por Ceres Araujo
Mudanças importantes na sociedade com forte repercussão na família têm ocorrido. Uma delas é o home office. O home office, ou o trabalho à distância, em geral, é uma tendência irreversível, fato que tem sido demonstrado por vários profissionais da área de Administração de Empresas.
Em artigo publicado em um jornal paulistano de grande circulação, Sérgio Amad Costa, professor da Fundação Getúlio Vargas, mostra as razões sobre por que essa modalidade de trabalho veio para ficar, e são basicamente duas: uma é a econômica e a outra é a tecnológica. A primeira diz respeito ao fato de que estudos mostram que várias empresas têm uma ociosidade muito grande na utilização de seus imóveis. O home office ajuda as empresas a reduzir gastos com espaços.
Além disso, a economia é gerada também quanto ao deslocamento do profissional da casa para o trabalho e do trabalho para casa.
A outra razão que faz com que o home office seja uma tendência irreversível é a tecnológica. Cada vez mais o desenvolvimento da tecnologia da comunicação possibilita que as atividades presenciais sejam substituídas pelas virtuais. A utilização do Skype, das câmaras de telepresença para videoconferência, parecem já fazer parte do cotidiano no mundo corporativo. E, em um futuro próximo, os hologramas estarão disponíveis nessa comunicação.
Pois bem, já que o home office veio para ficar, vale verificar suas repercurssões no âmbito da família. Muitos pais hoje, no Brasil, já trabalham na forma de home office. E os que têm filho em casa, principalmente até 9 anos de idade, e trabalham à distância, precisam estar atentos a algumas questões culturais, para serem bem-sucedidos nessa modalidade de trabalho.
Uma consideração comportamental está relacionada com o trabalho em casa e a atenção dedicada aos filhos. Não raro se escuta que o sonho de consumo das profissionais, que são mães, é poder trabalhar na forma de home office, pois assim poderiam cuidar melhor de seus filhos. Trata-se de uma generalização equivocada. O sonho de muitas mães, que são profissionais, e que têm filhos ainda crianças, é ver seu filho enquanto trabalham, em um ótimo berçário, em uma excelente creche ou escola.
Para trabalhar em casa, cuidando de filhos ainda crianças, é preciso muita disciplina para conseguir educar seu filho adequadamente e trabalhar ao mesmo tempo. Com o pai ou a mãe em casa, a tendência da criança é solicitá-los a todo instante. Faz-se necessário, e não é tarefa fácil, saber separar a hora de atender a criança e o momento de não atender. Pois, caso contrário, o trabalho que está sendo realizado não será produtivo e o filho ou filha receberá uma educação inadequada. Toda criança precisa de limites e ela pode e necessita aprender a lidar com a frustração de não ser atendida vinte e quatro dias por dia pelos pais, com o ganho de aprender a se entreter consigo mesma. Caso tal limite não seja colocado, o filho não crescerá como uma pessoa que entende com facilidade os limites que a sociedade impõe para todos nós no convívio social.
A dificuldade de ter esse tipo de disciplina, ou seja, de saber os momentos de dar atenção e os de não dar atenção aos filhos, é que tem levado muitos pais que trabalham em esquema de home office a procurarem espaços alternativos para trabalhar. Não é por acaso que está crescendo o número de coworking nas grandes cidades. Isto é, ao invés de trabalharem em casa, alugam um espaço nesses escritórios coletivos para poderem trabalhar sem a interferência das solicitações de seus filhos.
Ora, o caminho mais correto seria fazer as crianças compreenderem que durante o dia seu pai ou sua mãe ou ambos têm uma jornada de trabalho a ser cumprida, portanto, haverá momentos que eles poderão ser interrompidos e outros momentos que não. Não é tarefa fácil, mas ela precisa ser encarada de frente.
Faz-se necessário também que os pais estabeleçam um local específico para realizar suas tarefas de home office. Um espaço da casa onde seja o local de trabalho, com uma pequena mesa. Esse espaço deve ser apenas para trabalho e as crianças devem estar cientes disso. Lembro isso por vários motivos. Um é que ter um local específico para trabalhar ajuda na própria produtividade no sentido de não perder tempo em procurar as coisas que são necessárias para o trabalho. Além disso, ajuda na concentração para a realização das tarefas.
Outro motivo está ligado à delimitação do espaço da casa para as crianças. Ou seja, há quem considere que tanto faz trabalhar no sofá da sala, ou na mesa de jantar etc. Não é bem assim. Esses locais devem ser de livre uso para todos que moram na casa. E fica difícil para as crianças entenderem porque não podem estar no sofá ou na mesa de jantar quando seus pais estão ali trabalhando.
O que foi dito em relação aos filhos pode ser generalizado aos outros membros da família e também às pessoas que prestam serviços domésticos em casa. A não interrupção da atividade de trabalho da pessoa que está em home office significa respeito a ela e compreensão do valor da atividade profissional.
Um outro cuidado que é preciso levar em conta para que o trabalho em home office seja bem-sucedido, está ligado ao convívio social. É importante que os profissionais, trabalhando em casa, desenvolvam uma atividade com outras pessoas, para conversar, encontrar gente. Um fator não mensurável que contribui na queda da produtividade, é o isolamento, que constante, poderá acarretar sintomas de depressão, por exemplo. Vale lembrar que o convívio social presencial faz parte da natureza do ser humano.
Finalmente lembro aqui os cuidados com a alimentação. Trabalhar em casa gera oportunidades de livre acesso às geladeiras. Não raro, o trabalho que está sendo desenvolvido pode ser gerador de ansiedade. E é comum para tentar diminuir a ansiedade a busca de guloseimas. Portanto, é preciso cuidados com a alimentação, caso contrário, facilmente o profissional em casa terá um desequilíbrio nutricional.
Sempre cumpre afirmar que os pais são os modelos de identidade para os filhos. O trabalho bem-sucedido dignifica a imagem da pessoa e a possibilidade de se trabalhar em home office pode ser considerada um considerável benefício para o profissional e para sua família.