Içami Tiba ensina como educar os filhos

por Ângelo Medina

Não existe manual para educar bem os filhos e, principalmente, cada filho é único. O que serve para o mais velho, provavelmente não servirá para o do meio ou para o caçula. Mas o que os pais realmente desejam, é que seus filhos sejam felizes. E para isto existe um alicerce, que começa, bem lá…, na infância: o de criar uma boa autoestima para os filhos. É aí que reside a base da felicidade e o caminho para se ter autonomia na vida.

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Nesta entrevista ao Vya Estelar, o escritor e psiquiatra Içami Tiba autor do livro Quem ama educa (Gente) diz que a autoestima é a base da boa educação para os filhos. Ele apresenta os dez elementos da autoestima, seis dicas para saber se o seu filho está 'viciado' em vídeogames e os cinco passos do atendimento integral à criança. Içami fala também sobre namoro, sexo, mesada, dever de casa, drogas, imposição de limites…

Vya Estelar – O que é na prática educar bem um filho?

Içami Tiba – Dar boa educação é essencialmente criar nos filhos autoestima. A autoestima começa a se desenvolver numa pessoa quando ela ainda é um bebê, sendo amada e bem cuidada. Para que a criança se sinta amada, é necessário que a acima de tudo seja respeitada. 

Respeitar os filhos significa:

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Aceitá-los como são, mesmo que não correspondam às expectativas dos pais.

Não os julgar por suas atitudes. Crianças erram muito, pois é assim que aprendem. Mães e pais podem julgar as atitudes mas não os filhos. Se a atitude foi egoísta, o que deve ser mostrado é o egoísmo e não dizendo: "você é egoísta".

O respeito à criança lhe ensina que ela é amada não pelo que faz ou tem, mas pelo simples fato de existir. Sentindo-se amada ela se sentirá segura para realizar os seus próprios desejos.

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Portanto deixá-la tentar, errar sem ser julgada, ter seu próprio ritmo, descobrir coisas, permite à criança perceber que consegue realizar suas conquistas. Assim a criança vai desenvolvendo sua autoestima, grande responsável por seu crescimento interno, e fortalecendo-se para ser feliz, mesmo que tenha de enfrentar contrariedades.

A autoestima se desenvolve conforme a pessoa se sente segura e capaz de realizar seus desejos e futuramente suas tarefas. 

Os dez elementos da autoestima

Amor
– Carinho
– Respeito
– Tolerância
– Solidariedade
– Cidadania.
– Exigir dos filhos: reciprocidade
– Disciplina
– Religiosidade
– Reforçar a ética e a preservação da Terra

É sobre a autoestima que repousa a alma, e nesta paz que reside a felicidade.

Vya Estelar – Como fica a relação da escola com a autoestima?

Içami Tiba – Se a mãe e o pai querem que os filhos se saiam bem na escola, é essencial que estimulem a criança e o adolescente a tirar bom proveito do estudo feito em casa. Uma dica importante é não estimular a decoreba em que o aluno apenas repete a matéria, sem refletir sobre o seu conteúdo. Com isso ele não sabe utilizar as informações em outros contextos, porque não a absorveu como conhecimento.

Em vez de estabelecer horários para a criança estudar ou controlar seu estudo, peçam a ela que lhes dê uma aula sobre o que estudou com as próprias palavras. Se tiver aprendido mesmo, ela saberá transmitir seus conhecimentos. Fazê-las estudar primeiro o que têm dificuldade, porque o que elas têm facilidade, estudam a qualquer hora.

Vya Estelar – Os pais devem ajudar os filhos a fazer o dever de casa?

Içami Tiba – Ele tem dificuldade de pintar? Não importa. Deixe seu filho levar um trabalho ruim para a escola. Se ele consegue fazer um risco na orelha do gato, fica tão realizado que se estimula a dar o próximo passo.

Ao fazer o desenho, além de não ajudar, a mãe prejudica a autoestima do filho. Ao comparar o seu desenho com o da mãe o filho pode se sentir diminuído.

Caso deseje ensinar, deve fazê-lo em outra folha, a da escola é da responsabilidade da criança.

Vya Estelar – Como fica a questão de impor limites aos filhos?

Içami Tiba– Quando proibirem alguma coisa ao filho, encontrem outras para que ele possa fazer. A simples proibição é paralisante.

Vya Estelar – Ao impor limites como os pais sabem se estão passando da conta?

Içami Tiba – Ser liberal demais cria folgados e ser exigente demais estimula sufocados. Essa medida varia conforme a capacidade de compreensão e execução de cada filho. Quando a repressão é mais forte do que a vontade saudável do filho de querer fazer, significa que a medida está ultrapassada.

Vya Estelar – Devo dar uns tapas pedagógicos no meu filho?

Içami Tiba – Nunca se deve dar tapas nos filhos, mesmo que sejam pedagógicos.  

Vya Estelar – O que fazer então?

