por Flávio Gikovate
Neste texto, dou sequência ao anterior Ceder a pressões pode ser uma forma de sermos injustos conosco – veja aqui. Nele, expliquei que agir com senso de justiça envolve um complexo de sentimentos.
Isso é muito simples em teoria, mas na prática as sensações envolvidas são complexas.
Para o egoísta se tornar justo, terá que se fortalecer. O egoísta é, em geral, via de regra, fraco e necessita receber mais do que dá. Para isso acontecer, as pessoas que o ajudam terão que parar de fazê-lo. Isso implica na necessidade do generoso parar de exercer sua superioridade prática: parar de ajudar o mais carente.
O generoso se sentirá rebaixado e deprimido se não exercer sua bondade, além de ser também criticado pelos outros.
– Nossa como você piorou! Você não era assim tão frio e duro antigamente!
Ele perderá destaque e isso é ofensa à vaidade e traz sensação de humilhação.
Se não suportar esse tipo de dor, continuará a dar mais do que recebe e isso reforçará e contribuirá para a perpetuação do egoísmo e isso não é bondade, pois faz mal a quem recebe. Isto é vaidade: vontade de ser o melhor, o superior.
Assim fica claro que a generosidade, definitivamente, está mais comprometida com a vaidade do que o egoísmo. O egoísta, acostumado a sempre receber, acredita necessitar dessa generosidade. Já o generoso, nesse caso em específico, doa apenas para se destacar.