por Roberto Santos
Nesta entrevista exclusiva ao Vya Estelar, o experiente consultor de gestão pessoal Roberto Santos que assina esta coluna (Gestão Pessoal) e a coluna Cyber Carreira (clique aqui e leia) explica como fazer o uso adequado das redes sociais, quando o assunto é ingressar ou se recolocar no mercado de trabalho.
Vya Estelar – Rede social, principalmente o Facebook, seria um bom caminho para tentar ingressar ou se recolocar no trabalho?
Roberto Santos – As mídias sociais vieram para ficar. Com cerca de 145 milhões de usuários no Twitter, 200 milhões no Linked-In e impressionantes 800 milhões no Facebook, a influência dessas mídias em todas as esferas de nossas vidas é inegável e não apenas para quem é usuário. Indiretamente, ficamos sabendo de notícias por intermédio de amigos e familiares que são “viciados” em uma ou mais dessas mídias, ou em outras mais. Indiretamente, produtos e serviços que utilizamos são criticados nessas redes e provocam mudanças que geralmente nos beneficiam, pela força de milhares de comentários nas redes sociais.
A influência das mídias, sem dúvida, tem impacto no mundo do trabalho, e podem ajudar ou dificultar o ingresso ou a recolocação no mercado. Nossa reputação perante às pessoas com as quais nos relacionamos com frequência pode ser alterada numa direção sobre a qual não temos muito controle. As pessoas podem ter interpretações de nossas atitudes bem diferentes daquela que desejaríamos. Como dizia, Sartre, o filósofo francês do Existencialismo, “o Inferno são os outros”.
Esses outros que formam uma imagem sobre a nossa reputação profissional apenas baseados no que “postamos” no Linked-In, FB ou Twitter, podem se transformar no próprio demônio para nossa carreira – arrogantes, puxa-sacos, vazios em suas ideias, etc. são algumas impressões que aqueles outros podem ter sobre nós e, como disse Danuza Leão – “dificilmente temos uma segunda chance de causar uma primeira impressão.” E complemento, a primeira impressão idealizada por nós. Nossa identidade raramente bate com nossa reputação e aí reside o risco de nos apresentarmos nas redes sociais.
Vya Estelar – Quais seriam os prós e contras de se utilizar as redes sociais para esse objetivo?
Roberto Santos – Os benefícios de se utilizar as mídias sociais para apoiar não só o ingresso e recolocação no mercado de trabalho, mas também para alavancar um negócio, produto ou serviço de algum empreendimento próprio, incluem em primeiro lugar, o potencial de se atingir um público muito maior do que por meio de e-mails e outros meios tradicionais, como anúncios de jornal.
Claro que há certa relativização desse público que deve ser levada em conta, por exemplo, o Linked-In tem um foco muito mais profissional do que o Facebook. Pelo FB até podemos acessar colegas, empresários e “head-hunters”, dependendo da qualidade da nossa rede, mas poderá ser “poluído” por receitas de bolo, fotos dos cãezinhos de estimação ou a última excursão da turma de faculdade para Porto Seguro. Uma separação das mídias para uso pessoal e profissionais é interessante, mas não significa que não haja vasos comunicantes entre eles.
Com o tempo, as várias facetas de nosso perfil – do mundo real e virtual – se encontram e nossos “amiguinhos” dessas mídias podem descobrir algum Frankenstein ou um personagem “fake” que não resiste a um segundo capítulo da novela do emprego. Corolário a este benefício é a oportunidade de permitir uma atualização contínua de nosso currículo, o que seria muito difícil por outros meios.
Os malefícios têm muito a ver com o uso que se faz do FB ou outras mídias. Uma ferramenta de trabalho, como um alicate ou um Outlook, é tão boa quanto o uso que se faz dela. Como já escrevi na coluna de Gestão Pessoal do Vya Estelar, em um artigo sobre o uso de e-mails (“Não faça do seu e-mail uma arma, a vítima pode ser você.” – clique aqui e leia), a tecnologia moderna da Internet e mensagens enviadas pela web apenas aceleraram a comunicação – seja de boa ou de péssima qualidade, de boas ou malévolas intenções. Se não cuidamos da preparação da mensagem que vamos enviar por e-mail ou postar no FB, ela vai chegar “torta” e mais rapidamente a seu destinatário – incluindo àquele selecionador da empresa com a oportunidade mais almejada.
Cuidados com o português, se for seu idioma nativo e cuidado maior ainda se for usar um idioma estrangeiro, pois o cuidado com a linguagem escrita é o primeiro cartão de visitas, quando um estranho o/a está conhecendo apenas com base em suas palavras escritas. Nesta condição, não temos a mesma chance de nos explicarmos quando notamos uma cara de interrogação numa conversa frente a frente (mesmo que por Skype).
