por Luís César Ebraico
Mergulhando meus leitores, com estes escritos, em um ambiente loganalítico (psicanalítico), arrisco fazê-los esquecer que, em determinadas circunstâncias de nossas vidas, a questão central são as próprias OCORRÊNCIAS com que nos defrontamos e, não, seu PROCESSAMENTO psicológico, cujo objetivo precípuo é evitar que nossas vivências internas se tornem traumáticas, produzindo doença psicológica. Um e-mail que recebi recentemente ilustra bem isso. Passo a transcrevê-lo :
“Numa escola pública, estava ocorrendo uma situação inusitada: uma turma de meninas de 12 anos que usava batom todos os dias removia o excesso beijando o espelho do banheiro. O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final de cada dia. Mas – como sempre! – na tarde seguinte, lá estavam as marcas de batom.
Cansou-se a chamar a atenção delas por quase dois meses, e nada mudou: todo dia, a mesma coisa.
Tomou, portanto, uma decisão. Um dia, juntou-se no banheiro com o bando de pestinhas e o zelador, descrevendo pacientemente como era trabalhoso limpar todo dia todas aquelas marcas de batom que elas faziam no espelho.
Depois de laboriosa explicação – a que elas escutaram com cara de deboche – o diretor resolveu demonstrar concretamente o que tinha sido exposto em discurso e pediu ao zelador que demonstrasse às meninas ''a dificuldade do trabalho''.
O zelador – óbvio que previamente instruído – imediatamente pegou um pano, molhou NO VASO SANITÁRIO e passou no espelho.
As marcas de batom desapareceram dali!”
Há problemas que demandam solução PRÁTICA IMEDIATA e, nem sempre a solução para eles pode ser loganalítica.
Lembro-me de ter sido procurado para tratamento, apenas DOIS MESES ANTES de um concurso para um serviço público que particularmente a interessava e que era raramente realizado, por uma advogada de seus trinta anos com fobia de exames. Traduzindo: precisava de uma SOLUÇÃO PRÁTICA IMEDIATA para sua fobia. Não me pareceu prático que inciasse um tratamento loganalítico. Aconselhei-a, portanto: primeiro, a procurar um ALÍVIO SINTOMÁTICO de sua fobia mediante HIPNOSE e, após ter feito o concurso, tendo passado ou não, procurar-me para podermos diagnosticar e tratar dos elementos de sua personalidade que estavam na raiz de seu sintoma – queixa e de outros que, certamente presentes, estariam naquele momento com sua importância eclipsada pela iminência do concurso.
Acho que aplicar modelo idêntico à situação escolar descrita seria provavelmente o ideal. Prestemos atenção a um detalhe: a mensagem que me chegou por e-mail não menciona simplesmente “uma escola”, menciona “uma escola PÚBLICA”.
Ora, nossa experiência no Brasil mostra que, entre os que servem o público, o “servidor PÚBLICO” é o que mais o DESRESPEITA e menos o serve. Não seriam as marcas de baton no espelho apenas um protesto transverso de alunas que sabiam não serem levadas a sério se protestasse pelas vias “legais”? Fosse assim, o que me parece bem possível, além de empregar uma PRIVADA, que resolveu O SINTOMA, seria interessante que o corpo administrativo e o docente empregassem uma comunicação de tipo loganalítico para curarem A DOENÇA.