A pele possui funções fisiológicas essenciais e é a principal interface entre o indivíduo e o meio ambiente permitindo-o viver em segurança
A pele que nos reveste é o maior órgão humano: mede cerca de 2 m2 de área, equivale a 1/6 do nosso peso total e desempenha uma série de funções-chave. Tem uma estrutura microanatômica muito intrincada com vários tipos celulares, como queratinócitos, fibroblastos, melanócitos, células de Merkel (células sensitivas responsáveis pelo tato), e várias células imunes que atuam na proteção cutânea. Além disso, na pele há glândulas sudoríparas, folículos pilosos, seu próprio microbioma e uma complexa rede capilar e nervosa.
As três camadas da pele
Epiderme, derme e hipoderme são as principais camadas da pele. Epiderme é a camada mais superficial, capaz de se autorrenovar e basicamente composta de queratinócitos. A derme, camada média e muito mais espessa que a epiderme, contém fibroblastos e matriz extracelular. Sua propriedade elástica é devida às fibras de elastina, enquanto a função estrutural é mantida pelas fibras colágenas.
Entre a epiderme e a derme está a junção dermoepidérmica, que mantém as duas camadas unidas e funciona como uma barreira para produtos químicos e invasores externos. Hipoderme, a camada mais profunda da pele, está apoiada no tecido muscular e contém tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e gordura.
Pele: órgão imunoneuroendócrino
A barreira epidérmica desempenha um papel protetor bem conhecido em cinco níveis funcionais: químico, físico, imunológico, microbiano e neuronal. A pele ajuda a manter a temperatura corporal constante através da modulação da umidade. Ela coleta sinais sensoriais através de terminações nervosas, secreta suor, sebo e enzimas, e excreta toxinas de órgãos internos. Além de sintetizar vitamina D, evidências atuais deixam claro que a pele pode produzir biomoléculas (como neurotrofinas, neuropeptídeos, hormônios e citocinas) e interagir com o sistema por meio delas, identificando a pele como um órgão imunoneuroendócrino.
Funções específicas da pele
A pele é a principal interface entre o indivíduo e o ambiente, e apresenta funções fisiológicas essenciais que permitem viver com segurança. A mobilidade e elasticidade da pele são cruciais para o movimento normal das articulações. A sua resistência é essencial em locais como mãos e pés, que são expostos a pequenos traumas regulares.
Além disso, a pele que cobre cada área do corpo, tem adaptações específicas para fins precisos: a pele da ponta do dedo é espessa e sensível para pegar objetos, enquanto a pele fina e flexível da pálpebra é muito móvel e protege o globo ocular.
Colágeno
A pele feminina contém menos colágeno que a pele masculina, mas mulheres com hirsutismo (aumento da quantidade de pelos na face e corpo devido à disfunção hormonal) têm um alto nível de colágeno. Os andrógenos (testosterona, DHEA) aumentam a quantidade de colágeno na pele, como evidenciado pelas diferenças de gênero observadas e em pacientes que necessitam de suplementação de andrógenos para condições médicas.
Algumas drogas podem ter um efeito negativo sobre o conteúdo de colágeno dérmico, particularmente corticosteroides, que são bem conhecidos por “afinar” a pele, ou seja, reduzir o colágeno.
Envelhecimento da pele
O envelhecimento tem um efeito marcante na pele humana. Com o passar do tempo, há menos divisões celulares na camada germinativa da epiderme, levando a um afinamento gradual da pele. Esse processo começa a acontecer aos 30 anos e o colágeno vai diminuindo aproximadamente 1% ao ano. Há uma redução na síntese de fibras de colágeno levando à menor elasticidade da derme, o que causa enrugamento e flacidez da pele. Apesar da perda colagênica também ocorrer em áreas não expostas ao sol, a exposição persistente a altos níveis de raios UV da luz solar acelera a degradação do colágeno.
Dermatoporose
O processo de envelhecimento ocorre como uma quebra gradual da homeostase, que é a capacidade do sistema corporal de manter um estado de equilíbrio interno enquanto se adapta às condições de mudança. Esta falha acaba por dar origem ao acúmulo de danos e causar a disfunção progressiva de todos os tecidos e células.
O problema se torna ainda mais complicado quando ocorre a dermatoporose, uma doença cutânea crônica com a perda das funções protetoras da pele, que atinge até 1/3 dos idosos. Ela se caracteriza por afinamento da pele, presença de manchas roxas (púrpura senil), pseudocicatrizes brancas, facilidade de se ferir e cicatrização difícil.
Tratamento
O tratamento de rugas e flacidez, decorrentes do envelhecimento cutâneo, é a principal demanda de pacientes em consultórios de dermatologia estética e cirurgia plástica, e parcialmente atendida por preenchimentos, toxina botulínica, lasers, liftings, cremes firmantes. Por outro lado, vários suplementos promissores possuem bioatividade cutânea e podem contribuir para o rejuvenescimento e saúde da pele, atuando de dentro para fora: ácido hialurônico, glicosamina, glicina, colágeno, silício, vitaminas, minerais, polifenois e muitos outros.
Referências
*Surgery (Oxford) 2022. Physiology of the skin.
*Life (Basel) 2022. The Trinity of Skin: Skin Homeostasis as a Neuro–Endocrine–Immune Organ.
*Int Journal of Molecular Science 2019. Neuroendocrine Aspects of Skin Aging.
*Current Aging Science 2020. Skin Ageing: Pathophysiology & Current Market Treatment Approaches.
*Open Access Macedonian Journal of Medical Sciences 2019. Dermatoporosis – The Chronic Cutaneous Fragility Syndrome. *Clinical, Cosmetic & Investigational Dermatology 2023. Skin Ageing: A Progressive, Multi-Factorial Condition Demanding an Integrated, Multilayer-Targeted Remedy.