por Grupo de Aprimoramento Junguiano sobre Questões Amorosas – Clínica Psicológica PUC/SP
A maternidade e a paternidade são vivências que transformam a identidade da mulher e do homem. Neste primeiro artigo, iremos discutir a repercussão desta questão na mulher; no segundo como a gravidez afeta o homem e no terceiro mostrando como a gravidez repercurte no casal..
Como a gravidez afeta a mulher
A gravidez é um momento de profundas transformações, tanto no nível orgânico para a mulher, quanto no emocional para o casal. Para a mulher, além do corpo se modificar para poder abarcar uma nova vida, o psiquismo também precisa de uma transformação, uma vez que uma nova identidade começa a surgir: a de mãe. Em função disso, muitas vezes a gravidez modifica o relacionamento do casal e a percepção que se têm do corpo, o que muitas vezes acaba interferindo, tanto positiva, quanto negativamente na sexualidade do casal.
Como já foi discutido em nossos artigos anteriores, há uma cisão entre a mulher "pura", "de família", "a santa"; e a mais atirada, aberta aos seus desejos, "a prostituta", como se não fosse possível a coexistência de ambas de forma integrada em uma mulher. Tal cisão é muito freqüente durante a gravidez, de forma que o sexo é extinto. Para muitas pessoas é como se a maternidade e a lactação representassem a completa cisão entre esses dois aspectos da mulher, de modo que o sexo passa a ser visto como sujo, feio e maléfico para o bebê.
Em muitos casos, a mulher sente dificuldade em aceitar as modificações corporais durante a gravidez, sentindo-se feia, gorda não atraente para o parceiro e, portanto, não disponível para o relacionamento sexual. Além disso, também é comum o medo de que a relação sexual possa atingir e machucar o feto, de forma que a cisão maternidade/sexualidade tende a permanecer e/ou aumentar.
Deméter e Afrodite
Podemos entender esta cisão a partir de duas deusas gregas: Deméter e Afrodite. As deusas gregas representam características arquetípicas, potencialidades presentes em todos os seres humanos, sejam homens ou mulheres. Deméter representa arquetipicamente o aspecto mais maternal, voltado ao cuidado, proteção, nutrição, negligenciando muitas vezes a si mesma, em função de ser tão voltada a sua prole. Por conta disso, pode-se dizer que tanto na fase pré-natal como natal, este arquétipo está bem ativado. Apesar disso, as outras deusas também estão presentes, mas muitas vezes numa intensidade menor.
Afrodite por sua vez é a deusa do amor, que representa a sensualidade, a sexualidade, o belo, o corpo, o prazer. Também esta voltada para a procriação, mas não como Deméter que é mais focada na gravidez em si e no seu fruto, representada pelo bebê, mas sim na relação sexual propriamente dita e no prazer que é proporcionado a partir dela. Afrodite, enquanto arquétipo, também esta presente na gestação, algumas vezes cindido (separação santa X prostituta), mas outras, ativado.
Muitas mulheres têm a primeira experiência de orgasmo durante a gestação
Podemos compreender isso de duas maneiras:
a) Isso ocorre, porque com a vivência da maternidade, as mulheres assumem uma postura adulta, e se permitem uma sexualidade adulta (podem sentir prazer)
b) O arquétipo de Afrodite foi ativado pela gravidez, de forma que a mulher possa se sentir a vontade com sua própria sexualidade. Contudo, podemos resumir estas duas maneiras em uma: é como se o contato com Afrodite se desse com a gestação, de forma que este arquétipo foi ativado em conjunto com o de Deméter, sinalizando a potencialidade de integração de aspectos aparentemente contraditórios.
Fontes
(1) BOLEN, Jean Shinoda. As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. Trad. Maria Lydia Remédio. São Paulo: Paulus, 1990.
(2) BROWN, Dan. O Código da Vinci. Trad. Celina Cavalcante. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
(3) JUNG, Carl Gustav. Memória, Sonhos e Reflexões. Trad. Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 22ª edição.
(4) MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da Gravidez: Parto e Puerpério. São Paulo: Saraiva, 1999.
(5) MOREIRA, Maria Ignes Costa. Gravidez e Identidade do Casal. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
(6) SOIFER, Raquel. Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. Trad. Ilka Valle de Carvalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1980.