por Elisandra Sé
É fato que estamos vivendo em um mundo mais velho, embora em muitos países ainda predomine a cultura de que a população é majoritariamente jovem. A longevidade, a expectativa de vida, o controle de *morbimortalidade é uma conquista do século XX, mas um grande desafio para os próximos séculos.
Nos EUA e em muitos outros países, as populações envelhecerão a taxas rápidas nas próximas décadas. Já dissemos aqui, que o envelhecimento da população resulta de uma vida mais longa, menor fertilidade e distribuições de idade iniciais. O aumento da expectativa de vida aumentou anos de vida, não só na velhice, mas também nas idades atuais de 20 a 65 anos. Em 2050, o número de idosos no mundo vai ser equivalente ao de jovens, e é preciso que as sociedades se preparem para essa mudança.
O idoso de 2050 não é uma abstração, ele é o jovem de hoje. A expectativa de vida em 2050 será de 82,2 anos. A geração que atualmente está próxima da aposentadoria, os chamados baby boomers, nascidos depois da II Guerra, talvez mude a forma como concebemos o processo de envelhecimento e velhice.
Uma resposta natural ao prolongamento da vida pode ser uma extensão paralela da vida profissional. No entanto, grande parte do envelhecimento da população é devido à baixa fertilidade e distribuições de idade herdadas, incluindo o enorme baby boom nos Estados Unidos (EUA).
A fertilidade nos EUA em 2012 foi de 2,0 a 2,1 nascimentos por mulher nas últimas décadas. No Brasil não é diferente, a taxa de fertilidade também diminuiu nos últimos anos. A maioria das nações tiveram fertilidade substancialmente menor, com média de 1,4 a 1,5.
O aumento passado da parcela da população de idosos tem sido acompanhado por um notável aumento no consumo por parte dos idosos em comparação com o consumo de adultos mais jovens. A proporção de consumo no início dos anos 80 para o início dos anos 2000 dobrou aproximadamente entre 1960 e 2007, aumentando o custo do envelhecimento demográfico passado e futuro.
O impacto macroeconómico do envelhecimento da população, baseia-se nos perfis de idade de consumo e renda do trabalho em um período base. O Relatório de Economia e Demografia dos Estados Unidos projeta que haverá um declínio de do consumo de 12% entre 2010 e 2050, ou seja, 3% ao ano. Devido ao envelhecimento da população, o consumo aumentará 3% mais lentamente do que o contrário. Isso exigiria um aumento na fertilidade de cada ano ou um aumento da **imigração líquida de quase um milhão de pessoas a cada ano.
Quanto à área da saúde o envelhecimento da população, isso tem implicações muito diferentes dependendo se os idosos são em grande parte vigorosos e independentes ou se são frágeis, deficientes e com necessidade de cuidados.
O aumento da expectativa de vida tem implicações muito diferentes, dependendo da qualidade dos anos adicionais. De fato, a incapacidade aumenta fortemente com a idade, mas nas idades mais velhas ela declinou de forma constante nos anos 80 e 90. A deficiência está fortemente inversamente associada com o nível de educação e a maior escolaridade de *** coortes mais recentes de idosos que tem contribuído para a tendência decrescente da deficiência. Aumento da saúde e capacidade funcional nas gerações mais velhas têm levado a expressões tais como: "os 70 são os novos 60". De fato, a saúde autorrelatada de homens de 60 anos na década de 1970 foi aproximadamente a mesma que a de 69 anos na década de 2000.
Umas séries de estudos descobriram que esta tendência favorável para os idosos parou em torno de 2000, exceto aqueles com mais de 85 anos. Além disso, em alguns estudos, os idosos na faixa etária entre 40-60 anos têm apresentados importantes fatores de riscos para as doenças crônicas, devido ao diabetes e à obesidade. Portanto, as doenças crônicas são muito preocupantes à medida que a população envelhece.
Sobre a capacidade funcional e laboral até 2050, será preciso o fornecimento de mão-de-obra com base em mudanças projetadas de idade, raça/etnia e educação em relação a medidas de saúde como obesidade, câncer, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral e maiores e menores deficiências. A conclusão é que haveria pouca mudança na proporção da população de 20 a 74 anos que poderia hipoteticamente fornecer trabalho entre 2010 e 2050.
À luz das tendências discutidas acima, o Comité sugere que a idade 60 anos nos países em desenvolvimento e 65 nos países desenvolvidos é um limite obsoleto para definir a velhice. As medidas alternativas podem ser baseadas no estado funcional (Sanderson e Scherbov, 2010).
Envelhecimento e força de trabalho
Com relação ao envelhecimento e força de trabalho, as consequências macroeconômicas do envelhecimento da população dependerão, em parte, do tempo que as pessoas escolherem para trabalhar no futuro. Mais oferta de mão-de-obra em idades mais antigas significaria menos lazer para os idosos. No entanto, também significaria que menos recursos teriam de ser transferidos para os idosos por trabalhadores mais jovens e que os trabalhadores mais velhos pagariam impostos que ajudariam a pagar os custos mais elevados para a Segurança Social e Saúde.
A literatura aponta que a taxa de crescimento da mão-de-obra variará entre 0,5 e 6% por ano até 2050, muito abaixo dos 60 anos anteriores. A média de idade da população ativa aumentou de 35 em 1980 para 40 em 2010 e as projeções indicam que ela aumentará para 42 em 2040, enquanto a percentagem de trabalhadores em idade ativa (25-54) diminuirá de 66% em 2010 para 61% em 2050. A proporção de trabalhadores mais velhos (mais de 55 anos) será mais do que o dobro, passando de 12% em 1990 para 24% em 2020 e 27% em 2050.
Embora a população e a mão-de-obra envelheçam, enquanto os problemas de saúde e incapacidade funcional só aumentam com a idade, a capacidade de trabalho da população entre 20 e 74 anos mal mudará nos próximos 40 anos. Uma característica marcante é que haverá um aumento da oferta de trabalho pra as pessoas idosas. Isso impactará na aposentadoria. Os idosos ativos tomariam os lugares dos jovens em alguns postos de trabalho? Sob condições de alto desemprego em um período de crise econômica, isso pode acontecer, mas em longo prazo a economia tem demonstrado sua capacidade de absorver dezenas de milhões de novas trabalhadoras e trabalhadores imigrantes sem causar desemprego.
Existem várias alternativas que facilitariam o trabalho em longo prazo. A flexibilização das horas de trabalho e a concessão de uma pensão gradual permitirão aos trabalhadores mais velhos continuarem a trabalhar. A reciclagem e a educação continuada de trabalhadores mais velhos podem ser úteis, mas a eficácia desses programas infelizmente ainda é desconhecida.
* Morbimortalidade é um conceito complexo que provém da ciência médica e que combina dois subconceitos como a morbilidade e a mortalidade. Podemos começar explicando que a morbilidade é a presença de um determinado tipo de doença em uma população. A mortalidade, por sua vez, é a estatística sobre as mortes em uma população. Assim, ambos os subconceitos podem ser entendidos com a ideia de morbimortalidade, mais específica, significa em outras palavras, aquelas doenças causadas de morte em determinadas populações, espaços e tempos. Fonte: queconceito
** Imigração líquida: excesso de pessoas que entram no país
*** Coortes: grupo de pessoas que compartilham uma característica ou experiência comum.