por Aurea Afonso Caetano
Nosso olhar racional, mecanicista, causal trabalha com a ideia básica de progressão. Acreditamos em um movimento de desenvolvimento individual, no qual o que não caminhar “para a frente” é considerado inadequado.
Paralizações, passos para trás, pequenos desvios são considerados processos negativos que devem ser superados de forma rápida para que o movimento adequado seja novamente instaurado.
Vivemos em constante cobrança. Devemos estar sempre em ordem, funcionando bem, trabalhando bem, com boas relações afetivas com tudo “em cima”. Não há espaço para o inadequado, para o passo em falso.
Somos inundados diariamente com receitas sobre como viver melhor, como comer melhor, como estar em forma, com o peso adequado, com a aparência adequada e a roupa da moda. Como não sucumbir aos imperativos sociais?
Esta outra grande tarefa. Parece não haver saída!
Difícil sermos seres sociais e ao mesmo tempo individuais. Corremos contra o tempo que, aliás, passa cada vez mais rápido. Também… com a quantidade de coisas a alcançar, de tarefas a resolver, de dados a absorver, não há como não se sentir atrasado.
Quanto mais atrasados mais ansiosos, quanto mais ansiosos mais difícil dar conta das tarefas. Mas, como discriminar o que é realmente importante, o que é um problema a ser resolvido ou apenas uma preocupação. “A cada dia basta o seu cuidado”, já disse Cristo no célebre Sermão da Montanha.
Essa parece uma tarefa impossível para nós, comuns mortais. Precisamos aprender a dar um passo de cada vez e aguentar a insegurança de trilhar um caminho que às vezes não nos parece assim tão “progressivo”. E, de forma paradoxal, esse aprendizado também não deixa de ser mais uma tarefa a ser alcançada.
Como resolver esse paradoxo? Muitas vezes uma crença religiosa ou uma filiação partidária funcionam como norteadores para a resolução desse paradoxo. Tiramos de nós mesmos a responsabilidade pelas escolhas que fazemos e as colocamos em uma instituição maior. O que acontecer comigo não será apenas problema meu, mas algo que aconteceu porque um deus ou um partido assim quiseram. Forma mais simples e primitiva de dar conta de nossas dúvidas e indagações: o outro ou os outros são os responsáveis pelos caminhos que trilhamos.
Jung chamava atenção para a necessidade de desenvolver um ego, centro da consciência, forte e ao mesmo tempo flexível, que possa funcionar como eixo, na relação entre os conteúdos da consciência e aqueles do inconsciente. Sem um ego não há um ser em exercício, só há inconsciente. Tarefa do ser humano desenvolver-se e ampliar seu funcionamento e, esta ampliação não será jamais um único movimento à frente para todo o sempre. Desenvolver-se quer dizer antes de tudo poder ir e vir, crescer seja lá para onde for ou… em direção ao que for o verdadeiro ser, seja lá o que signifique isso.
Até a próxima.