A multiplicidade de recursos e meios que usamos para nos apresentar ao mundo em geral e ao profissional em particular é cada vez maior – FB, Twitter, Linked-in, Orkut, Plaxo, Skype, etc. além de participação em associações profissionais ou de grupos de ex-funcionários ou alunos de diversas instituições e empresas e ainda, para alguns, a atuação como voluntário em projetos sociais, nos oferece uma excelente oportunidade de exposição que pode ser muito positiva para ampliarem nossas chances de ingresso ou recolocação no mercado de trabalho. Porém, se nos falta a integridade, não apenas aquela da ética e retidão de caráter, mas aquela “unidade” de valores e atitudes que nos marca como o DNA de nossas interações sociais, as mídias sociais podem acelerar nosso “descarrilamento” profissional.
Vya Estelar – Que erros devem ser evitados e que cuidados devo ter para colocar meu perfil profissional no Facebook?
Roberto Santos – Além de alguns cuidados a se tomar e mancadas a serem enviadas que estão implícitos naquilo que falei anteriormente, uma regra básica que procuro adotar em minhas publicações/posts nestas mídias que frequento, é a de não devemos escrever — postar ou tuitar – aquilo que não falaríamos em público e um público maior do que aquele que havíamos planejado, pois mesmo que as configurações de privacidade do FB restrinjam “apenas aos amigos” nunca garantimos que apenas esses terão acesso ao que comunicamos. Tudo que postamos são declarações públicas que revelam nossos pensamentos, nossos valores, nossos interesses, nossa personalidade e precisamos cuidar para minimizar os problemas inevitáveis de má interpretação. Uma forma de fazê-lo é o controle de nossa “incontinência digital” – aquela premência de dar o “enter” num e-mail escrito com raiva ou num post quando estamos com o estado etílico alterado.
Além da mancada do mau uso do idioma em nossas publicações, o uso de palavrões também pode ter espaço num papo no botequim, mas ficar registrado em nosso “mural”, pode fazer com que pessoas mais puritanas tirem conclusões “injustas” a nosso respeito, quando a culpa será toda nossa.
Outra “gafe de mídia social” é reclamar do trabalho ou de uma cidade para onde fomos transferidos, usando-a como um veículo para extravasar a insatisfação. Um superior da empresa, talvez aquele mesmo que se orgulha daquela cidadezinha do interior de Pernambuco para a qual você mudou, pode ter acesso a seu “post” e gerar uma reação em cadeia na empresa que passa a ser um fator negativo em sua avaliação, sem que você tenha a mínima ideia de sua origem. Quer falar mal da cidade, do chefe, do trabalho, dos colegas, ligue para aquele amigo confidente de total confiança e xingue com todos os piores nomes a fonte de sua infelicidade, mas FB pode ser usado para elogiar quem está lhe pagando sua remuneração, mas não para pixar.
Se alguns usam para denegrir a imagem de outros ou para reclamar, outros vão para outro extremo e procuram colecionar depoimentos – elogiosos, é claro – do maior número de colegas. Isto é muito comum no Linked-In. Já recebi pedidos de “avaliações” ou depoimentos sobre pessoas com as quais trabalhei por 6 meses, há 15 anos. Se espero uma reciprocidade, um puxa-saquismo, eu escrevo qualquer elogio vazio pra cumprir tabela ou para conseguir algo de superiores. Esta falsidade ou “marketing” barato também tem impacto limitado sobre a carreira e pode ser, justamente, para o lado negativo.
Finalmente, outra mancada, não limitada às mídias sociais, mas referente à “etiqueta do networking”, como também já abordei em outro texto do Vya Estelar (clique aqui e leia), é aquela solicitação de apoio, por meio de um contato telefônico ou uma reunião/almoço para tratarmos de algo de nosso interesse e depois se desmarca uma ou duas vezes, ou se esquece. Provavelmente, este contato de convivência em empresas, ou em mídias sociais será deletado com total convicção. Outro pecado é aquele cometido pela pessoa que conta com sua total atenção e dedicação de tempo importante em sua agenda quando a pessoa precisa. Depois, quando buscado para algum tipo de reciprocidade, ela desaparece como um OVNI de seu radar. Falo por experiência própria, essas pessoas gradualmente vão reduzindo sua rede de segurança para os momentos de perigo em suas transições de carreira.
Vya Estelar – Como as organizações têm avaliado essa redes sociais? Elas têm alguma influência em relação a admitir ou excluir alguém?
Roberto Santos – Especialmente mídias de cunho mais profissional como o Linked-In têm sido amplamente utilizadas e com sucesso pelas grandes empresas e consultorias de busca de profissionais. Seu uso só tende a ser ampliado e aprimorado e não há caminho de volta. Fazer parte desse mundo é imprescindível para quem pretende se manter conectado no mercado de trabalho global e ficar fora dele significa uma morte lenta nos planos de crescimento profissional.
Sem dúvida, por tudo que falei nas perguntas anteriores, as empresas cada vez mais, fazem sua “santa inquisição” via as mídias sociais, para complementar as tradicionais entrevistas de seleção e checagem de referências do tipo “não há nada que o/a desabone”. Aquele “post” ou aquela sua foto indiscreta dançando de cueca na festa da firma em foi “marcado” por alguém, poderá ser a mancha que desabonará sua reputação, talvez sem você saber. Curta e faça seus comentários no FB mas lembre-se ,não faça aquilo que não gostaria que fizessem com você ou que você não falaria na televisão no horário nobre.