por Roberto Shinyashiki
Quando eu era criança, sentia-me muito infeliz. Havia tantas coisas que queria fazer e não podia! Quando me sentia frustrado, pensava no dia em que entraria na escola. Seria então muito feliz. Quando entrei no primário, percebi que ainda faltavam muitas coisas para ser feliz. Então achei que, quando passasse para o ginásio, seria totalmente feliz.
Mas também não foi assim. Imaginei que, quando subisse um pouco mais os degraus do conhecimento e fosse para o colegial, finalmente seria feliz. Mas minha insatisfação continuou. Ah, mas quando entrasse na faculdade de medicina a felicidade viria inevitavelmente. Outra frustração. Os problemas continuavam e a angústia aumentava. Quando me tornasse médico, pensei, alcançaria a felicidade. Teria poder, dinheiro, as pessoas me respeitariam e, dali em diante, tudo daria certo para mim.
Demorou, mas acabei percebendo que não era desse jeito que a vida funcionava. Não havia um momento definitivo de felicidade. Então conclui que a felicidade não existia. Até que um professor me disse que não existia felicidade, mas apenas momentos felizes, e que nós tínhamos de aproveitá-los para poder desfrutar a vida o melhor possível. “É isso mesmo!”, pensei. Nos momentos em que vivia o amor ou conseguia uma vitória no trabalho, me sentia bem. Felicidade devia ser algo parecido com isso. Esses momentos me davam a sensação de paz, tranquilidade, e isso devia ser a felicidade. Entretanto, depois de algum tempo, percebi que faltava alguma coisa mais. Não era possível que felicidade fosse só aquilo. Tanta luta por tão pouca recompensa!
Em um momento da vida achei que tinha conquistado tudo o que imaginei ser possível para me tornar feliz. Mas eu vivia frustrado, perguntava-me se a vida era só uma coletânea de momentos. Como sempre fui muito religioso, não acreditava que o Criador fosse capaz de me mandar para essa viagem por tão pouco. Deveria haver algo mais. Assim, decidi ir para o Oriente conversar com os mestres e saber o que eles pensavam a respeito da felicidade.
Fui para o Nepal, mais exatamente para um mosteiro budista nos arredores de Katmandu. Chegar àquele lugar já foi uma epopeia. Uma viagem de avião até Londres, outra até Nova Délhi e mais uma até Katmandu.
Um amigo havia me indicado um mestre que vivia ali. Instalei-me em um hotel e saí à procura do mosteiro. Na portaria, a pessoa que me atendeu disse que ele iria me receber às 9 horas da manhã seguinte. Naquela noite praticamente não dormi. Fiquei excitado com a possibilidade de me ser revelado o segredo da felicidade. Saí ainda de madrugada do hotel, na esperança de o mestre estar disponível e poder conversar mais cedo comigo. Fiquei esperando até que, por volta de 9 horas, uma mulher que falava inglês com sotaque francês entrou na sala.
Imaginei que me levaria ao mestre. Acompanhou-me até uma sala, estendeu uma almofada e pediu para que me sentasse a sua frente. Era uma moça morena, jovem, muito bonita, a quem pedi:
— Quero falar com o mestre.
Ela então me respondeu:
— Eu sou o mestre.
Não consegui esconder meu desapontamento e raciocinei: “Viajei tanto para chegar até aqui e conversar com um mestre de verdade, e me aparece uma mestra francesa! Todo mundo procura um mestre velhinho, oriental, com longas barbas. Não uma mulher jovem e bonita, que nem nasceu no Oriente!”
Resolvi insistir:
— Você não entendeu direito, quero falar com o mestre.
E novamente ela me respondeu:
— Eu sou o mestre.
Então pensei: “Vou fazer uma pergunta bem difícil para que ela se sinta embaraçada e me leve ao mestre de verdade”.
— O que é budismo? — perguntei.
Tranqüilamente, ela me respondeu:
— A base do budismo é o fato de que todo ser humano sofre.
Pensei comigo mesmo: “Não é possível. Saio da cultura ocidental, que prega o sofrimento como base da purificação e da sabedoria, e aqui ouço que a base do budismo é o sofrimento?” Não satisfeito, resolvi fazer uma pergunta ainda mais difícil para que ela não soubesse a resposta e me levasse ao verdadeiro mestre:
— E por que os seres humanos sofrem?
— Porque são ignorantes — ela respondeu.
Pensei: “Bem, se são ignorantes, deve haver alguma coisa que não saibam e que talvez seja a resposta para o que estou procurando”.
— E qual é o conhecimento que nos falta? — arrisquei.
— O que precisamos ter é a compreensão de que as coisas na nossa vida são dinâmicas e fluidas. Quando o ser humano está feliz bloqueia a felicidade, pois deseja a eternidade para esse momento. Torna-se rígido, com medo de que o prazer acabe. Quando está infeliz, julga que o sofrimento não terá fim, mergulha na sombra, e assim amplia sua dor.
A mestra continuou:
— Como as ondas do mar, a vida é dinâmica. É tão certa a subida quanto a descida. Cada momento tem sua beleza. No prazer nós nos expandimos e na dor nos contraímos. Um movimento é complementar ao outro. Saber apreciar a alegria e a dor constitui a base da felicidade. Você não pode ser feliz somente quando tem prazer, pois perderá o maior aprendizado da existência. Você deve descobrir um jeito de ser feliz na experiência dolorida porque ela carrega a oportunidade de desenvolvimento.
À medida que a mestra falava, meu queixo caía. Como ela tinha atingido tanta sabedoria? Por que eu não havia chegado antes àquelas conclusões? Será que, finalmente, iria conhecer o segredo da felicidade?
E ela continuava a me ensinar:
— Não desfrute somente o sol, aprecie também a lua. Não desfrute somente a calmaria, aproveite a tempestade. Tudo isso enriquece a existência. A vida não acontece somente dentro de uma casa, de uma cidade, de um país: ela tem de ser experimentada dentro do universo. A felicidade é um jeito de viver, é uma conduta, é uma maneira de estar agradecido ao sol, à lua, a quem lhe estende a mão e também a quem o abandona, pois certamente nesse abandono está a possibilidade de você descobrir a força que existe em seu interior. A felicidade não é o que as pessoas têm, mas o que elas fazem com isso. Por esse motivo há pessoas que, apesar de ter bens materiais, de ser bem relacionadas, com filhos saudáveis, ainda assim se sentem angustiadas e deprimidas.
Encantado com suas palavras, consegui apenas balbuciar antes de sair:
— Obrigado, mestra!
No caminho de volta, fiquei pensando: A felicidade não é o que acontece na nossa vida, mas como nós elaboramos esses acontecimentos. A diferença entre o sábio e o ignorante é que o primeiro sabe aproveitar suas dificuldades para evoluir, enquanto o segundo se sente vítima de seus problemas.