por Patricia Gebrim
Homens em crise: estou envelhecendo, e agora?
– Homem maduro sim, mas com alma de menino!
É o que ele adora dizer. Roupa estudada nos detalhes, costeleta aparada, carrão esportivo na garagem, carteira recheada mas pequena (não cai bem andar com um tijolo no bolso, assim lhe disse seu sobrinho).
Antes de sair dá uma olhada para ver qual é o restaurante da moda ou o lugar mais badalado. Algum tempo depois está em um lugar cheio de gente, todo mundo fazendo um ar meio blasé. Copo na mão, olhos nas saias que mais parecem minibabadores, conversa superficial, afinal mal se pode ouvir a voz de alguém num lugar assim. De certa forma fica mais fácil não ter que travar uma conversa mais profunda, não correr o risco de ouvir alguém se queixar ou falar de coisas ruins. O lema é divertir-se, afinal.
As horas passam. Talvez volte sozinho e um tanto embriagado para casa. Talvez volte acompanhado por uma daquelas meninas que parecem ter saído de uma máquina de produzir minibabadores brilhantes em série. Talvez até duas, que pareçam gêmeas. Aliás, talvez sejam mesmo gêmeas, mas o que importa isso? Amanhã mal se lembrará. Noite após noite, o mesmo ritual acompanhado da satisfação que sente ao acreditar que algum cara casado, em algum lugar do planeta, deva estar morto de inveja da sua intensa vida social.
O tempo vai passando, os cabelos caindo, os minibabadores se tornam uma rotina tão evidente que já nem o fazem babar. Na verdade a boca anda seca e amarga. O frio chegou com força e às vezes – que seus amigos não o ouçam – sente falta de algo, de ouvir uma voz conhecida, de um cafuné feito de levinho na cabeça (mal admite para si mesmo), de uma vida mais simples, de se sentir amado de verdade por alguém. Talvez não queira se casar, talvez não queira aquela vida tradicional de dividir o espaço com outro alguém, mas secretamente deseja, sim, alguém de carne e osso, de preferência imperfeito, alguém que o ajude a encontrar em si mesmo algum sentido que faça a vida parecer mais do que um comercial de televisão.
Aí vem o grande desafio.
– Será que essa pessoa existe? E será que se interessaria por mim? Como lidar com alguém real depois de tanto tempo desfilando ao lado de microssaias, talvez tão ou mais angustiadas do que eu?
As respostas para essas perguntas me vem fácil.
– Sim, pessoas reais existem. E não, elas não se interessarão por essa pessoa que você criou e que acredita ser seu eu!
Pessoas reais buscam seres reais. Assim, se você chegou a esse ponto da sua vida em que tudo se tornou absolutamente tedioso, pare um pouco, retire-se do burburinho com gosto de colarinho de cerveja, olhe com atenção ao seu redor, para cada pessoa, cada detalhe, olhe de verdade e com os olhos abertos para a vida que criou e tenha a coragem de perguntar a si mesmo se é isso mesmo que quer. É preciso muita coragem para se fazer uma pergunta assim quando metade da sua vida já desfilou diante de seus olhos, eu sei. Mas faça a pergunta, e se você achar que está tendo a vida que escolheu ter, então ok, sem problema algum, apenas siga em frente e " viva os babadores brilhantes!"
Mas se de repente tudo parecer meio sem sentido, comprometa-se, do fundo da sua alma, com a tarefa de reencontrar a si mesmo. Volte-se para dentro. Seja corajoso, abandone a máscara e entre, de cabeça erguida, naquele espaço vazio do qual você tem tentado escapar preenchendo-o com tantas coisas supérfluas. Vá em busca de si mesmo! Do brilho real.
Não importa o que você tenha feito da sua vida, existe agora mesmo dentro de você alguém querendo se libertar. Uma parte mais sábia de você. Uma espécie de GPS anímico que contém informações e direcionamentos. Talvez você ainda não o conheça bem. Talvez não confie nele, talvez tenha medo de seguir a direção indicada por ele, mas ainda assim essa parte sua continua lá, repousando, à espera de ser libertada, seu eu real e verdadeiro, aquele que sabe exatamente o que quer, aquele que é capaz de, dia após dia, despertar com um brilho nos olhos, o brilho que só existe nos olhos de quem encontrou um sentido para a sua vida. Nada está perdido. Tudo pode mudar, sempre, essa é a premissa dessa aventura chamada vida.
Acredite, apenas encontrando o que é mais belo em você é que você será capaz de encontrar uma pessoa real, de carne e osso, que reflita de volta toda essa beleza.
Cada um de nós é o artífice de sua própria vida. Tome em suas mãos o que só pode pertencer a você.
Ainda há tempo.
Mas não há tempo a perder.