tomando os cuidados necessários, a prática da atividade física deve ser continuada no calor se realizada adequadamente.
* Gonzalez-Alonso et al. (1999). Influence of body temperature on the development of fatigue during prolonged exercise in the heat. J. Appl. Physiol., 86: 1032–1039.
** Nybo, L. and Nielsen, B. (2001). Hyperthermia and central fatigue during prolonged exercise in humans. J. Appl. Physiol., 91: 1055–1060.
*** Sawka, M.N. and Wenger, C.B. (1988). Physiological responses to acute exercise-heat stress. In: Pandolf K.B., Sawka M.N. and Gonzalez R.R. (Eds.), Human Performance Physiology and Environmental Medicine at Terrestrial Extremes. pp. 97–151.
**** Pugh, L., et al. (2002). Rectal temperatures, weight losses, and sweat rates in marathon running. J. Appl. Physiol., 23: 347–352.