Por Ricardo Arida
A dança é uma atividade prazerosa e cativante que envolve a ativação motora, cognitiva, visuoespacial, social e emocional.
Estudos têm mostrado que a dança é um excelente modelo para investigar como o cérebro integra o movimento e o som, assim como a experiência motora se desenvolve quando associada à criatividade artística, o desempenho e a destreza. A dança integra várias funções cerebrais, como aquelas relacionadas à cinestesia (percepção do próprio movimento corporal), musicalidade (interpretação do som) e emoção (a extensão em que a música e o movimento são expressos). Ainda, pode ser considerada uma grande ferramenta para o estudo da neuroplasticidade (saiba mais) e a interação entre o cérebro e o comportamento (Karpati et al. 2015).
Atualmente, existe um crescente interesse na dança como uma intervenção terapêutica para várias doenças do sistema nervoso, como distúrbios do desenvolvimento (Lifshitz-Vahav et al., 2016), transtorno de humor (Meekums et al., 2015), distúrbios neuromotores (doença de Parkinson) (McNeely et al. , 2015) e também na prevenção e redução dos sintomas da demência (Adam et al., 2016).
O modo como a dança afeta o cérebro é fascinante, embora ainda existe muitas perguntas que permanecem sem resposta. Nesse sentido, um crescente número de estudos tem investagado como a dança interefere na saúde cerebral.
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo e da Universidade Federal de Sergipe publicaram recentemente uma revisão sistemática abordando este assunto, em revista internacional de grande impacto na área científica: Neurosci Biobehav Rev. 2019 Jan;96:232-240. Dance for neuroplasticity: A descriptive systematic review. Teixeira-Machado L, Arida RM, de Jesus Mari J.. Este estudo mostra como a dança induz neuroplasticidade, isto é, como a prática da dança pode alterar (1) o volume e estrutura de regiões cerebrais (2) a função cerebral, (3) o ajuste psicomotor e (4) os fatores neurotróficos – saiba mais.
A neuroplasticidade ou plasticidade neuronal, refere-se as alterações do sistema nervoso, tanto estruturais como funcionais, frente a diferentes estímulos, que podem ser intrínsecos (internos) ou extrínsecos (externos) ou como resultado de lesões que afetam o ambiente neural. Portanto, a plasticidade pode ser considerada positiva (melhora das conexões entre neurônios e consequentemente com melhora do aprendizado e memória) ou negativa (perda de células do sistema nervoso em consequência de doenças neurodegenerativas ou transtornos mentais). Dos vários estímulos externos, a atividade física tem sido considerada em exercer um papel importante neste contexto.
Muitos estudos tem se concentrado em programas de exercícios físicos para melhorar a neuroplasticidade. A literatura científica mostra que diferentes tipos de exercícios fisicos ou atividades esportivas influenciam positivamente a plasticidade cerebral. A dança é uma intervenção não farmacológica e de baixo custo, que pode ser realizada de maneira fácil e eficaz. Este estudo de revisão conduzido por * Teixeira-Machado e colaboradores apresenta evidências de que os programas de dança podem induzir uma expressiva plasticidade cerebral, tanto na estrutura como na função do cérebro. Os programas de dança mostraram uma melhora em vários aspectos da cognição, como memória e atenção, melhorando o aprendizado motor, orientação espacial, coordenação, equilíbrio, assim como uma redução do declínio cognitivo em idosos.
Como sugerido por trabalhos anteriores (Kattenstroth et al. 2013, Müller et al., 2017), a combinação de exercício físico e enriquecimento sensorial durante a dança, assim como a integração de informações sensoriais e controle motor, pode ser uma vantagem em relação aos programas de exercícios físicos convencionais.
Apesar deste estudo salientar que a dança pode ser uma intervenção promissora para induzir uma melhora em vários aspectos da neuroplasticidade em pessoas idosas, mais investigações devem ser conduzidas para verificar se estas alterações cerebrais são também observadas em populações mais jovens e em diferentes condições neurológicas.
Referências Bibliográficas
* Teixeira-Machado L, Arida RM, de Jesus Mari J. Dance for neuroplasticity: A descriptive systematic review. Neurosci Biobehav Rev. 2019 Jan;96:232-240.
Karpati FJ, Giacosa, C, Foster, NE, Penhune VB, Hyde KL. Dance and the brain: a review. Ann. N. Y. Acad. Sci. 2015; 1337, 140–146.
Lifshitz-Vahav H, Shnitzer S2, Mashal N. Participation in recreation and cognitive activities as a predictor of cognitive performance of adults with/without Down syndrome. Aging Ment Health. 2016;20(9):955-64.
Meekums B, Karkou V, Nelson EA. Dance movement therapy for depression. Cochrane Database Syst Rev. 2015; 19;(2):CD009895
McNeely ME, Duncan RP, Earhart GM. A comparison of dance interventions in people with Parkinson disease and older adults. Maturitas. 2015;81(1):10-6.
Adam D, Ramli A, Shahar S. Effectiveness of a Combined Dance and Relaxation Intervention on Reducing Anxiety and Depression and Improving Quality of Life among the Cognitively Impaired Elderly. Sultan Qaboos Univ Med J. 2016;16(1):e47-53.
Kattenstroth JC, Kalisch T, Holt S, Tegenthoff M, Dinse HR. Six months of dance intervention enhances postural, sensorimotor, and cognitive performance in elderly without affecting cardio-respiratory functions. Front. Aging Neurosci. 20135, 5.
Müller P, Rehfeld K, Schmicker M, Hökelmann A, Dordevic M, Lessmann V, Brigadski, T, Kaufmann J., et al., 2017. Evolution of neuroplasticity in response to physical activity in old age: the case of dancing. Front. Aging Neurosci. 9, 56.