por Jocelem Salgado
Pouco já se ouviu falar do conceito denominado flexitarianismo, termo que surgiu em 1992 e traz a ideia de “vegetariano” e “flexível” em um só pensamento. O semivegetarianismo – como também pode ser referido – é praticado por indivíduos que optam por ingerir mais alimentos de origem vegetal, ao invés do bife nosso de cada dia.
Os adeptos dessa dieta associam o consumo de carne bovina, aves ou peixes a ocasiões especiais, considerando como a alimentação reflete em nossa cultura e em nossas relações sociais, como um churrasco ou um jantar na casa de amigos.
Esse tipo de dieta pode ser adquirido ao tentar revisar/alterar hábitos alimentares de uma forma gradual, já que a imposição da carne em nosso cardápio é uma questão fortemente cultural.
A ong HSI – Human Society International – aborda os três "Rs" da sustentabilidade a fim de incentivar uma dieta flexitariana “reduzir o consumo de produtos de origem animal; refinar a dieta e substituir os produtos animais por alimentos à base de vegetais”. Além de incentivar o programa “Segunda Sem Carne”, que viabiliza desfrutar de refeições completas sem o consumo de carne, introduzindo o conceito do vegetarianismo na dieta de um indivíduo não vegetariano. Esse hábito que pode incentivar uma dieta mais saudável – não necessariamente impondo o estilo de vida vegetariano – mas sim apresentando uma nova variedade de vegetais ou alimentos de origem vegetal, agregando qualidade nutricional à dieta.
Por que praticar o flexitarianismo?
As razões que levam à prática do flexitarianismo podem surgir por motivações ecológicas, econômicas ou voltadas à saúde. O que muitas vezes causa um impacto negativo a essa tendência, é a postura do flexitariano, que com o novo hábito, busca principalmente seu próprio benefício, expondo algumas vezes o discurso que a vontade humana está em primeiro lugar, o que entra em desacordo com o termo que lhe deu origem: o vegetarianismo – que demonstra apelo total ao bem-estar animal, impacto ambiental e outros aspectos ecológicos.
Do ponto de vista nutricional o flexitarianismo, ao incorporar mais quantidade de vegetais e frutas, agrega nutrientes ao nosso corpo, e promove uma certa desintoxicação do organismo.
Outro ponto positivo dessa dieta, se comparada ao vegetarianismo, é que dificilmente um flexitariano terá de preocupar-se com deficiências nutricionais, como um indivíduo que não come carne que se preocupa com vitamina B12 ou ômega 3, uma vez que o equilíbrio de suas refeições poderá fornecer-lhe nutrientes de diferentes origens – animal e vegetal.
A redução do consumo de carne, além de reduzir os impactos ambientais, diminui comprovadamente o risco de doenças crônicas por exemplo, o que deve ser um estímulo a mais para que os vegetais passem de guarnição à base da alimentação, em uma refeição. Ainda outros benefícios paralelos com o auxílio de perda de peso, melhor bem-estar e aspectos mais visíveis como mudança na pele ou nos cabelos.
Vale lembrar que nem sempre um flexitariano deseja ou necessita tornar-se um vegetariano, o hábito é sim uma porta de entrada ao vegetarianismo, mas não obrigatoriamente este deve ser um destino final.
O flexitarianismo deve ser encarado como mais um novo rótulo para uma alimentação mais balanceada, onde a introdução de novos alimentos ou novas variedades em uma dieta pode ocorrer de forma flexível e leve, sem o excesso de regras ou abstinências. E ainda, mais importante, visando à saúde do indivíduo e ao mesmo tempo beneficiando o meio ambiente e os animais.
Por fim, faz-se necessária a reflexão dos nossos hábitos alimentares: comemos o que realmente gostamos?
O que gostamos hoje, já nos foi imposto?
Por que nos alimentamos de uma forma e não de outra?
A individualidade da alimentação e o benefício que esta pode ou não trazer a um indivíduo, além do auxílio de um profissional de nutrição, deve contar com a aprovação do próprio indivíduo, uma vez que alimentar-se não se resume a apenas ingerir nutrientes ou contar calorias. Através da alimentação nos expressamos, nos relacionamos e perpetuamos nossa cultura.