por Renato Miranda
Nota-se perfeitamente que ao aproximar do início dos Jogos Olímpicos, atletas das mais diversas modalidades esportivas começam a vivenciar certa tensão em relação ao desempenho esperado e possíveis repercussões dos resultados.
Observa-se que assuntos relacionados às emoções e pensamentos sobre consequências de suas atuações ocupam consideravelmente espaços na vida dos atletas.
Motivação, concentração, estresse, ansiedade entre outros temas, são temas frequentes na rotina do atleta.
Em consequência, temos de um lado aqueles atletas que se sente preocupados, ansiosos, enfim demonstram tensão no período pré-competitivo. Do outro lado, há aqueles que desfrutam do momento e percebem que preparações transcorrem com naturalidade, suas ações para o desempenho parecem fluir e as tensões não são exacerbadas.
Quando o atleta percebe que tudo parece estar no controle e, portanto, vivencia fluidez em seus treinamentos e competição preparatória, significa que há um equilíbrio entre os desafios e suas plenas habilidades psicofísicas. Ou seja, harmonia entre os aspectos psicológicos (cognição e emoção), aspectos físicos (técnica, tática e preparação física) e as exigências e expectativas de desempenho.
Quando, no entanto, há dúvidas, incertezas demasiadas e demonstração de possíveis incapacidades (desempenhos abaixo do esperado, problemas físicos, emocionais e outros), ou até mesmo preocupação exagerada sem motivos aparentes, o atleta terá como consequência; muita tensão e insegurança.
Ao considerar o bom preparo esportivo para a devida adequação entre as habilidades e os desafios, aquilo que une o atleta ao estado de fluidez, é a percepção de divertimento que o mesmo tem ao enfrentar os desafios do esporte.
Quando me questionam como os atletas poderiam usufruir da fluidez diante desse importante desafio que são os Jogos Olímpicos, sigo as orientações da teoria da fluidez proposta por Mihaly Csikszentmihalyi.
Tal teoria preconiza que o atleta ao focalizar sua mente para a diversão do esporte tem condições de usufruir, da melhor maneira possível, do presente (ações!) e, por conseguinte, aquilo que estar por vir, ou seja, o futuro deixa de ser motivo para tensões.
Em outras palavras, reconhecimento, premiação, entrar para a história ou as possíveis decepções que o fracasso produz não têm espaço em sua mente, e com isso, o atleta disponibilizará toda sua energia (motivação) e controle (concentração) para a tarefa presente.
Se os atletas olímpicos lembrassem dos momentos de sua iniciação no esporte, perceberiam, como em um filme, que eles eram impulsionados a treinar com empenho, dedicação e sacrifícios por uma energia inconsciente que os faziam sentir parte de algo sem expectativas de recompensas. O simples fato de terem alegria, entusiasmo e aprender algo que pudessem controlar (habilidades) superava qualquer tipo de recompensa. Enfim, o que os impulsionavam predominantemente era uma motivação intrínseca.
Isso não quer dizer que o desejo de reconhecimento ou recompensa fosse absolutamente descartado, nada disso. Acontece que tais expectativas conscientes (ambientais ou extrínsecas), por mais importante que fossem, estavam em segundo plano. Em resumo, o prazer, a alegria e o envolvimento com aquilo que tem de ser feito, possivelmente já eram suficientes para esses atletas justificarem seus esforços.
Assim sendo, seria uma providência oportuna se atletas olímpicos, interpretassem os desafios do desempenho olímpico como algo que eles possam usufruir com alegria e prazer.
É óbvio que diante das repercussões, recompensas e tudo o mais que envolve a vida dos atletas olímpicos, não seja muito simples focalizar a mente para o prazer, a alegria e o envolvimento que o esporte pode oferecer.
Por outro lado, em um ambiente altamente competitivo, paradoxalmente aqueles atletas que vivenciam os desafios com alegria e prazer tendem a obter melhores resultados.
Os atletas que competem com humor e elegância, mesmo diante de grandes desafios, podem proporcionar momentos inesquecíveis de conquista que serão lembradas no futuro. E mesmo que a derrota aconteça, ao aceitá-la com elegância e com a certeza que seus esforços foram usufruídos ao máximo, haverá espaço para boas memórias.
Estar no "fio da navalha", entre o sucesso e o fracasso é o que faz o desempenho olímpico ser algo estimulante e admirável. Se os atletas estiverem com suas habilidades compatíveis com as exigências competitivas e não deixar que as tensões se tornem exacerbadas, eles estarão prontos para traduzirem a experiência olímpica como algo a ser desfrutado.
E as tensões? Ora, com treinamento e envolvimento, as habilidades aumentarão. Ao ter habilidades os atletas sentirão a força do controle. Ao controlar as diversas situações os atletas irão fluir e chegarão a seguinte conclusão: Sem as tensões o esporte não tem graça!