Da Redação
Do ponto de vista psicológico, clima frio é aquele nos provoca a sensação de frio ou até mesmo desconforto. Do ponto de vista fisiológico, clima frio (ou quente) é aquele que chega a alterar nosso sistema de regulação de temperatura.
Podemos dizer que esse nosso 'termostato' funciona em 'marcha lenta' em ambientes com temperaturas de 25-27º C., não disparando reações de aumento do metabolismo no caso do frio ou de transpiração no caso do calor. A inteligência maior dessa regulação encontra-se em um centro profundo do cérebro, o hipotálamo, e é ele que comanda nossas reações de suor, calafrios e constrição ou vasodilatação dos vasos sanguíneos em resposta à temperatura ambiente.
Sabemos que tanto o frio como o calor exagerados podem influenciar negativamente nossas habilidades mentais, e um balanço geral dos estudos existentes sugere que o frio exagerado tende a atrapalhar mais. Entretanto, alguns estudos também nos mostram que o frio leve/moderado pode melhorar nosso desempenho intelectual.
Duas principais teorias explicam o efeito do frio sobre nossas habilidades cognitivas.
Efeitos do frio
A primeira é do "efeito distração" que o desconforto associado ao frio pode causar, ao desviar nossa atenção da tarefa que estamos efetuando. A outra teoria defende a ideia de que o frio leve/moderado deixa-nos mais acordados, e o maior estado de vigília permite um melhor desempenho do nosso cérebro. Evidências neurofisiológicas apóiam essa hipótese, ao mostrar que a atividade elétrica cerebral no frio leve/moderado é mais "esperta".
O frio pode reduzir nosso nível de vigília, nossa concentração e memória de curto prazo, entre outras funções cognitivas, especialmente em temperaturas abaixo de 10º C.
No caso de hipotermia, ou seja, em situações de frio extremo em que a temperatura corporal chega a níveis inferiores a 35º C., pode-se observar sintomas de confusão mental e redução da vigília.
O efeito do inverno sobre nosso comportamento também pode ter uma parcela de contribuição do fator luminosidade. Em países muito ao sul ou muito ao norte, o inverno vem acompanhado de pouca luz por conta de dias muito curtos, fenômeno que é bem reconhecido como fator que aumenta a frequência de sintomas depressivos nessa estação. E depressão é igual a cérebro menos eficiente. Há evidências também que as concentrações dos hormônios da tiroide estão reduzidas em invernos rigorosos. E hormônios da tiroide são combustíveis importantes para o cérebro.
Até o momento, a melhor dica para nosso cérebro curtir o frio com boa performance é a de nos agasalharmos bem para não ficarmos distraídos com o desconforto do frio. No ambiente de trabalho, o ar condicionado simulando uma câmara frigorífica pode ser um fator de distração. Viver o inverno sem ficarmos lembrando que está frio pode até deixar o cérebro mais ligado. Um cafezinho vai muito bem!
Dr. Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp