Por Cybele Russi
Retomando o tema do namoro na adolescência, gostaria de me aprofundar na principal causa de preocupação dos pais com os namoros: a gravidez na adolescência. A grande maioria dos pais mal consegue reconhecer que esta é a causa principal de suas preocupações, mas quando observamos as diferenças de tratamento em relação aos filhos e às filhas que começam a namorar, logo isto fica claro.
Quando um menino de 13 anos aparece com uma namorada é elogiado e estimulado pelos pais. No entanto, o mesmo não se dá com a menina. Quando uma jovem de 13, 14 anos conta que está namorando faz os pais perderem o sono e muitas vezes até o fôlego.
A diferença de postura é perfeitamente compreensível na nossa sociedade ainda bastante machista. Se para o menino é uma forma de afirmação social, pois a partir daí ele passa a pertencer à categoria dos "machos"- e com toda certeza ele haverá de querer comprovar isto na prática – para as meninas, muito mais do que vivenciar uma nova fase na sua vida, é também motivo de medo e de risco. Se os meninos querem testar e pôr à prova sua natureza sexual, as meninas também o querem. E neste aspecto, ambos são idênticos em seus desejos e necessidades de afirmação e de confirmação. Ocorre, entretanto, que suas naturezas biológicas são diferentes: meninas engravidam, meninos não. Este é o ponto. Um deslize ou uma bobeada do jovem casal apaixonado pode trazer para ela, principalmente, conseqüências que terão repercussão para o resto de sua vida. Uma gravidez na adolescência, por mais lindo que possa parecer aos olhos dos mais românticos, muda completamente o roteiro de vida da mulher.
Espantosamente, por mais esclarecidos que sejam sobre os riscos de uma gravidez, e ainda que conheçam todos os métodos contraceptivos existentes, a gravidez na adolescência, principalmente na faixa dos 13 aos 17 anos continua acontecendo de forma impensável para os dias atuais, quando não faltam informações a respeito.
Pensamento mágico
A resposta para tal fato talvez possa ser encontrada naquilo que chamamos de "pensamento mágico". Como dissemos no artigo anterior "…Os sentimentos afloram em todo o seu esplendor. Toda a delicadeza da alma transparece em cada detalhe. É o momento do sonho, da fantasia, da alegria suprema, da felicidade, dos sentimentos exacerbados, das grandes paixões (…) Somos super. Super-homens e supermulheres. Nossos pés não têm asas, mas nossa imaginação voa, nossa fantasia atravessa os mundos…" E assim como as crianças, que acreditam poder voar só amarrando uma toalha ao pescoço, ou calçando botas de plástico, os adolescentes também se acreditam superpoderosos e superprotegidos por alguma força do bem, que vai livrá-los de todo mal e de qualquer perigo. A esta maneira de raciocinar dá-se o nome de "pensamento mágico", que não é nada mais nada menos do que acreditar que se pode mudar a realidade só através do pensamento, porque funciona como mágica mesmo. Este tipo de raciocínio é típico das crianças e muito comum em adultos não amadurecidos.
Como o adolescente está numa fase de transição entre a vida infantil e a vida adulta, seu comportamento ainda é oscilante. Mesmo sendo extremamente responsável e amadurecido em alguns momentos, em outros apresenta atitudes, posturas e comportamentos típicos de criança – como no caso do pensamento mágico. É nessas horas que os "deslizes" ou "bobagens" acontecem, quando o lado infantil toma conta do adulto. E é por ter plena consciência dessas oscilações, que os pais têm motivos de sobra para viverem preocupados, pois nunca se sabe quando a criança "vai atacar novamente de super-herói".
Não é preciso ser adivinho para saber que a criança ataca sempre nas horas mais emocionantes, quando o lado racional está desatento ou adormecido. E é nessa hora que pinta uma gravidez "totalmente inexplicável". Ninguém, realmente ninguém sabe explicar como "aquilo" aconteceu. E o pior é que não sabe mesmo. Foi culpa da criança que atacou de super-herói e acreditou que nada, nada mesmo fosse acontecer. Isto é ser adolescente. É ser metade adulto e metade criança. Quando o adulto age é fantástico, mas quando a criança entra em cena, quase sempre é desastroso e tudo pode acontecer…
E se o pai é do tipo linha-dura/pai bravo/conservador? Aí o bicho pega e a casa cai. Muitas vezes, por medo de dar a notícia aos pais, numa atitude desesperada e, por que não dizer, desastrada, acabam procurando uma clínica para fazer um aborto às escondidas. Então, começa uma seqüência de atitudes desastrosas que se sucedem.
Encaremos os fatos: todos os adolescentes são passíveis de atitudes imaturas e desajuizadas, não só os filhos dos outros, mas os nossos também. O que nos resta fazer é acolher e amparar a filha e seu bebê e dar o máximo de apoio possível, pois, ainda que não confesse, ela se sente amedrontada, assustada e insegura com a nova situação. Como ser mãe no auge da adolescência, quando tudo o que se queria era um pouco de diversão, de sonho e de romantismo? E a vida, que mal começou, como fica agora com um bebê para criar? Se ela é rica, ótimo, os avós tratam de contratar uma babá e tudo continua igual, com as baladas e os embalos dos sábados à noite como sempre foram. Se ela é "remediada", muitas coisas vão mudar, uma delas, provavelmente, é ter que adiar os sonhos de estudar, de fazer faculdade, de ter uma carreira. Se ela é pobre, aí então, a vida muda mesmo, por completo, pois se já era dura só com ela, com um bebê será ainda mais difícil.
O jovem pai, de 15, 16, 17 anos, o quê pode fazer, além de ficar igualmente assustado e paralisado? Alguns tendem a fugir, outros passam a bola para os próprios pais e outros, numa demonstração de maturidade precoce, casam-se com a menina, assumindo uma responsabilidade para a qual não estão prontos.
É por todas estas razões que os limites são tão importantes nessa fase da vida, pois é neles que o adolescente se segura na hora do escorregão. Limites são corrimãos onde nos seguramos para não escorregar. É claro que ninguém está livre de cair, mas com um corrimão por perto fica mais difícil.
Por isso, mais do que nunca filhos adolescentes exigem pais presentes, atentos, observadores, amigos, bons de diálogo, para que a criança que vive no adolescente possa ir se retirando de mansinho, sem traumas e sem dores.