por Ceres Alves Araujo
Filhos gêmeos eram raros até alguns anos. Porém, atualmente, gestações múltiplas passaram a ser bem mais comuns. O fato é explicado pela possibilidade do acesso aos procedimentos da fertilização assistida, que permitiu a casais inférteis a possibilidade de engravidar.
Sabe-se que a fertilização assistida aumenta em até 40% a chance de se ter gêmeos. Assim, os gêmeos se tornaram mais frequentes, para não dizer dos trigêmeos, dos quadrigêmeos… trazendo importantes mudanças demográficas e sociais.
Gestação mútipla: felicidade pode vir acompanhada de mais estresse
O ultrassom permite saber desde o primeiro trimestre, quando a gravidez é de mais de um bebê. A gestação múltipla exige acompanhamento mais cuidadoso da mãe e dos bebês, o que faz com que a felicidade possa vir acompanhada de mais estresse.
Perceber, respeitar e valorizar as diferenças
Gêmeos univitelinos, ou não, sempre fascinaram pela semelhança ou pela duplicidade que apresentam. Era comum, antigamente, que possuissem nomes parecidos e que fossem vestidos, por anos, de forma idêntica e que tivessem brinquedos iguais. Essa prática não foi avaliada como a mais adequada ao longo dos tempos.
A orientação psicológica contemporânea indica que filhos de gravidez múltipla sejam diferenciados desde o início. Vamos falar de gêmeos, os mais frequentes dentre os múltiplos e, talvez, mais difíceis de serem diferenciados por constituírem um par.
Vale saber que, desde o útero, gêmeos apresentam diferenças na resposta ao meio ambiente e se comportam de forma diversa. Algumas mães conseguem perceber que um bebê é mais inquieto e o outro mais calmo e chegam até a identificá-los pela posição que ocupam no útero. Distinguir os filhos desde a vida intrauterina é um fator de diferenciação importante, básico para começar a reconhecer a individualidade de cada um.
Após o nascimento, as diferenças se acentuam. Mesmo gêmeos idênticos, geneticamente iguais, são pessoas diferentes, que se desenvolverão de forma diferente também. Com o passar dos anos, a tendência é perder a semelhança, pois cada um irá adquirir suas características e identidade próprias.
Pode-se observar porém, que alguns gêmeos crescem e se tornam muito parecidos ao longo da vida e até, eles mesmos, se esforçam para fazer com que as semelhanças sejam mantidas. Não raro, existe, o reforço dos seus pais para essa situação de não diferenciação. Tal situação não é benéfica!
Existem hipóteses, nenhuma delas comprovadas, de que os gêmeos se sentiriam sempre melhor próximos entre si, pela evocação da proximidade física vivida no útero. A ligação entre eles, sem dúvida, é muito grande, principalmente nos primeiros anos de vida. Eles brincam muito juntos, descobrem o seu corpo e depois o corpo do irmão, tendo o próprio espelho, à sua frente. A convivência com alguém exatamente da mesma idade, faz dele o perfeito companheiro de aventura na experiência de vida.
Os gêmeos são assim, um para o outro, um modelo de identificação poderoso. Por um lado, a identificação fácil entre eles, garante a relação próxima e íntima, mas, por outro lado, pode trazer o perigo da fusão entre eles, o que dificultará, e muito, o necessário processo de individualização, de separação psicológica da família, esperado na adolescência para todos, gêmeos ou não. Psicopatologias são descritas decorrentes da dificuldade de separação observada em gêmeos.
Cumpre aos pais perceber, respeitar e valorizar as diferenças entre seus filhos gêmeos. A singularidade de cada um precisa ser reconhecida e preservada, pois filhos gêmeos são seres com necessidades, interesses e desejos próprios individualizados e precisam da ajuda e da atenção dos pais para cresceram como singulares.