por Jocelem Salgado
Foi-se o tempo em que as frutas vermelhas eram consumidas apenas por seu gosto agradável, sendo utilizadas em receitas e decoração para a sobremesa. Essas frutas apresentam em sua composição uma enorme quantidade de nutrientes e compostos que promovem melhor funcionamento do organismo, tornando-as cada vez mais fonte de estudos para elucidação desses benefícios.
As frutas vermelhas (também conhecidas como “berries”) são compostas por um grupo que engloba amoras vermelhas e pretas, framboesas, groselha, mirtilo e o famoso morango (além de uma enorme variedade de outras que não são muito consumidas no Brasil, como a gooseberry, ou a cranberry). Elas são utilizadas principalmente na produção de doces, geleias e decoração de sobremesas mais sofisticadas.
No consumo desses produtos as frutas costumam ser cozidas, transformadas em recheios, caldas ou geleias, como já dissemos. Essa forma de consumo prejudica o aproveitamento das propriedades funcionais das frutas, já que os nutrientes são degradados durante os processamentos de cozimento, secagem, etc. Por isso, recomenda-se que o consumo de qualquer berry seja feito na forma in natura.
Berries: propriedades e benefícios à saúde
Todas as frutas e vegetais são ricos em nutrientes essenciais para o organismo humano. Mas as berries apresentam ainda compostos bioativos, que são substâncias que contribuem para a saúde, prevenindo doenças e ajudando a manter uma qualidade de vida saudável. Esses compostos possuem inúmeras propriedades benéficas associadas ao metabolismo humano, sendo que seu efeito ao combinar frutas, variando os tipos em porções diárias, aumenta seus efeitos.
Nas frutas vermelhas, esses compostos são denominados antocianinas (que confere sua coloração vermelho-arroxeada) e flavonoides. Ambos são responsáveis pelas propriedades antioxidantes das berries, alem de atuarem na redução do colesterol e fortalecimento do sistema imunológico. Estudos realizados em universidades americanas demonstraram que as antocianinas são essenciais na prevenção de doenças, estando associadas à prevenção de complicações cardiovasculares, neurodegenerativas, anti-inflamatórias e anticancerígenas. Esse mecanismo de proteção é explicado pelo fato das antocianinas serem importantes agentes antioxidantes, “limpando” o organismo dos radicais livres que podem causar danos celulares e dar início a processos patológicos.
Ácido elágico
Outro composto bioativo presente em frutas vermelhas de relevante importância é o ácido elágico. Ele apresenta atividades anticancerígenas e de proteção cardiovascular; estando ainda relacionado com a diminuição do risco de câncer de pulmão e ovário. O acido elágico também apresenta atividade antibacteriana. Estudos recentes apontam o acido elágico como responsável pela inibição da bactéria helicobacter pylori em pessoas que tem o hábito de consumir frutas vermelhas. Essa bactéria, quando presente no estômago, causa gastrite e quando não tratada pode potencializar e estimular o aparecimento de câncer de estômago.
Além desses compostos benéficos, as frutas vermelhas apresentam em sua composição 85% de água, proteínas e fibras. Contém também selênio, um composto de fundamental importância no metabolismo humano e fator de prevenção de diversas doenças. Possuem, em média, 52 calorias por 100 gramas, o que corresponde a um alimento nutritivo e de baixo valor calórico. Alem disso, são ricas em cálcio, fósforo, potássio e vitaminas A e C.
Morango: fruta vermelha mais apreciada no Brasil reduz colesterol
No Brasil, a fruta vermelha mais apreciada é o morango. As demais apresentam consumo menor por razões diversas, como menor oferta e maior preço. O morango é fonte de ácido ascórbico, catequinas e compostos fenólicos, sendo os dois últimos compostos envolvidos na prevenção de doenças e efeitos antioxidantes.
Diversos estudos comprovaram a eficácia do morango na prevenção e/ou tratamento do colesterol. O consumo dessa fruta indicou uma redução da oxidação do LDL colesterol e dos índices de açúcar no sangue, além de melhorar a saúde coronariana, diminuindo os riscos de doenças cardiovasculares. Já o mirtilo é a berry menos consumida no Brasil. Esse consumo restrito deve-se à sua baixa produção, tendo em vista tratar -se de uma fruta que apresenta exigências quanto a clima. Por conta disso o plantio de cultivar de mirtilo se limita a regiões do Sul e são encontradas apenas em pequena escala, e mesmo assim a maior parte é exportada.
Há dois contratempos quando se fala em consumir as frutas vermelhas. O primeiro é o preço – pois, aqui no Brasil, ainda é pequeno o cultivo das berries, e isso acaba limitando o acesso da maioria das pessoas, que vão encontrá-las ao natural apenas em mercados mais sofisticados. O outro obstáculo são os defensivos agrícolas, muito presentes nessas frutas delicadas, mas se o agricultor respeitar o receituário agronômico, e o tempo de carência do defensivo (período que vai da aplicação do defensivo até o prazo para poder ser consumido), e o consumidor utilizar as praticas de higienização adequadas, o risco de ter efeito prejudiciais ao organismo é mínimo.
O consumo recomendado pela FAO/ WHO, órgãos internacionais responsáveis pela avaliação de estudos na área alimentar e nutricional, é de 400 gramas de frutas e vegetais por dia, podendo ser divididas e distribuídas em 5 porções diárias. Uma porção se refere ao consumo de 10 moranguinhos, ou amoras pretas ou framboesas, ou pitangas, 2 ameixas roxas, etc.Vale lembrar que é de extrema importância higienizar corretamente as frutas antes do consumo, deixando em solução água com vinagre por um período de 20 a 30 minutos para limpá-los das sujidades e dos agrotóxicos que se acumulam na parte externa do fruto. Depois disso, é só saborear e ter certeza que essas frutas estarão contribuindo para retardar o envelhecimento, para a saúde do cérebro, e o que é mais importante para uma vida longa com qualidade. Um forte abraço a todos e até o nosso próximo encontro.