Por Oscar D’Ambrosio
A impermanência é uma presença constante em nossa vida. Percebê-la, porém, é um desafio. Uma forma de lidar com essa complexa questão está em assistir ao filme ‘Impermanência’ (Impermanence – 2018), do diretor chinês Zeng Zeng.
Três personagens protagonizam histórias em que decisões passadas afeitas momentos presentes. Mas tudo pode mudar a qualquer momento.
Na cidade chinesa de Huinan, essas narrativas se cruzam e se afastam. O mote inicial está no fato de um monge deixar um saco de dinheiro num hotel decadente. O casal proprietário entra então em atrito. O que fazer? Gastar ou tentar devolver? A esposa prefere ficar com o dinheiro e se salvar da própria situação econômica frágil. O marido discorda. Porém, ela morre. E ressurge como fantasma a assombrar o ex-companheiro.
E a situação se torna ainda mais complexa… Há um pai que abandonara a mãe grávida de um filho seu e verifica que aquela criança, agora homem feito, como se dizia antigamente, está fazendo o mesmo, ou seja, sumindo da existência da moça com a qual gerou uma vida.
O cenário de um rio, cruzado lentamente por uma embarcação e de uma estrada chuvosa reforçam esse sentimento de que a vida é uma tomada de decisões permanente – e que, para cada ação, há uma reação. O pensamento oriental permeia esse cruzamento de fábulas que nos obriga a parar para repensar o significado de nossa, muitas vezes torpe, existência.
Fonte: Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.