por Jocelem Salgado
A balança e o Índice de Massa Corporal (IMC) já não são mais considerados as principais armas para identificar se uma pessoa está ou não acima do peso. Aos poucos, esses dois indicadores estão cedendo lugar à fita métrica, que tem como objetivo determinar o perímetro da cintura de homens e mulheres e avaliar a quantidade de gordura presente no abdome.
A gordura abdominal tem chamado atenção dos médicos e especialistas em obesidade, porque ela aumenta significativamente a chance de uma pessoa desenvolver diversos males, como o infarto, por exemplo. Diferente da gordura amarelada que existe sob a pele, a gordura abdominal é chamada de gordura marrom porque tem muitos vasos sangüíneos. Essa gordura provoca resistência à insulina, hormônio responsável pelo metabolismo da glicose, isto é, pela entrada do açúcar na célula. A resistência à insulina está associada a vários problemas, como aumento de trombos e lesão na parede dos vasos sangüíneos.
Estudos mostram que muitos casos de morte prematura estão relacionados ao acúmulo de gordura na cintura. O aumento desse tipo de gordura pode levar à coronariopatia, hipertensão, diabetes leve do tipo II e níveis mais altos de ácido úrico, geralmente sem incidência de gota. Todos esses males são características do que chamamos de “síndrome plurimetabólica”.
Estudo internacional aprova novo indicador
Um estudo publicado na revista "Circulation" que acaba de ser divulgado, concluiu que a gordura acumulada na cintura é um indicador clínico tão importante como o Índice de Massa Corporal (IMC), pressão arterial, glicemia e perfil lipídico, pois é capaz de identificar as pessoas que correm maior risco de sofrer doenças cardiovasculares e diabetes.
A pesquisa, a primeira desse tipo em escala internacional, avaliou a freqüência da obesidade abdominal em 170 mil pessoas de 63 países diferentes dos cinco continentes. Os médicos que conduziram o estudo concluíram que um perímetro grande de cintura está estreitamente relacionado com o risco de sofrer doenças cardiovasculares e diabetes, independentemente de outros indicadores clínicos, como o peso e a idade do paciente.
Diante desse achado, os autores do estudo recomendam que esse parâmetro apareça na história clínica dos pacientes por ser uma medida prática da obesidade abdominal e um bom indicador da adiposidade intra-abdominal. Contudo, a maioria das pessoas e até mesmo alguns médicos, não sabe que o aumento da medida da circunferência da cintura é um importante fator de risco para doenças crônicas.
Em julho, uma pesquisa realizada pela Shape of the Nations – com o apoio da Federação Mundial de Cardiologia (World Heart Federation – WHF) avaliou o grau de conhecimento de médicos e pacientes sobre a relação entre obesidade abdominal e problemas cardiovasculares. Mais de 16 mil pessoas de 27 países, inclusive o Brasil, participaram da pesquisa. O estudo revelou que a maioria da população parece estar mais focada no peso do que no excesso de gordura abdominal: no Brasil, 66% dos entrevistados revelaram controlar seu peso por meio de balança, comparados aos 6% que calculam seu IMC e a 1% que mede a circunferência abdominal.
A pesquisa também mostrou que a gordura abdominal é reconhecida por 58% dos médicos como fator de risco significativo para doença cardíaca. No entanto, 45% reportaram nunca ter medido circunferência da cintura de seus pacientes e 59% dos pacientes sob risco de doença cardíaca disseram que nunca foram informados por seus médicos sobre a relação entre gordura abdominal e aumento no risco de desenvolver doenças cardíacas.
Aprenda a medir a cintura e avalie o seu risco
Um levantamento feito pelo Projeto Corações do Brasil, coordenado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, com uma população de 1.239 pessoas, acima de18 anos, constatou que apenas 30% das mulheres e 55% dos homens estavam dentro dos parâmetros recomendados pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) para circunferência abdominal.
Para saber se você se encaixa dentro dos parâmetros internacionais recomendados, verifique com o auxílio de uma fita métrica a circunferência de sua cintura na altura do umbigo. Procure não apertar a fita, relaxe o abdômen e expire no momento de medir.
CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL
MEDIDAS DE RISCO
Homens: aumentado
– maior ou igual a 94 cm
Significantemente aumentado
– maior ou igual a 102 cm
Mulheres: aumentado
– maior ou igual 80 cm
Significamente aumentado
– maior ou igual a 88 cm
Dicas para o controle da gordura abdominal
Exercícios físicos e dietas equilibradas são considerados terapia de primeira escolha, podendo levar a uma redução expressiva da circunferência abdominal. Se você seguir os conselhos que daremos a seguir, em pouco tempo você perceberá os resultados.
1. Diga adeus ao sedentarismo: exercícios aeróbicos como caminhadas, natação, corrida, bicicleta, etc. ajudam no controle da gordura abdominal. Recomenda-se no mínimo 30 minutos diários desse tipo de atividade todos os dias. Essa prática é fundamental para quem deseja, por exemplo, eliminar a famosa “barriguinha de chope”;
2. Faça no mínimo 4 a 5 refeições diárias em horários fixos e com moderação; quanto mais fracionada a dieta, menor o número de calorias absorvidas. O tempo entre uma refeição e outra não deve ser menor que 2 horas nem maior do que quatro horas;
3. Coma devagar e mastigue bem os alimentos;
4. Aumente o consumo de frutas, verduras e grãos integrais, ricos em fibras;
5. Reduza o consumo de alimentos gordurosos, salgados e doces;
6. Modere o consumo de bebidas alcoólicas e abuse do consumo de água, pelo menos 8-10 copos por dia.
Pílula antibarriga – novidade da medicina
O rimonabanto – novo remédio aprovado pela Anvisa e que chegou recentemente ao Brasil, é uma nova arma dos especialistas para ajudar a reduzir a gordura abdominal. A droga age no sistema nervoso central, mais especificamente no hipotálamo, bloqueando a ação do sistema endocanabinóide (receptor que age em diversas partes do organismo, em especial no sistema nervoso central, e que regula o apetite). Com isso, ele diminui a circunferência abdominal, reduz os índices de triglicérides, promove uma melhora nas taxas de açúcar no sangue, auxiliando no controle do diabetes, além de aumentar o bom colesterol (HDL).
Contudo, como toda droga, existem os efeitos colaterais: náuseas e tontura são alguns deles. Além disso, a substância não deve ser utilizada sem acompanhamento médico, porque pode causar depressão e ansiedade no usuário. Esse problema é tão sério, que fez com que muitos médicos de outros países passassem a prescrever a droga com muita cautela. Atualmente ela é contra-indicada para pacientes em estados depressivos, com doenças psiquiátricas e síndrome do pânico, pois agrava ainda mais o problema.
De acordo com os especialistas, as pessoas com melhor perfil para a indicação do rimonabanto são pacientes obesos e com fatores de risco para doença cardiovascular como, por exemplo, aumento de colesterol, aumento de pressão arterial e da glicose. Para quem está acima do peso e não se encaixa nesse perfil, a mudança de estilo de vida continua sendo uma receita infalível e sem contraindicação.