por Patricia Gebrim
Estamos vivendo um momento muito desafiador, disso ninguém duvida. Nosso país está sendo atingido por desafios que se derramam sobre nós como enormes ondas, uma após outra. Mal nos recuperamos de uma e lá vem a próxima.
Olhamos ao redor e vemos corrupção, poluição, trânsito, violência, impunidade, greves, pessoas assustadas e muita injustiça. Por mais que busque em minha memória, não encontro, em todo meu tempo de vida, um momento tão triste quanto este que vivemos agora.
Na forma como entendo a vida, penso sempre que tudo existe para nos ajudar a dar um passo em nossa evolução, a crescermos, a nos tornarmos melhores do que somos. Quando penso assim, uma luz de esperança se acende em meu peito. A coisa boa desse panorama tão tenebroso é que ao menos os véus foram retirados. O que estava escondido foi revelado e a cada dia enxergamos mais. E se enxergamos, estamos mais próximos da possibilidade de transformar. É preciso transformar, já não suportamos o que se apresenta.
Ainda temos um longo caminho a seguir, não duvido disso. É preciso perseverança e confiança em cada passo dado. O que não podemos fazer neste momento é desistir. Precisamos, mais do que nunca, de clareza para buscar os caminhos dentro de nós, uma vez que as indicações externas encontram-se inexistentes ou apodrecidas. Precisamos de sabedoria. De força para encontrar a melhor direção. De coragem para segui-la, a despeito do que vemos ao nosso redor. Não é hora de nos perdemos nas emoções, seja na raiva desmedida ou na tristeza que nos rouba toda a esperança e nos faz sentir impotentes. É momento de cada um de nós fazer o possível. Cada um fazer a sua parte a despeito do que está acontecendo ao nosso redor.
É momento de acreditarmos em nós mesmos e na humanidade, apesar de toda a sombra exposta. Não é fácil, eu sei.
O clima ao nosso redor anda mesmo bastante tenso, minha sensação é de uma panela de pressão prestes a explodir. Para lidar com isso decidi firmemente colocar minha atenção naquilo que é saudável, sem me deixar seduzir por essa armadilha de medo e agressividade. Cada um de nós tem um papel a desempenhar neste momento. Há os que se sentirão chamados a atuar nesse ou naquele aspecto. Quanto a mim, tenho aprendido a olhar para tudo como se fosse um filme, pura ficção. Um filme meio caótico e assustador, ao qual não tenho interesse algum em participar sendo uma de suas personagens alienadas. Desejo fazer algo mais do que me sentir uma vítima, impotente, a quem cabe nada a não ser reclamar e lamentar.
Mudo o canal, respiro fundo e mergulho deliciosamente no silêncio de meu íntimo. É mais tranquilo por lá. É luminoso e belo. E tem um lindo campo de lavandas cheirosas, por onde amo caminhar. Bastam alguns passos e já me acalmo, fico cheia de vida, com vontade de correr livre e brincar. Essa é a verdadeira realidade. Trago essa calma para fora comigo, na forma de um buquê de lindas lavandas, flores mágicas capazes de ajudar as pessoas a despertarem desse pesadelo infernal. E conforme vou distribuindo as flores, acabo participando do filme, não como personagem, mas como cocriadora de um novo final.
Vem comigo?"