Por Roberto Goldkorn
Não existe área do comportamento humano que seja estanque. Não é possível ser um canalha na vida profissional e ser um pai exemplar, uma hora a máscara cai. Cada face da nossa vida acaba espelhando o nosso eu profundo, mesmo que alguns disfarcem bem, e a maioria esteja cega para essa visão. No sexo não poderia ser diferente.
Sei que muitos facínoras e criminosos da pior espécie são bons de cama, no dizer de suas mulheres eventuais. Esse é o problema de aceitarmos um sexo que de humano pouco tem e, com isso, perdemos varias grandes oportunidades. A principal é a de conhecer a pessoa com quem estamos através do seu comportamento sexual.
Não fazemos isso, muitos de nós apenas dissociamos o ser sexual do outro, e assim perdemos de vista as dicas sobre si que o parceiro (a) nos dá de bandeja na hora do sexo. Ignoramos a sua capacidade de não se dar, de ausentar-se do ato para entrar numa viagem solo, e depois mais tarde já na vertical vamos nos espantar com os comportamentos egoístas e mesquinhos dele (dela).
Nem nos ligamos na ânsia enlouquecida, da sofreguidão do outro (a) em querer nos sugar até a última gota, e depois vamos ficar surpresos quando o parceiro (a) demonstra seus ciúmes, sua obsessão em controlar cada pensamento, cada gesto nosso. Nem percebemos a agressividade fora de contexto na cama, e mais tarde vamos reclamar na delegacia os mais tapas que beijos que recebemos.
Enfim, a arena sexual mais que qualquer divã, pode produzir uma amostragem muito ilustrativa da pessoa que está ao nosso lado. Mas se ao nosso lado cada dia está um ou uma, como vamos conhecê-lo? E isso ainda não é o pior. Por mais que a maioria das pessoas não saiba a relação sexual é um momento de grande troca de energia vital, não existe nada que se compare na natureza. Essa troca na qual o homem quase sempre perde mais do que recebe, é um verdadeiro buraco negro energético, sem duplo sentido.
Quando o indivíduo está na opção da promiscuidade desenfreada, ele vai aos poucos e (às vezes de forma acelerada, dependendo de seu desempenho), perdendo energia, e atrás dela vai a energia psíquica e emocional. É espantoso o número de homens nessa situação que passam pela tormenta da síndrome do pânico, e até pela depressão.
Quantos me confidenciam que desenvolvem uma espécie de nojo pela parceira, de quem às vezes nem sabem o nome. E tudo isso concorre para a perda do Eu, para a perda da auto-estima. Se eu tenho nojo de quem está ao meu lado, imagine o nojo de mim mesmo!
Cada parceira (isso é mais comum nos homens) leva embora um pedaço da personalidade do homem, e de repente o sujeito se olha no espelho e não se vê, ou melhor não se reconhece. O sexo que dá a vida, também a leva embora, porque nos remete a regressão ao estágio animal. Não estou aqui defendendo uma posição moralista ou saudosista, apesar de aparentemente parecer assim, falo do outro lado, do lado oculto do sexo, que nós do mundo das aparências não percebemos.
Também não vou falar das doenças, nem da gravidez indesejada, crimes contra humanidade com conseqüências a longo prazo, vindos do sexo fortuito.
Os grandes magos orientais que usavam o sexo até como medicina, mas principalmente para burilar o espírito, sabiam do imenso potencial desse encontro. Eles não precisavam usar drogas alucinógenas para alcançar estados alterados de consciência, nem longas horas em meditação solitária no alto das montanhas. Eles faziam de seu encontro sexual uma re-encenação da criação primordial da vida, e com ela se sintonizavam. Por isso tinham um profundo respeito pelas suas parceiras magas, e as adoravam como se fossem verdadeiras Deusas.
Embora não tratassem disso, eles sabiam que o sexo é o mega carinho, que poucos veículos podem ser mais propícios à demonstração de afeto que o abraço sexual. Quanto potencial desperdiçamos, achando que estamos fazendo sexo. Na verdade, estamos fazendo uma pobre masturbação a dois, estamos comendo os fiapos da banana e jogando o resto todo fora.
Infelizmente a ciência ainda não se debruçou sobre a relação entre as doenças modernas, principalmente as psíquicas, e certos comportamentos sexuais, quando fizer isso vai cair de costas. Obesidade, psicoses, neuroses em geral, depressão, doença do pânico, problemas hormonais, endometriose, prostatite, vaginite, problemas do útero e tantos outros podem ser originários das contas pesadas que o nosso inconsciente (ele sabe que estamos nos roubando com o sexo rastaquera que fazemos) apresenta ao corpo.
Aqui vale aquele ditado popular “quando a cabeça não pensa o corpo padece”, imaginem a maioria dos homens que nem a cabeça sobre os ombros usa. Sem dúvida não posso negar que o sexo é uma força poderosa, que arrasta muitas vezes padres, pais de família, políticos influentes para a vala comum dos criminosos. Mas é justamente essa força torrencial que pode e deve ser aproveitada para nos elevar acima do patamar dos macacos, e quem sabe turbinar o nosso caminho às estrelas.