Içami Tiba – Gritando ou batendo, perde-se a autoridade da ética e a força da razão. Expliquem os motivos da proibição e do "não" e sugiram formas de aproveitar aquela energia que seria gasta de maneira inadequada em outra atividade permitida. A todo "não", deve se seguir um "sim" em outra direção. O "não" deve ser dito com firmeza e convicção pois a falta de convicção predispõe à desobediência. Diga o "não"
principalmente quando houver necessidade e não por impaciência, desinteresse…

Vya Estelar – Os pais devem educar os filhos da mesma maneira?

Içami Tiba – Mesmo nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, os filhos nunca são iguais porque a disponibilidade do casal e a disposição da família são diferentes conforme a idade e a etapa da vida. Logo, cada um dos filhos deve ser tratado como se fosse único. Nunca compare um filho com o outro ou com qualquer pessoa. Cada um tem o privilégio de possuir identidade própria.

Vya Estelar – De que forma os pais geram insegurança na criança?

Içami Tiba – A afobação e a reação exagerada dos pais geram insegurança na criança. Quando a criança cai, os adultos não precisam sair correndo para socorrê-la, a menos que se machuque seriamente. Por estranhar a situação, a criança pode chorar sem nem mesmo estar sentindo dor.

Vya Estelar – Como os pais devem atender os filhos no sentido de lhes dar uma educação integral? 

Os cinco passos para o atendimento integral à criança são:

Parem o que estiverem fazendo e limpem a cabeça de pensamentos preconcebidos, como se fossem atender o filho pela primeira vez.

Ouçam até o fim a fala do filho.

Olhem: o olhar é instintivo e capta tudo instantaneamente.

Pensem na melhor resposta pata atender as necessidades e alimentar a independência e a autoestima.

Ajam conforme a linha educativa que pretendam adotar.

Estes cincos passos têm importância na formação da autoestima da criança.

Vya Estelar – Como fazer para que para que os meus filhos sejam felizes?

Içami Tiba – Os pais podem dar alegria, conforto, satisfação e roupas da moda para os filhos, mas não podem lhes dar felicidade. O que os pais podem fazer é alimentar a autoestima dos filhos que é a base da felicidade.

Felicidade não é fazer tudo que se tem vontade, mas ficar feliz com o que se está fazendo.

Vya Estelar – A mesada colabora na educação?

Içami Tiba – Crianças que aprendem a administrar bem a mesada tendem a ter melhor qualidade de vida no futuro que aquelas que gastam mais do que podem.

A mesada deve se destinar aos gastos do dia-a-dia da criança. É para supérfluos como figurinhas, adesivos, canetinhas coloridas e etc… O dinheiro da mesada não deve cobrir despesas essenciais como mensalidade escolar e roupas.

O dinheiro do lanche escolar, se a criança não gastar toda a quantia que recebeu, o troco fica para o dia seguinte ou é devolvido. Aprendendo a devolver, ela absorve o sentido de propriedade: "Este dinheiro não é meu, é dos meus pais".

Vya Estelar – Como lidar com os vídeogames?

Içami Tiba – Cuidado com o vício. Os excessos no uso do vídeogames têm os seguintes sintomas  

Seis dicas para saber se o seu filho está 'viciado' em vídeogames

É difícil parar de jogar.
Qualquer tempinho que sobra ele começa a jogar só um pouquinho.
Atrapalha as atividades familiares de convivência: papos, saídas, jantares…
Fica sem tempo de fazer os deveres escolares.
Avança no horário de deitar e apresenta dificuldade de acordar.
Há brigas porque invadiu o horário de outros jogarem.

Vya Estelar – E os vIdeogames violentos incitam a violência?

Içami Tiba– Esta questão é polêmica. Existe uma corrente que diz que sim, afirmando que jovens que brincaram com vídeogames violentos na infância, se tornaram mais violentos que os que não brincaram. E outra corrente diz que não, porque o cérebro 'sabe' que está simplesmente assistindo e não interagindo física e emocionalmente com os vídeogames violentos. Acho que nem oito nem oitenta.

Os vídeogames violentos podem predispor a violência àquelas personalidades ou os que vivem em ambientes favoráveis ao seu crescimento. Há pessoas que nascem mais agressivas que outras. Estas quando crescem em ambientes violentos, podem tornar-se mais violentas que outras. Então esses games podem agravar a situação.

Se possível tanto o vídeogame como a televisão, adiem o máximo que puder. É assustador ver crianças pequenas, de fraldão, tentando imitar o rebolado das dançarinas. Muito cuidado também com o uso da televisão como babá eletrônica.

Vya Estelar – Qual é o caminho para afastar os filhos das drogas?

Içami Tiba – A melhor prevenção é dar uma formação ao filho para que tenha força de enfrentar as mais diversas situações ao longo da vida. Os jovens em grande maioria consomem drogas devido ao despreparo para viver. Entre as dicas mostrar que liberdade tem limite, arcar com as conseqüências dos seus atos, os pais não fazerem o que é da obrigação dos filhos, pois quem sabe fazer, aprende fazendo.