por Aurea Afonso Caetano
Este final de semana aconteceu em Buenos Aires o VII Congresso Latino Americano de Psicologia Analítica.
Para levar adiante as ideias de Jung, o CLAPA (Comitê Latino Americano de Psicologia Analítica) tem organizado a cada três anos um encontro junguiano entre os analistas latino-americanos. Entre os dias 3 e 7 de junho reuniram-se cerca de 400 junguianos, entre eles também alguns analistas ingleses, suíços e norte-americanos.
“Conflito e Criatividade, Pontes e Fronteiras Arquetípicas” foi o tema do congresso que teve mais de 100 diferentes apresentações entre mesas-redondas, workshops e tertúlias (reuniões). Vários livros de autores junguianos e revistas de sociedades junguianas foram lançados durante o evento.
A atualidade do tema levou a muitas e diferentes apresentações mostrando a pujança do legado de Jung entre nós.
Há um grande desejo entre os psicólogos de orientação junguiana a trabalhar para a ampliação do alcance da teoria analítica. Percebemos quanto as ideias de Jung são atuais e importantes para compreender as dificuldades atravessadas por nossa sociedade contemporânea.
O conceito de sombra e seu reflexo nos relacionamentos
Uma das muitas ideias que foram amplamente discutidas foi a importância do cuidado com o que chamamos de sombra e a necessidade de uma abordagem mais fraterna, menos defendida (não ficar tão na defensiva e dar um espaço para o outro) em relação a nossos companheiros de vida. A sombra é compreendida (grosso modo) na teoria analítica de Jung como tudo aquilo que não reconhecemos em nós, mas que nos pertence; tem esse nome por conta da ideia de que o que está na sombra não tem luz e portanto não pode ser visto com a consciência. O que não é percebido pode ser facilmente projetado em outras pessoas, outras culturas; isto é, em uma aproximação simples: vejo no outro aquilo que não reconheço como meu. Isso pois é muito difícil aceitar aspectos negativos, mas é muito fácil projetá-los e vê-los no outro ou nos outros.
Muitas dos problemas de relacionamento passam por estas questões, brigamos e discutimos por conta de dificuldades nossas que não reconhecemos e atribuímos a nosso interlocutor. Então, por exemplo, é comum dizer que o outro é autoritário e violento sem perceber como minha comunicação é autoritária e violenta e como é difícil para mim dar a ele um espaço. Um olhar fraterno, através do qual possa ver o outro sem minhas projeções e defesas, tende a ser um bom início de caminho na resolução desses conflitos.
Essa não deveria ser uma panaceia, mas uma verdadeira atitude diante da vida: colocar-me em primeiro lugar não em importância mas em responsabilidade. Posso sempre ter um olhar mais amplo e cuidadoso em relação ao outro com quem me relaciono, essa atitude com certeza, fará com que também ele sinta-se mais acolhido e cuidado e tornará a vida mais simples e verdadeira.