por Patricia Gebrim
Ontem estava um dia lindo. O Sol brilhava e o dia convidava qualquer pessoa a passear. Saí logo cedo, fui ao parque, andei por aquelas trilhas tão bonitas enquanto programava mentalmente o resto de meu dia. São tantas as possibilidades, em uma cidade como São Paulo…
Mas, estranhamente, quando fui para casa, com a intenção de tomar um banho, trocar de roupa e sair, algo em mim quis ficar. Foi quando percebi que estava precisando ficar comigo mesma por algum tempo. Sozinha. Em paz. Sem nenhum tipo de cobrança ou obrigação.
Muitas vezes não nos permitimos isso, nem mesmo em nosso tempo “livre”, como se tivéssemos que preencher tudo, sempre. Como se temêssemos o espaço vazio, a brancura da tela, a infinidade de possibilidades.
Passei em uma loja, comprei três enormes álbuns para colocar fotografias e fui para casa com saudade de mim. Subi em uma cadeira para alcançar aquela caixa preta que ficá lá em cima do armário… a caixa das fotografias! (Você tem uma caixa de fotografias?)
Abri a caixa há tanto esquecida e vi aquela bagunça lá dentro, todos aqueles pequenos álbuns que nos dão de brinde quando revelamos as fotos, recheados de fotos, alguns com os plastiquinhos rasgados… algumas fotos soltas, a minha vida toda embaralhada lá dentro.
Com uma paciência deliciosa comecei a separar as fotos por datas, a escolher quais delas iriam para meus recém-comprados álbuns oficiais feitos de papel reciclado (um charme!). O tempo passou depressa enquanto eu mergulhava naquelas imagens que contavam a sorridente história de minha vida.
Pensei: Por que será que só quando somos crianças é que nos permitimos também tirar fotos enquanto choramos?
Enfim, a tarde passou, a noite chegou, e eu lá, sozinha, sentada no chão da sala com fotos espalhadas por todos os lados.
À medida em que fui mergulhando nessa atividade, fui relembrando de tantos momentos especiais de minha vida. Lá estava a minha foto com aquele horroroso uniforme amarelo e marrom do colégio, e os professores, alguns temidos, alguns “um pouco” odiados (fazer o quê?), outros tão queridos. Lá estava o professor Waldemar. Ele gostava de entrar no meio da aula de outros professores e jogar uma questão no ar, ficávamos sempre alvoroçados!
Era assim, ele entrava e simplesmente dizia, como se fosse a coisa mais comum do mundo:
– Vocês sabem que daqui a alguns anos vai acontecer uma chuva de meteoros?
E todos os que estavam adormecidos acordavam, e todos queriam saber mais sobre o assunto, e lá que ia ele embora, sorrindo. Tinha conseguido o que queria. E ele nos queria acordados… não só fisicamente, queria nossas almas despertas!
Continuei vendo as fotos, e lá estavam meus avós, e antigos amigos, e lugares que visitei, e bichos de estimação… e algo em mim foi se abrindo. Parei um pouco para sentir o que era aquilo que estava acontecendo comigo… seria algum pó esquisito que brotava das fotos guardadas por tanto tempo? Estaria me afetando tanto assim?
Mas não era pó algum. O que eu sentia era algo lindo, que às vezes se torna raro em nossas vidas. O que eu estava sentindo era gratidão.
As fotos me deram isso de presente. Talvez porque faça parte de um álbum de fotografias mostrar os momentos de sorrisos de nossas vidas. E aí eu entendi… não precisamos de fotos para nos lembrar das tristezas e maus momentos, pois disso nos lembramos o tempo todo. Precisamos de fotos que nos lembrem que, a despeito das dificuldades que vivemos em cada etapa de nossas vidas, lá está também a possibilidade de sermos felizes.
Senti uma enorme gratidão, por meus pais, por tudo que já fizeram por mim, pelos queridos amigos de infância com quem tantas vezes compartilhei meus medos e incertezas, pelo professor Waldemar e tantos outros professores e mestres que tive na vida. Senti gratidão por cada sorriso, por cada lugar visitado. Magicamente, nessa simples atividade de colar fotografias em um álbum, me dei conta de quantos momentos belos já existiram na minha vida.
Já era noite quando terminei. Não consegui montar tudo muito perfeitamente, algumas fotos ficaram fora de ordem, mas estava lá… aquela deliciosa sequência de sorrisos que me encheu de saudade de tantas coisas e pessoas. E me fez pensar que neste exato momento a minha vida está acontecendo, e neste exato momento é preciso que eu reconheça o valor de cada troca, de cada momento feliz…
A gratidão abre o nosso coração, isso eu posso garantir, pois naquele momento, sentada no chão da sala, meu coração estava do tamanho do mundo, e assim eu o imaginei, abraçando o mundo inteiro, e agradeci à natureza por tantas belezas, às pessoas que existem em minha vida, e a você, que me permite escrever sobre tudo isso.
Gratidão é mesmo um ótimo remédio … eu recomendo!