por Mateus Martinez – psicólogo componente do NPPI
Sabemos que seres humanos e animais se relacionam desde os tempos pré-históricos. Retrospectivamente na evolução da humanidade, a relação entre os seres humanos e animais vem se estreitando cada vez mais. Podemos observar a transição de uma relação simplesmente antropocêntrica, na qual os animais servem aos propósitos e necessidades do homem, para uma relação mais ecológica, pautada na coabitação dos mesmos espaços, com maior cuidado e respeito com os animais, o que implica em uma posição de maior igualdade.
O cuidado com um animal como se fosse um grande amigo ou familiar fica bem evidente quando observamos a relação com nossos gatos, cachorros e até passarinhos. Você já notou tratar seu gato tão bem quanto um amigo querido? E sua cachorrinha, já foi mais mimada que sua sobrinha? Quando você tem a oportunidade de viajar, mas não pode levar seu cachorro, o que faz? Ainda mais, se você já perdeu um animal querido, como se sentiu? Diante destes questionamentos notamos que o vínculo com os animais pode ser tão ou mais intenso que o vínculo entre pessoas.
No nosso mundo, especialmente em grandes centros urbanos, encontramos grande variedade de serviços voltados aos animais, desde os mais comuns oferecidos pelos pet shops, como banho, tosa e hotelzinho, até restaurantes tematizados e especializados para receber os donos com seus pets, escolinhas, creches e resorts para cães. Toda essa oferta de serviços e produtos para os pets representa muito o vínculo e proximidade entre humanos e animais, como também o lugar privilegiado que vários cães e gatos passaram a ocupar no seio de suas famílias, e de forma geral, na sociedade. Não à toa, os pets estão nas redes sociais!
Você já postou no Facebook uma foto divertida ou mesmo de um momento triste com seu animal de estimação? Além dos tutores postarem fotos, vídeos e escreverem sobre seus animais no Facebook, Instagram e no Youtube por exemplo, conferindo destaque aos peludos; existem gatos e cachorros com perfis e páginas próprios nessas redes sociais! Um exemplo é o cachorro Beast, de Mark Zuckemberg, fundador do Facebook. Em sua página, com mais de dois milhões de curtidas, o cão aparece em várias fotos com a esposa de Zuckemberg e em outras se divertindo e aprontando.
Existem também as redes sociais criadas especialmente para os animais. Nelas os animais parecem ter vida própria, controlando seus perfis, escrevendo em primeira pessoa e postando fotos de momentos diários com os “seus” humanos. A título de curiosidade, algumas destas redes são o Fuzmo (um Instagram para os pets), BarkCam, Kloof e até o Petinder (isso mesmo, um Tinder para animais de estimação!).
Mesmo que seja apenas uma brincadeira divertida para os tutores usuários dessas redes sociais, na era tecnológica que vivemos, transpomos comportamentos e dinâmicas humanas comuns para estas plataformas online. São dinâmicas e comportamentos humanos anteriores à existência dessas tecnologias e que passam a integrar e compor o mundo online. Se nos sentimos sós, podemos ir em algum lugar procurar alguém para nos relacionar, mas com a existência de uma aplicativo, passamos a buscar companhias online. E o que significaria buscar um par para seu cão em um aplicativo de paquera para animais? O que seu animal de estimação “pensaria” sobre isso?
Como a psicologia nos ensina, os animais podem assumir diversos papéis e significados na vida de um ser humano. Para seus tutores, os animais podem representar alguém que se foi, despertar agressividade, ousadia, coragem, proteção, companhia, diversão, amor, ser como um filho e despertar sentimentos maternais. Por meio deles, podemos atribuir-lhes intenções e genuinamente vivenciar sentimentos. Nesse sentido, as redes sociais são meios que nos permitem estas vivências de uma forma explícita. Nelas, revelamos nossos sentimentos pelos animais, a imagem que fazemos deles e até mesmo, como talvez seríamos se fôssemos nossos cães e gatos!