Genética determina 50% de chances de ser feliz. O que fazer com os outros 50%?

por Lilian Graziano

Se você é mulher*, já ganha, segundo a Ciência, uma "mãozinha" a mais pra ser feliz. A notícia não é nova: em agosto passado, cientistas norte-americanos descobriram que nas mulheres uma determinada combinação genética torna-as 50% mais propensas ao otimismo e, consequentemente, à felicidade. E essa combinação só funciona para elas, pois é bloqueada pela testosterona (hormônio masculino).

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Trata-se de um estudo sobre um gene chamado MAOA e sobre neurotransmissores ligados às emoções positivas. Na pesquisa, também foram considerados fatores como renda, condição social e QI, dentre outros a influenciar a felicidade, mas a base das investigações foi predominantemente biológica. O que a torna um bom exemplo para a discussão proposta hoje neste espaço.

O debate em questão passa pelo fato de que o resultado encontrado, embora importante, não quer dizer que as mulheres são sempre mais felizes que os homens. Isso porque a felicidade é uma equação complexa, do ponto de vista biológico**; e ainda se questiona o percentual de influência genética no bem-estar experimentado ao longo da vida em geral, independente de gênero. Assim como se discute a necessidade de estudos cada vez mais aprofundados sobre condições e instituições favoráveis à construção de sujeitos e sociedades mais felizes.

Hoje se fala em 50% de preponderância genética sobre a felicidade. Mas como explicar o grande número de pessoas cuja ascendência é a pior possível, mas que deixam esse índice "no chinelo", sendo evidente que elas são, em grande parte de suas conquistas, as grandes responsáveis pelo controle (e desenvolvimento) de suas emoções e atitudes? O determinismo biológico, não pode e não deve ser fator limitante da felicidade de ninguém. As possibilidades são milhares e milhares de ser feliz, tantas quantos são os neurônios capazes de alguma contribuição nesse sentido, o que depende predominantemente dos estímulos que eles recebem ao longo de sua existência, os quais constroem conexões mais ou menos orientadas aos sentimentos positivos.

Sendo assim, pergunto: o que você vai fazer com a outra parte dos 50% que lhe cabe na construção de sua felicidade? Ela depende do ambiente, mas também depende de seu "locus de controle". Essa expressão designa o quanto você acredita que o controle de sua vida deriva de agentes externos a você, sejam eles o marido, a família, o chefe, a sorte ou a qualquer outra instância além de si próprio.

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Em minha pesquisa de doutorado descobri que pessoas com locus externo apresentam menos possibilidades de serem felizes. O que ocorre, muito provavelmente, por serem pessoas que preferem ficar esperando até que os outros a façam felizes, ao invés de lutarem elas próprias para a conquista de sua felicidade. Mas, sim, as circunstâncias da nossa vida (tipo de chefe, emprego ou família que temos) também afetam a nossa felicidade. Porém com não mais do que míseros 10%, segundo apontam pesquisas.

Como o neuropsicólogo Rick Hanson e o neurologista Richard Mendius explicam em seu livro, O cérebro de Buda (Editora Alaúde), quando a mente se transforma, o cérebro também muda – e isso pode ocorrer em qualquer circunstância, basta que se defina como e que se trabalhe para tanto. Isso porque, segundo os autores, "… mesmo sentimentos e pensamentos passageiros podem deixar marcas permanentes no cérebro, como uma chuva de primavera deixa pequenas trilhas em uma encosta".

Fie-se na metáfora, sabendo que por trás dela há muita Ciência. Faça com que a chuva aqui, no caso, conduza ao florescimento de seu melhor "você", mesmo em solo pouco fértil – o "adubo" ou o "fermento" são de sua escolha e responsabilidade.
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*Antes que a ala feminina se anime demais, é sempre bom lembrar que as mulheres também são duas vezes mais propensas à depressão do que os homens. O que num primeiro momento pode parecer uma tremenda contradição, na verdade comprova o que há décadas a Ciência já sabe: sentimentos de prazer e desprazer não são simples opostos uns dos outros, de forma que a equação da felicidade é bem mais complexa** do que se costuma supor.