por Aurea Caetano
 
Sonhos já foram chamados de “a janela da alma” e é mais ou menos desta forma que nos relacionamos com eles em nosso trabalho cotidiano como analistas. Sonhos nos ajudam a compreender melhor os conteúdos psíquicos de nossos pacientes, eles acentuam, mostram e dizem aquilo que não estamos “vendo”, o que precisamos compreender e ainda quais os caminhos a seguir.

Diz Jung: “Preferi, antes, concentrar-me nas associações com o próprio sonho, convencido de que o sonho expressaria o que de específico o inconsciente estivesse tentando dizer”.  Afirma assim um modo fundamental de trabalho com o material onírico: sonhos dizem o que querem dizer, da maneira como podem fazê-lo. O trabalho com sonhos com nossos pacientes é entrar em contato com esse material, ampliando e compreendendo cada vez mais os símbolos que surgem e sua relação com o processo daquela pessoa naquele momento de vida específico.

Exemplo: uma mulher precisa tomar uma decisão a respeito de sua carreira. Sente-se capaz e competente, mas ao mesmo tempo preterida em seu trabalho. Não consegue desenvolver suas qualidades de forma a alcançar o sucesso que almeja.    

Ela sonha que está sendo seguida de perto por uma imensa cobra verde e, apesar de não ter medo dela, não consegue sair daquele espaço circunscrito. Algo a impede de continuar caminhando.

A imagem que o sonho traz é tradução da sensação que se vive. Não consegue caminhar, não consegue sair do lugar e o que a impede no sonho é uma cobra verde. O que é essa cobra para ela, como se relaciona com cobras em geral, tem alguma vivência específica com esse animal, algum medo, passou por algo? A mulher diz que não se lembra de nada muito especial em relação a cobras e conta que a associação mais direta e “boba” que tinha era a cobra como a serpente que provocou a saída de Adão e Eva do paraíso, no mito bíblico.

Um dos conteúdos aos quais chegamos a partir dessa associação foi o medo do desenvolvimento e da saída do paraíso com o consequente protagonismo que isso provocaria. Estaria ela, de fato, sentindo-se pronta para o crescimento que o sucesso provocaria?  Ou estaria vivendo, de forma inconsciente, a culpa por esse progresso?

Importante lembrar que para a paciente em questão, esta é a associação escolhida para o símbolo que aparece em seu sonho. E, como sabemos mais do que abordar os aspectos universais das imagens que surgem, é importante levar em conta o significado para o sonhador.

Para cada um de nós, em cada momento de vida, um símbolo do inconsciente pode estar nos dizendo algo diferente. Importante em nosso trabalho é poder “circum ambular” dar a volta ao símbolo, conhecer quais as associações que a pessoa em questão tem acerca dos conteúdos que surgiram e assim ajudá-la a ampliar o conhecimento acerca de si mesma.

Dessa forma, seu arsenal de instrumentos crescerá, e ela terá cada vez mais possibilidades de cuidar de si de uma forma mais própria e adequada, podendo expressar cada vez mais seu verdadeiro ser, trilhando o melhor caminho possível para seu desejado desenvolvimento.