por Luís César Ebraico
Pouco terei a comentar sobre o diálogo que passarei a descrever, salvo para demonstrar meu estarrecimento.
Não me lembro de haver conhecido nenhuma criança de quem eu pensasse: “Esta não é apenas extraordinariamente inteligente, esta é um gênio!” Pois bem, Samanta me parece um gênio. E um gênio “na moita”. Quando, aos quatro anos, foi colocada na escola, a professora chamou a mãe e disse: “Sua filha parece que já sabe ler. Alguém a ensinou?” Ninguém havia ensinado. Aprendera a ler sozinha. Mas isso, evidentemente, é pouco. Vamos adiante.
Quando Samanta tinha onze anos, sua mãe comprou meu livro “A Nova Conversa” e, percebendo que a filha estava começando a folheá-lo, tirou-o da mão dela e disse que aquilo não era leitura para ela. Quando a mãe ia dormir, ela surrupiava o livro e devorava-o à noite, terminando-o em uma semana. Fossem as circunstâncias menos adversas, certamente teria terminado essa leitura em tempo recorde. Note-se que todas essas informações foram-me passadas por uma tia, Irene, que já havia lido meu livro e que, à época, morava na casa da mãe de Samanta, sua irmã, e com quem, a cada dia, a menina compartilhava o que havia descoberto em suas leituras da noite anterior.
Em pouco tempo, a menina estava começando a operar com conceitos que aprendeu. No livro, eu digo que entre os maus ouvintes está o “ávido”, aquele que quer ouvir mais do que o interlocutor quer falar. Logo a mãe teve que ouvir da filha: “Você está sendo ávida”! A mãe, naturalmente, desconfiou do que havia acontecido, mas aí era tarde demais…
Recentemente, soube por Irene – Samanta tem agora 14 anos – que se passou o seguinte diálogo entre ela e seu tio, Dimas, que estava querendo atrair a menina para não sei lá qual religião.
DIMAS: — Mas, então, você é atéia!?
SAMANTA: — Eu não sou atéia, eu sou agnóstica!
Chiquérrimo! A menina, com um termo que muito adulto alfabetizado não conhece – talvez mesmo nem o tio… – indicou com precisão e firmeza ao parente-apóstolo que ela não estava AFIRMANDO A INEXISTÊNCIA de Deus, estava fazendo uma SUSPENSÃO DE JUÍZO em relação à matéria! Continuemos:
DIMAS: — Mas é importante para as pessoas acreditar em Deus!
SAMANTA (firme): — É importante para quem não tem ética. Eu tenho ética. Não preciso me preocupar com Deus. Aliás, nem ele precisa se preocupar comigo.
Espero que Deus proteja a inteligência brilhante dessa menina dos ataques que um mundo bem menos inteligente do que ela certamente lhe irá fazer.
Estou brincando. Eu também sou agnóstico. Espero sim, agora sem brincadeiras, que o que ela aprendeu em meu livro lhe possa dar alguma proteção.